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Aramis

Aviões de Glass e a harpa de Andreas

Um ilustre desconhecido por parte do público brasileiro até o início desta década, Philip Glass tornaria a chamada música minimalista, se não de consumo popular (o que, obviamente, seria um exagero afirmar), mas ao menos atingindo uma faixa ampla que estimulou sua conexão pessoal com o Brasil, via especialmente a ligação com seu amigo (e hoje parceiro de projetos culturais) Gerald Thomas, que desaguaria, inclusive, na ópera "Mattogrosso", estreada em julho último, dentro do vanguardista Projeto Tucano Artes, organizado pela Dueto e patrocinado pela Mesbla - restrito apenas ao Rio de Janeiro. Foi pela trilha sonora de "Koyanisquatsi" (1981, de Godfrey Reggio, para quem voltaria a criar a trilha sonora de seu segundo longa, "Powawwatsi", seis anos depois), que Glass se tornou conhecido no Brasil, motivando a edição de seus trabalhos - desde óperas avançadíssimas até outras sound tracks de outros filmes aos quais deu sua colaboração (como "Mishima"), ampliando assim o conhecimento de sua obra. E para este público, que vem aprendendo a admirar as novas funções sonoras que Glass desenvolve em seus projetos (e que, ao vivo, já haviam entusiasmado o público no II Free Jazz), a EMI / Odeon lançou há dois meses um novo trabalho de Glass: "1000 Airplanes on the Roof", definido como "a science fiction music drama realized by Glass" em associação com David Henry Hwang e Jerome Sirhan. Produzida com patrocínio de dois festivais - o de Niederostereich e o American Music Theatre Festival (Filadélfia), mais a Prefeitura de Berlim, a estréia mundial desta obra ocorreu em 15 de julho do ano passado, num hangar no Aeroporto Internacional de Viena. Afinal, para uma obra que se chama "Mil Aviões no Teto", o lugar mais apropriado para a sua apresentação seria mesmo num aeroporto. Ao longo de onze temas, Glass desenvolve a música nervosa, inquietante e ao mesmo tempo fascinante, numa execução em que soma teclados, metais e, naturalmente, muitos recursos eletrônicos - além da voz de Linda Ronstadt, uma vocalista em evolução crescente: depois de começar sua carreira como intérprete de músicas de consumo fez dois belíssimos álbuns, com arranjos do falecido maestro Nelson Riddle (1924-1985), recriando standards da canção americana e chegando agora a um trabalho integrado à sofisticação e vanguarda de Glass. xxx Também numa linha de vanguarda, mas só que mais próximo do "new wave" (corrente californias, confundida até com a muskate - a chamada música de elevador), o harpista eletrônico Andreas Vollenweider é outro criador de grande voltagem que se torna, pouco a pouco, conhecido de maiores faixas do público brasileiro. Em cada álbum (todos aqui lançados pela CBS) propõe inovações sonoras, deixando, apenas, a síntese de sua harpa eletrônica para buscar apoios maiores, como faz em "Dancing with the Lion", ao qual somou seus quatro instrumentistas habituais (nos teclados, percussão, bateria e flauta) 18 músicos convidados e a participação especial do The Zurich Mandolins, sob regência de Horst Hagemann, afora 21 vozes, inclusive de uma cantora de raízes no pop - Patti Austin. Em dez temas - naturalmente todos de sua autoria - Andreas oferece uma música relaxante, ampla - daquelas que faz bem ouvir - mas que (e isto é importante salientar) não fica no consumismo da "música ambiente". Ao contrário, mesmo que possa servir até para sessões de musicoterapia, suas intenções vão bem mais além...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
23
03/09/1989

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