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Aramis

As aventuras do mais famoso ladrão inglês

Ronald Biggs tem toda razão em cobrar caro pela utilização de sua imagem. Afinal é um personagem real e vivo de uma história que poucos roteiristas poderiam imaginar. De origem humilde, Biggs era carpinteiro na Inglaterra e vivia em dificuldades financeiras. E foi isso que o levou a topar o assalto ao trem Glasgow-Londres, em 8 de agosto de 1963 - por coincidência, dia de seu 35o. aniversário - o chamado "assalto do século" - e do qual 11 homens levaram 2,5 milhões de libras. Embora tenha se tornado o mais famoso do grupo - e portanto a ele se atribuído o planejamento do assalto - na verdade foi apenas um integrante, e era até chamado "pé frio", convidado porque conhecia alguém capaz de dirigir a locomotiva depois que o trem fosse interceptado. Ronald, um dos primeiros a ser preso, foi condenado a 30 anos de prisão mas escapou de Wandsworth poucos dias antes de completar seu primeiro ano de pena. E começou a ter que gastar o dinheiro do roubo: 30 mil para fazer uma operação plástica em Paris, mudando o seu rosto; mais 30 mil libras com um advogado em que confiava e que se oferecera para aplicá-las a juros e mais algumas milhares de libras para os cúmplices que o ajudaram na fuga. Mesmo assim, sobrou o suficiente para ele, a mulher e os 3 filhos viverem alguns anos na Austrália. A Scotland Yard, entretanto, o descobriu e antes de ser preso, Biggs, com o nome falso de Michael Haynes veio para o Brasil, aqui chegando sem dinheiro, tanto é que empenhou um relógio na Caixa econômica por US$ 60. Vivendo em dificuldades - tendo que viajar constantemente a Argentina para renovar seu visto de turista - Biggs acabou descoberto. Foi quando chegou a aceitar a proposta do jornalista Colin Mackenzie, repórter do "Daily Express", que lhe prometeu 35 mil libras e mediar sua apresentação à polícia inglesa. A reportagem saiu (uma série de 5) mas o dinheiro nunca apareceu e quando estava no Hotel Trocadero, acabou preso pelo detetive Jack Slipper, que vinha em sua pista. Só que nestas alturas, ele já havia encontrado formas legais para aqui permanecer - que se consolidaram em 30 de janeiro de 1974, quando sua companheira, a morena Raimunda de Castro (anteriormente havia vivido com Edith, Ana Paula e outras) ficou grávida de seu filho, Mike. Mas isto não foi o final de seus problemas: foi preso pela Polícia Federal (em Brasília, chegou a ter como companheiro de cela o célebre falsário Fernando Legros) e, em 16 de março de 1981, na churrascaria Roda Viva, em Copacabana, foi seqüestrado por um grupo de ingleses, que o conduziram num jatinho até Belém do Pará e dali, num veleiro, a ilha de Barbados. Criou-se um caso diplomático internacional: o Itamarati protestou contra o seqüestro - já que Biggs já estava com sua situação definida no brasil, a opinião pública inglesa dividiu-se (especialmente cativada pela simpatia do filho brasileiro de Biggs) e no final ele acabou retornando ao rio - ficando ainda mais famoso. Biggs já era tão conhecido, a tal ponto que até o fotógrafo Anthony Armstrong-Jones, ex-marido da princesa Margaret, quando em viagem ao Brasil acompanhando o príncipe Charles, foi em sua casa para fotografá-lo em 1978. No mesmo ano ele compôs e gravou "No One Is Inocent" com o conjunto punk The Sex Pistols, no auge do sucesso. Apesar de toda a badalação internacional - cobrava já em 81 uma média de US$ 20 para ser fotografado ao lado de turistas - Biggs não gosta de se expor. Tanto é que embora tenha vindo fazer o comercial do Sir em Curitiba, rodado na mansão de um conhecido empresário, oficialmente ninguém da produtora admite que as filmagens tenham sido feitas aqui. "Foi no Rio de Janeiro", é a alegação oficial. xxx Nota (*) A Autobiografia de Biggs foi lançada um mês depois no brasil, pela Difel, com o título de "A Minha Verdade"(217 páginas).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
13/03/1992

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