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Aramis

Astaire e Irving Berlin, dois monumentos americanos

As músicas dos filmes de Astaire, ao longo de quase meio século de cinema - de "A Alegre Divorciada" ("The Gay Divorcee", 1934) - que reuniu pela primeira vez Astaire e Ginger Rogers - a "A Caminho do Arco-Íris", no qual Coppola reverenciou-o com a inclusão de clássicos da canção americana - formam uma antologia do que de melhor foi produzido para o show bussines americano. Astaire não só dançou, mas também cantou as músicas dos grandes autores em filmes inesquecíveis. Por uma feliz coincidência, a Polygram colocou nas lojas há menos de um mês, dentro de sua série "Verne Great American Songbooks" (na qual já tivemos alguns de Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Billy Eckstine interpretando o melhor de Cole Porter, Gershwin e outros), o magnífico "Fred Astaire - The Irving Berlin Songbook". Trata-se de uma dupla homenagem: Astaire, falecido na segunda-feira, mostrando dez das mais lindas composições de Irving Berlin (Israel Baline) que, se a saúde resistir, estará comemorando seu centenário de nascimento (em Temoyun, Rússia) no próximo dia 11 de maio de 1988. Único sobrevivente dos chamados cinco grandes do musical americano - os outros foram Richard Rodgers (1902-1979), George Gershwin (1898-1937), Jerome Kern (1885-1945) e Harold Arlen (1906-1986), Berlin emigrou para os Estados Unidos em 1893 e viria a se tornar autor do maior número de clássicos da canção americana. Tantos e múltiplos, que suas primeiras canções já caíram no domínio público - pois foram feitas há mais de 60 anos. Astaire e Irving Berlin são marcos da cultura popular americana, insuperáveis e permanentes. Astaire, sinônimo de elegância e talento e Berlin, na frase feliz de Gary Giddin, é "o compositor das canções". Quando suas carreiras, ambas em pleno florescer, convergiram pela primeira vez os resultados foram sensacionais. E o veículo para esta colaboração foi o musical "O Picolino" ("Top Hat", 1935) - a primeira partitura integral de Berlim para um filme e o primeiro importante papel do protagonista Astaire. Nada menos que quatro jóias dessa partitura estão em "The Irving Berlin Songbook" - e no começo de "Top What", em "White Tie And Tails", Astaire presta seu tributo verbal a Berlin, que disse certa vez: - "Fred é uma verdadeira inspiração para um autor... Ele faz com que você sinta-se seguro". Dan Morgestem, diretor do Instituto de Estudos de Jazz da Rutgers University, lembrou na apresentação de "The Irving Berlin Songbook", que as dez canções habilmente selecionadas pelo produtor Richard Seidel, foram escolhidas de um dos empreendimentos mais extravagantes e inspirados de Norman Granz, a generosa caixa com quatro elepês, "The Astaires Story", de 1953. Foi uma idéia brilhante cercar Astaire com um grupo de feras do jazz. Apesar dele já ter feito antes uma gravação num contexto jazzístico (duas músicas gravadas em 1940 com o Sexteto de Benny Goodman, que contava então com Charlie Christian e Lionel Hampton) a maior parte de suas muitas gravações vocais foi feita com bandas de estúdio ou big-bands. Com razão Morgenstem lembrou que não é questão discutir se Astaire era ou não um cantor de jazz. "O importante é lembrar apenas que seu ritmo é melhor do que o de muitos que se arvoram como tal. Ele é um intérprete soberbo de grandes canções (uma grande quantidade delas fois escrita especialmente para ele), com um senso inato de gosto de estilo. A voz não é grande, mas ele sempre soube como projetá-la, pois não havia microfones na Broadway dos anos 20 quando ele e sua irmã: Adele, começaram a carreira. Para acompanhá-los nesta produção de Norman Granz, gravada em dezembro de 1952, foram convocados o pianista Oscar Peterson, o Trompetista Charlie Shavers (1915-1971) - apesar de pouco conhecido no Brasil, um dos melhores de sua geração e também ótimo arranjador; o saxofonista-tenor Flip Phillips - um dos astros do "Jazz at the Phillarmonic"; o guitarrista Barney Kessel, o baixista Ray Brown e o baterista Alvin Stoller. Das dez canções deste álbum, só "Puttin'On The Ritz" não foi lançada no cinema por Astaire (ela foi cantada por Harry Richman no filme musical homônimo, de 1930), mas Astaire a gravou um mês depois e a contou no filme "Blues Skies" (1946). De "O Picolino" temos a seguinte seleção: "Isn't This a Lovely Day", "No Strings", "Top Hat, White Tie And Tails" e, finalmente, a mais popular de todas deste clássico musical, "Cheek To Cheek". "Change Partners" é o filme "Dance Comigo", 1938: uma balada feita sob medida para Astaire, que captou sua essência acridoce. "I'm Putting Al My Eggs In One Baskst" é o filme "Nas Águas da Marujada" ("Fallow Mo Fleet"), que Mark Sandrich dirigiu em 1936, com Astaire e Ginger Rogers: uma canção agradável que fez grande sucesso. Em 1942, Astaire estrelou "Holyday Inn", um musical que ficou famoso por ter lançado "White Christmas" - um dos hinos de Berlin. Mas em sua trilha estava também "You're Easy To Dance With", que é incluido neste álbum. De "Desfile de Pascoa" ("Easter Parade", 48) - filme constantemente reprisado na televisão vem "Steppin'Out With My Baby", animada canção de dançarino. Da trilha de "Dance Comigo" ("Carefree", 38) é "I Used To Be Color Blind", uma canção de amor com letras que prova quanto Berlin era inspirado. Alec Wilder em "American Popular Song", escreveu que não se pode escolher uma canção típica de Berlin, "já que ele foi mestre em todos os domínios da canção popular". Assim como Berlin, Astaire também é um símbolo do entretenimento e da cultura americana. Infelizmente, o velho Fred não viveu para abraçar Irving em seu centenário. E esperamos que Irving chegue lá. Afinal, falta menos de um ano!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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27/06/1987

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