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Aramis

Auditórios do Guaíra já são insuficientes

Para uma Capital que durante por quase três décadas ficou sem um teatro oficial - entre o fechamento do antigo Teatro Guaíra, em 1937 - até a inauguração do auditório Salvador de Ferrante, a 19 de dezembro de 1953 - Curitiba ressente-se hoje de maiores espaços para eventos artísticos. Afinal, a população já ultrapassou um milhão de pessoas, as atividades artísticas alcançam diferentes segmentos e bons espetáculos tem sido cancelados em nossa cidade pela falta de locais apropriados. Ainda há poucos dias, os promotores de uma tournée do espetáculo-solo de Caetano Veloso, que foi a Porto Alegre, tentaram, inutilmente, encontrar uma data livre no Teatro Guaíra para que o compositor baiano ali se apresentasse. Apesar de toda boa vontade da diretora de arte e programação, Marlene Montenegro, não foi possível encaixar Caetano dentro da apertadíssima agenda da FTG e, com isto, este ano, possivelmente não se apresentará em Curitiba. Se houvesse uma programação cultural mais intensa em outros auditórios - como o Teatro do Sesi - poderia se tentar uma opção, mas, infelizmente isto não acontece. Assumindo modestamente a direção de arte e programação da Fundação Teatro Guaíra - cargo que exige muito jogo de cintura e que só na infeliz administração José Richa teve nada menos que três diferentes ocupantes (todos demitidos devido a crises ali originadas), Marlene Montenegro vem se preocupando em acertar datas dos espetáculos que possam movimentar os auditórios do Guaíra e, ao mesmo tempo, eliminar os "gigolôs de datas" - ou seja, os picaretas do empresariado artístico que bloqueando boas datas acabam impedindo que outras atrações sejam programadas e forcem inclusive o pagamento de ilegais "taxas de desistências" para ceder as datas aos demais interessados . Um problema antigo, que desafia várias administrações e que, justiça seja feita, tem merecido especial preocupação não só de Marlene Montenegro, mas também do diretor administrativo, advogado Leonel Amaral - por sinal empenhado em solucionar alguns antigos e crônicos problemas de infra-estrutura burocrática-administrativa de nosso Teatro oficial. Mas nem só dos auditórios do Guaíra pode viver a programação da cidade. O Teatro do Paiol, inaugurado há 15 anos e que, por si só já merece uma longa crônica, vem há meses sofrendo um criminoso processo de esvaziamento sob a absurda justificativa de que deve ser cedido apenas a grupos locais - tanto música como teatro. Xenofobismo a parte, o Paiol sempre foi uma alternativa para espetáculos musicais, de artistas ainda sem público suficiente para lotar auditórios maiores e que, no passado, tinham apoio da Fundação Cultural para ali fazerem temporadas. Agora, finalmente, após meses de vacas magras e irresponsabilidade artística em sua programação, vai acontecer uma temporada com o grupo instrumental Pau Brasil, liderado pelo excelente pianista Nelson Ayres - e que acaba de lançar seu segundo elepê ("Pindorama", Nova Copacabana). Uma dezena de outros auditórios que, eventualmente, poderiam ser agilizados com promoções artísticas - como o do Colégio Estadual do Paraná (abandonado há anos e sem condições técnicas), do Centro Tecnológico Federal de Educação (Ex-Escola Técnica), associações e mesmo clubes permanecem ociosos, devido a falta de visão e, especialmente, de iniciativa, dos seus responsáveis.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
17/09/1986

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