Login do usuário

Aramis

Aqui, Jazz (I)

[texto ilegível] MULLIGAN Infelizmente, a CBS não tem sabido aproveitar o excelente acervo jazzístico que dispõe, mesmo tendo entre seus contratados no Brasil, o radialista e jazzofilo Paulo Santos, um dos grandes conhecedores da matéria em nosso país. Só eventualmente a CBS faz lançamentos do gênero - e esperamos que, agora, motivada pelo Festival, ela descarregue alguns novos discos de Miles Davis, Mulligan, Brubeck e tantos outros de seus contratados. Por ocasião da recente excursão que o saxofonista Gerry Mulligan fez ao Brasil, a CBS montou um lp especialmente para ser vendido durante os concertos - mas que agora está nas lojas (CBS 13785). Extraído dos muitos discos de Mulligan, neste lp, por certo orientado por Paulo Santos, que assina texto na contracapa, estão Standars como "As Catch Can", "Jumping Bean", "Blue boy", do próprio Mulligan - ao lado de temas de Hart/Rodgers. ("My Funny Valentine"), Bernstein ("Lonely Town") e Cole Porter ("Get Out Of Town"). Preferimos, pessoalmente, o piano acústico, mas não se pode negar os tecladistas, que executam piano elétrico, órgão e vários outros instrumentos - agrupados na denominação de "keyboards". Isaac Hayes, 36 anos, que em 1972 ganhou o Oscar com a eletrizante música que fez para o filme "Shaft", integra a nova geração de instrumentistas que procuraram romper as fronteiras do jazz, acrescentando elementos do oul e do rock. Dois exemplos de trabalhos de haues estão na praça: "Hotbed" (Six/Fantasy/Top Tap, ST 4102) e "New Horizon" (Polydor/Phonogram 2391313). Afora tecladista de méritos, Isaac é também compositor e, principalmente cantor, criando sempre um clima quente e forte, definido pelo disc-review Luís Augusto Xavier de "realidade sensual muito agradável". Em "Hotbed" há muitos destaques - inclusive dos jovens (e desconhecidos) instrumentistas arregimentados por Hayes para amparar seus arranjos de temas como "Feel like makin'love" (Eugene McDaniels), com 13 minutos de duração. Uma formação instrumental diversa está em "New Horizon", apenas cinco faixas, quatro das quais de autoria de hayes: "Don't Take Your Love Away", "Out Of The Ghetto", It's Heavem To Me" e "Moonlight Lovin" (ou "Menage A Troi") O . Em ambos os discos, Isaac mostra vigor e sensualidade em suas músicas - que podem ser curtidas mesmo em ritmo de discotheque. Como Sérgio Mendes, Eumir Deodato (Rio, 22/6/1942) mora há mais de 10 anos Estados Unidos, depois de ter surgido no movimento da Bossa Nova. Talentoso e criativo, enriqueceu e se tornou um nome famoso internacionalmente. Seus harmoniosos e coloridos arranjos que fez para "Assim Falava Zaratrusta" (Richard Strauss), "Raphsody In Blue" (George Gershwin) e "Pavama" (Maurice Ravel) ajudaram a aumentar ainda mais a sua conta bancária - embora provocando polêmica nos meios musicais. Anualmente, Deodato faz uma média de dois discos por ano, que se não pode classificar de jazzísticos, podem entretanto serem ouvidos com atenção, por demonstrarem grande competência técnica. "Love Island" (Warner/WEA, 36.058, julho/78) é um exemplo da fase mais recente de Deodato como compositor e intérprete. Com diferentes formações instrumentais alternando-se em cada faixa, [quase] sempre com músicos ainda poucos conhecidos, apresenta seis novas composições: "Área Code 808", "Whistle Bump", "Tahiti Hut" (parceria com Maurice White), "San Juan Sunset", "Love Island", e "Piña Colada". Apenas duas faixas de outros autores "Chariot Of The Gods" "Edwin Starr e Don Mancha) e o clássico "Take The A Train" que Billy Strayhorn (1915-1967) compôs em 1941 e que se tornou o prefixo da orquestra de Duke Ellington (1896-1971) por 30 anos, a tal ponto que muitos julgam ser do velho "Duke" essa música, já merecedora de tantas - e diversas - gravações. QUINCY JONES - Compositor, maestro, arranjador, pianista e mesmo tecladista, Quincy (Delight Junior) Jones, nascido em Chicago, a 14 de março de 1933, é um músico múltiplo que nos últimos anos tem sido absorvido pelo cinema, como premiado autor de trilhas sonoras ("Os Novos Centuriões", "The Anderson Tap", "Bob & Carol & Ted & Alice, "O Homem do Prego", "Ouro de MacKenna", "No Calor da Noite", etc.). Mas mesmo afastado de uma atuação mais direta como instrumentista de jazz, mereceu ser incluído na coleção "Reflection" (Phonogram/Fontana, 1977), com um lp intitulado "The Giant Of Jazz". Nesta coleção, que misturou músicos e grupos pop - Rod Stewart, Buddy Miles, Nazareth, Black Sabata, Ekseption, Genesis, Quincy e a cantora Nina Simone, foram os únicos destaques jazzísticos. De diferentes elepês gravados por Quincy Jones, entre 1963/72, foram selecionadas as 12 ótimas faixas deste lp, onde se destacam "Comin'Home Baby", "Blues In The Night", "Take Five", "Exodus" e duas maravilhosas composições de autores brasileiros: "Desafinado" (Tom/Mendonça) e "The Gentle Rain" (Luís Bonfá). RAULZINHO A programação do quarto dia do 1º Festival Internacional do Jazz (dia 14, quinta-feira) será aberto pelo trombonista brasileiro Raul de Souza, há 6 anos radicado nos Estados Unidos, junto com o seu grupo, acrescido de outro histórico trombonista, o americano Frank Rosolino (Detroit, 20/08/1926). Raulzinho, é bom lembrar, como sargento-músico da Escola de Oficiais Especialistas e Guardas, morou em Curitiba, entre os anos 1957/63, quando tocava além da banda militar, também na orquestra de Osval e em grupos que se apresentavam nas boites King's e Tropical (no Passeio Público), na mesma época em que o um percussionista chamado Airto Guimorvan Moreira começava a aparecer. Depois Raulzinho foi para São Paulo, integrou o grupo de Roberto Carlos (RC-/), viajou, chegou a ser convidado para trabalhar com o pianista Friedrich Guida, até se fixar nos EUA, no início desta década, com ajuda de seus amigos Airto e Flora Purin, que produziram seu primeiro lp, "Colours". Hoje já consagrado como um dos melhores trombonistas de vara nos EUA, Raulzinho acaba de fazer o seu terceiro lp solo, "Mercy". Enquanto o primeiro e o último lps de Raulzinho continuam inéditos no Brasil, aparece o segundo disco-solo ("Sweet Lucy", Emi/Capitol/Odeon), produção do tecladista George Duke, que por sinal o acompanhará também no Festival de São Paulo. Além de produtor e arranjador, Duke é autor de duas das melhores faixas deste lp: "Sweet Lucy" e "Wires". Do próprio Raul, temos "Wild And Shy", "At Will" e "Botton Heat"; de João Donato, a "Banana Tree", de Lennie Liston Smith, "A Song Of Love" e por último a enternecedora "Canção do Nosso Amor" (Silveiro/Medeiros), que, em 1962, foi gravada no primeiro lp do Tamba Trio. IDRIS MUHAMMAD é o nome muçulmano que Leo Morris (New Orleans, 1939) adotou há alguns anos, após uma viagem de seis meses a Índia. Filho de um tocador de banjo, irmão de baterista, aos 10 anos, Idris - na época ainda se chamava Leo Morris - começou a tocar um instrumento, no caso uma guitarra. Como guitarrista, trabalhou com Joe Jones e Dee Clarck, até chegar a Nova Iorque, no início dos anos 60. Passando depois para a percussão, integrou as bandas de dois musicais de sucesso na Broadway, entre 1968/72 - "Hair" e "Indians". Após esta experiência viajou à Índia e na volta foi trabalhar com Émerson Lake & Palmer e, posteriormente, com a cantora Roberta Flack. Só em 1974 passou a fazer seus lps com Greed Taylor e agora, já na Kudu Records, temos a chance de conhecer um de seus mais recentes trabalhos "Boggie To The Top" (Kudu/Continental, 3-43-404-005, julho/78). Amparado num grupo que merece a classificação "da pesada", Idris Muhammad, como cantor e baterista apresenta um repertório conciso, de grande força, com faixas longuíssimas, como "Boogie To The Top", com onze minutos, e "One With A Star", de 7'54. No grupo que o acompanha, o destaque vai para o flautista Jeremy Steig, que meses atrás andou pelo Brasil, trabalhando com Victor Assis Brasil e que quase esteve em Curitiba, fazendo um concerto no Guaíra. AS CANTORAS - Etta James, uma das emergentes cantoras da corrente gospel, é a única grande vocalista programada para o Festival de Jazz, em São Paulo: deverá se apresentar no dia 12, junto com Al Jarreau, que na definição de Tarik de Souza "pratica um soft soul com pitadas de bossa nova". Aproveitando, logicamente, a evidência que Etta ganha assim no momento, a WEA está lançando no mercado um de seus mais recentes lps, "Deep In The Night" (Warner/WEA, 36.075, agosto/78). A carreira de Etta é tão recente que nem a [atualíssima] "The Encyclopedia of Jazz In The Seventies" de Leonard Feather (Horizont Press, 1977) registra o seu nome. Mas basta ouvi-la para sentir suas imensas possibilidades, no estilo que consagrou a maior cantora de gospel - Mahalia Jackson (1911 - 1972), que morreu sem nenhum de seus álbuns fosse lançado no Brasil (só postumamente a CBS editou um lp, com os seus maiores sucessos). O Gospel é um gênero diverso do Spiritual, mas igualmente de fundo religioso, que exige do(a) intérprete, uma profunda identificação espiritual. E Ettas James chega a emocionar, cantando músicas da maior força como "Only Women Bleed", "Piéce Of My heart" e "Take Iit to The Limit". Tão extraordinária quanto Etta James, é Nina Simone (Eunice Waymon, Tryon, 21/12/1933), outra cantora ainda pouco conhecida no Brasil. Somente na década de 70 que começou a se destacar, na área de Nova Iorque. Um de seus raros elepês editados no Brasil foi exclusivamente com músicas da maior de todas as cantoras, Billi Holiday (1915-1959), lançado por uma etiqueta fantasma (Central Park Produções Artísticas), já falida. Por isso, só se pode enaltecer o fato do volume 8 da coleção "Reflection" da Fontana/Phonogram, com o título de "The Goddes Of Jazz" ter sido dedicado a miss Simone, 12 faixas, incluindo temas conhecidos como "Tell Me Mand More And The Some" (Billie Holiday), "Be My Husband" (L. Allan), "Tomorrow In My Turn" (Charles Aznavour), "Wild Is The Wind" (Ned Washigton/Dmitri Tiomkin), "The Laziest Gal In Town" (Cole Porter), permitem aquilitar todas as extraordinárias potencialidades desta cantora de 45 anos, em pleno vigor - e do qual, esperamos, sinceramente, o aparecimento de novos - e indispensáveis - álbuns. Por último, mais uma nova - e vibrante - cantora: Dee Dee Bridgewater. Ela aparece repentinamente, num lp ("Just Family", Elektra/WEA, 32.019, agosto/78) valorizado pela participação de instrumentistas do nível de Stanley Clarke, Chick Corea, George Duke, Ray Come, Alphnson Johnson e o brasileiro Airto Moreira. Cantando de forma personalíssima, com muita força, um repertório fascinante, de músicas de diversos autores - Stanley Clarke (também produtor), Elton John, George Duke, entre outros: "Children The Spirit Of The World", "Sorry Seems To Be The Hardest Word", "Sweet Rain", "Open Up Your Eyes" nome e procurem conhecer. Dee Dee. Temos certeza de que não se arrependerão.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
43
03/09/1978

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br