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Aramis

Até enredo falta no carnaval curitibano

Um sonho de muitos que já tentaram organizar o Carnaval em Curitiba foi o de que as nossas escolas de samba apresentassem seus sambas-de-enredo com antecedência, a tempo de gravá-los em fita cassete e divulgá-los através dos rádios. A exemplo do que acontece no Rio de Janeiro - e mais recentemente em São Paulo e Porto Alegre (sem falar no Recife, Salvador e Florianópolis) - a intenção seria proporcionar a que a população conhecesse antecipadamente os sambas-de-enredo, que poderiam, assim, ser mais cantados durante o desfile. Infelizmente, é um sonho distante: faltam 35 dias do Carnaval (3 a 6 de março) e apenas duas escolas do grupo A - Acadêmicos da Sapolândia e a Mocidade Azul - escolheram até agora seu samba-de-enredo. As cinco outras não providenciaram suas músicas, tornando assim impossível qualquer projeto de gravar os sambas-de-enredo para obter divulgação. xxx Curiosamente, as pequenas escolas, do grupo B, mostram-se mais organizadas: três delas já estão cuidando de divulgar as letras de seus sambas-de-enredo: A G.R.E.S. Unidos da Princesa, presidida pelo sr. Odair de Souza, sairá com o tema "Paraná fernália" e o samba-de-enredo, "Caboclo", é de autoria de Nelson Santos, assessor da Fundação Cultural, presidente da comissão organizadora do Carnaval no ano passado e o principal auxiliar de Maria Cristina Camargo, a comandante do Carnaval curitibano neste ano. Uma das mais pobres escolas de samba da cidade, a G.R.E.S. Garotos Unidos, compensa com entusiasmo o que lhe falta em luxo e brilho. Seu presidente, Alaerson Cabral (Laé), diz que "samba ainda se diz no pé". O próprio Alaerson é autor do samba-de-enredo, "Velhos Carnavais", com uma letra simples e nostálgica: "Canta, canta e conta / Pois quem não sabe quer saber/ Vem comigo mergulhar nessa história/ E vamos juntos o passado reviver". A G.R.E.S. Imperadores Independentes, presidida por Louremar Ribeiro, vai homenagear Clara Nunes, falecida em maio do ano passado. Seu samba-de-enredo também é de Nelson Santos, que foi bastante modesto na letra: "Fazer um samba-de-enredo para Clara/ É compromisso muito sério do poeta/ Cantar o nome dela na avenida/ E com flores vir cobrindo as baianas de Xangô/ No Agogô/ Que mais/ Posso fazer linda menina/ Orar/ Lembrar você toda de branco". xxx O G.R.E.S. Mocidade Azul, campeoníssimo do Carnaval há muitos anos, mesmo não tendo mais o patrocínio do ex-corredor zoológico Afunfa (Osvaldo da Silva), hoje morando em Porto Alegre, pretende continuar a manter a liderança. Dirigida por Mauro Barique, Fernando Lamarão (que durante anos esteve ligado ao Beija-Flor, no Rio) e charrão (diretor de quadra), a Mocidade Azul terá como tema os cem anos do Teatro Guaíra. Talvez por isto o seu "carnavalesco" será Oraci Gemba, diretor executivo da Fundação Teatro Guaíra e que, naturalmente, está colocando à disposição da escola toda a infra-estrutura do teatro. O que significa um espetáculo bonito visualmente, embora com isto, as demais escolas possam também, haja vista a exceção aberta, solicitar a ajuda oficial do guaíra para suas montagens. xxx A Acadêmicos da Sapolândia, dirigida por Júlio Souza, escolheu um tema bem paranaense: "Do Mel da Ilha à Ilha do Mel". O samba-enredo é de uma dupla competente, Homero Réboli e Cláudio Ribeiro, e está sendo cantada na quadra de escolas, no Prado Velho. A Embaixadores da Alegria, que desfila há 35 anos e nunca conseguiu uma vitória, vai homenagear o travesti Gilda, com o enredo sugerido por Celso Filho: "Gilda, sem nome". Três escolas do primeiro grupo, segundo informação oficial da comissão de Carnaval, ainda não definiram sequer o enredo com que sairão: a Não Agite, Colorado e Dom Pedro II. xxx Entende-se que não há condições de nossas pobres escolas de samba terem a organização das verdadeiras empresas que se transformaram as escolas cariocas. Hoje, o Carnaval do Rio de Janeiro se caracteriza como uma indústria turística, que movimenta bilhões de cruzeiros, enquanto o Carnaval curitibano é ainda motivo de idealismo de alguns carnavalescos históricos, um dos quais é, por coincidência, o atual diretor-executivo da Fundação Cultural, o alegre e festivo Glauco Souza Lobo. Entretanto, um pouco mais de agilização das escolas, ao menos na definição de seus enredos e sambas, ajudaria bastante. No Rio, desde o final do ano passado, os sambas-de-enredo das escolas do grupo A e B, editadas em elepês pela RCA/Tapecar, vêm sendo catituados com força. Este ano, nota-se que os sambas-de-enredo ficaram mais curtos, com letras mais comunicativas, já que as mesmas podem assim cair no agrado popular e serem cantadas pelos milhões de espectadores da grande festa. xxx Braguinha, o João de Barro (Carlos Alberto Fereria Braga), 77 anos a serem comemorados no dia 29 de março, último remanescente dos compositores da época de ouro dos carnavais, será homenageado mais uma vez, desta vez pela Estação Primeira de Mangueira, que sairá com o enredo "Yes, Nós temos Braguinha". Já a Portela escolheu como tema "Contos de Areia", enquanto a Beija-Flor de Nilópolis apelou para o ufanismo verde-amarelo: "O Gigante em Berço Esplêndido". A Vila Isabel terá o seu samba-de-enredo, "Pra Tudo Se Acabar na Quarta-Feira", puxado por Martinho da Vila. Outros enredos das grandes escolas cariocas. "Salamakeikum, A epopéia dos insumissos malês pela Unidos da Tijuca; "Mamãe, Eu Quero Manaus" pela Mocidade Independente de Padre Miguel; "Skindô, Skindô" pela Acadêmicos do Salgueiro; "A Visita da Nobreza do Riso A Chico Rei Num Palco Nem Sempre Iluminado" pela Caprichosos de Pilares, enquanto a Império da Tijuca surge com o título mais enigmático: simplesmente o cabalístico número "9215".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
27/01/1984

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