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Aramis

Artigo em 05.07.1977

Nos últimos 15 minutos de "Rocky, Um Lutador" (Cinema I, segunda semana, em reprise) mesmo o mais pacifista espectador praticamente deixa a contemplativa posição e, ao menos em pensamento, está no ringue, querendo lutar a favor do personagem título (Silvester Stallone), tão o ritmo perfeito que o diretor John G. Avidson conseguiu dar ao filme, integrando espectador-personagem e chegando a inclusive justificar um esporte violento e cruel como o boxe talvez o único aspecto que se possa fazer restrição ao admirável filme, premiado com três Oscars neste ano. O cinema esportivo é temática para um ensaio que se já foi escrito não o conhecemos. E o mérito do filme que enfoque o esporte como leit motiv está justamente em identificar o espectador não com a competição e [si], mas com o momento sociológico em que a disputa tem lugar. Mais importante do que o indivíduo-personagem é fundamental, neste [gênero], a compreensão do esforço-equipe . Neste aspecto, "Garôtos em Ponto de Bala" (cine Lido, até sexta feira, 5 sessões diárias) é um filme bastante curioso: o diretor Michael Ritchie, partindo de um roteiro do jovem Bill Lancaster (filho do veterano Arot Burt), não se preocupou em detalhar personagens individualmente, mas de enfocá-los como um todo. Assim, nada do que acontece fora do campo em que o time de baseball chamado "Bears" (ursos) está em ação tem maior interesse. A vida solitária e irregular do treinador Morris Buttermaker (Walter Mattau, como sempre em criação excelente), um provável relacionamento com a mão de sua principal jogadora - Amanda Whulizer Tatum O'Neal, bem mais mocinha do que em "Lua de Papel"), os interesses que levam Bob Whitwood (Bian Piazza) a contratá-lo para tentar fazer do pior time da Liga num campeão, não entram em cogitação. Assim como no mundo das histórias em quadrinhos de "Charlie Brown", o criador Charles Schultzs jamais colocou um personagem adulto, o roteiro de Bill Lancaster não enveredou no universo familiar dos personagens centrais do filme - ou sejam, os mesmos que integram o time: o gordo Elgelberg (Garry Lee Cavagnaro), o míope Rudi Stein (David Pollack), o brigão Tanner Boyle (Chris Barner), o negro Ahms Abdul Rahim (Erin Blunt), o medroso Ogilvio (Alvred Lutter) ou o desajustado Timmy Lupus (Quinn Smith), este, sem dúvida o personagem mais terno e cativante do filme. De um time medíocre, que, no princípio nada ganha ao receber do técnico beberrão e desinteressado, o Bears reage e consegue chegar ao final do campeonato. E esta trajetória é que é contada ao longo dos 100 minutos e "The Bad News Bears". O diretor, Michael Ritchie, ainda nome pouco conhecido no Brasil, mas que já conta em sua filmografia obras fascinantes, como o político ("The Candidate" e o trilling "Prime Cut", ambos realizados em 1973, não se preocupou em fazer nada mais do que um filme linear, acompanhando um campeonato de basseball entre grupos infantis. Mas justamente nesta simplicidade é que se resume a universalidade e sentido de confraternização do filme que cresce a cada [seqüência], com o espectador integrando-se [à] competição desenvolvida pelos garotos, impulsionada pela perfeita trilha sonora de Jerry Fielding que soube aproveitar os melhores momentos da "Carmen" de George Bizet. Se em "The Longest Yard" (1975), Robert Altman colocava a ação de um esporte de violência máxima - o rugby - num ambiente tenso (uma penitenciária), mas fazendo a competição descarregar as cargas emotivas dos personagens-atletas (sentenciados), aqui, num clima praticamente ingênuo, Ritchie também envolve o público com seus personagens enternecedores, numa disputa bastante [simbólica]. A necessidade de vencer os Yankees é como a vida: pode-se perder uma batalha mas jamais ser derrotado, já ensinava "papa" Ernest Hemingway.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
05/07/1977

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