Login do usuário

Aramis

Até copião vale para mostrar cinema brasileiro no FestRio

Rio de Janeiro - Desde 1984, quando da primeira edição do FestRio, a sua direção sempre se preocupou em prestigiar ao máximo o cinema brasileiro. O espaço internacional deste maior festival de cinema, televisão e vídeo da América do Sul não prejudica o nosso cinema. Ao contrário, abre imensas perspectivas, não só na participação de filmes em competição, mas também nas mostras paralelas e, especialmente o mercado com a Embrafilme e produtores independentes tentando negociar suas produções. Este ano, todas as tardes -16 horas - o "Panorama do Cinema Brasileiro" trouxe 16 dos mais importantes filmes realizados este ano, entre curtas e longas-metragens. Dos longas que estiveram em festivais nacionais, premiados e já lançados, foram exibidos "O País dos Tenentes", de João Batista de Andrade; "Ele, o Boto", de Walter Lima Jr., "Fronteira das Almas", de Hermano Penna; "Besame Mucho", de Francisco Ramalho Jr.; "Anjos da Noite", de Wilson Barros e "Leila Diniz", de Luiz Carlos Lacerda. Dois longas, ainda inéditos comercialmente estarão sendo levados a festivais no Brasil e exterior em 1988 - também tiveram aqui seus lançamentos: "A Menina do Lado", de Alberto Salvá e "Banana Split", de Paulo Sérgio de Almeida. Em sessões à meia-noite na Sala Glauber Rocha, sem qualquer divulgação, houveram as primeiras exibições de duas produções que seus realizadores reservam, ambiciosamente, para tentar os festivais internacionais (Berlim, Cannes, Nova Iorque) do primeiro semestre de 1988: "A Fábula da Bela Palomeira" , de Ruy Guerra - transposição do conto de seu amigo Gabriel Garcia Marquez e "Luzia Homem", de Fábio Barreto, do romance do cearense Olympio Domingos. Em exibições ainda mais privadas, no mercado de filmes, estavam sendo previstas duas outras curiosidades: "Pagu" de Norma Benguel e os 40 primeiros minutos do copião de "Fronteiras", de Noilton Nunes, este em fase de produção. Norma Benguel, uma presença discreta este ano no FestRio ao contrário do ano passado, quando aqui era uma das estrelas brasileiras que mais circulava, anunciando então o início de produção do filme biográfico da intelectual e feminista paulista Patrícia Galvão, este ano restringiu seus contatos. Esperançosa de que seu tão aguardado longa "Pagu" seja selecionado para representar o Brasil no Festival de Berlim, aguardava, ansiosamente, que o Laboratório Líder lhe entregasse a primeira cópia para mostrá-la no mercado. Um filme progresso - Se Norma Benguel conseguiu, apesar de todas as crises da Embrafilme e do debacle do Plano Cruzado, concluir o seu filme, já Noilton Nunes ainda luta para terminar o seu "Fronteiras - a saga de Euclides da Cunha". Independente da espera para o Festival de Berlim, Norma já começa a transar internacionalmente o lançamento de "Pagu". Na próxima semana embarca para Los Angeles, onde tem encontro com Dino de Laurentis, "que já foi meu produtor nos tempos em que era atriz" - nos dizia - para lhe mostrar seu filme. Norma sabe que só no mercado brasileiro jamais conseguirá recuperar o investimento feito no filme, apesar de seu custo ter sido bastante reduzido (apenas US$ 300 mil) e por isto preocupa-se em conseguir levá-lo a outros países. Já Noilton Nunes, 41 anos, cineasta dos mais estimados e conhecidos em Curitiba (já deu vários cursos na Cinemateca Guido Viaro, ajudando na formação profissional da "Turma do Balão Mágico") é um realizador de desafios. Após um emocionante curta-metragem baseado em fatos reais - "Leucemia" (exibido por três semanas nos cines Lido I/II - Condor), sobre o drama de uma mãe, no exílio, em Portugal, que é obrigada a separar-se do filho recém-nascido devido sua doença - Noilton conseguiu transformar num filme "visível" o imenso material que ele e José Celso Martinez Correa haviam produzido a partir da peça "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade. Há dois anos, Noilton retomou um projeto que o fascina desde a adolescência, quando ganhou um concurso de monografias sobre Euclides da Cunha: levar sua atormentada vida ao cinema. Mais do que o subtítulo que deu ao seu filme "Fronteiras", a realização desta cinebiografia está sendo uma saga para o próprio Noilton. Até agora, com Cz$ 10 milhões, a partir de agosto de 1986, fez seqüências em são José do Rio Pardo, Cantagalo e na Academia Brasileira de Letras - mas sempre com enormes dificuldades. Em janeiro deste ano, quando preparava-se para rodar os interiores num armazém da Companhia Docas, com a troca de direção da empresa, obrigaram-no a cancelar o projeto - levando-o a protestar intensamente e resistir ao despejo da locação, ao ponto de ser preso. No ano passado, aproveitando o III FestRio, Noilton já havia mostrado algumas seqüências filmadas, buscando possíveis co-produtores. Agora repetiu o esquema, inclusive com um anúncio-chamada publicado no "Jornal do Brasil", edição de quarta-feira, dia em que numa das cabinas do mercado voltou a mostrar o material já rodado. Para que "Fronteiras" seja concluído, Noilton precisa levantar mais de Cz$ 15 milhões (afora igual quantia prometida pela Embrafilme) para fazer seqüências em Xapuri, no Acre; Monte Santo e Canudos, na Bahia, pontos fundamentais da história do autor de "Os Sertões". Peter Schumann, do "Fórum de Realizadores de Berlim", já viu o material rodado por Noilton e está tentando viabilizar a participação da Alemanha no projeto, especialmente no que tange à fase de laboratórios e montagem. Otimista, enfrentando todas as dificuldades com coragem, Noilton diz: - Meu filme estará pronto para um grande festival de 1988. Seja internacional ou mesmo no próximo FestRio - já que, por duas vezes, estou participando, informalmente, com o copião do mesmo. O próximo FestRio, conforme decisão da diretoria executiva do evento, acontecerá em junho do próximo ano - já que assim deixando de ser o último evento competitivo, na categoria "A", reconhecido pela Federação Internacional de Produtores de Cinema, evitará o maior problema para conseguir filmes de qualidade. É que os melhores filmes realizados durante o ano ou já foram levados a outros festivais de categoria "A" (Cannes, Berlim, Moscou) ou então estão sendo reservados para as próximas edições em 1988. Sobra, então, para o FestRio, produções menores e decepcionantes - com críticas debitadas, injustamente, à sua direção que, durante todo o ano, busca fazer do evento do Rio de Janeiro um grande acontecimento cultural.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/11/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br