Login do usuário

Aramis

Becaud no Olympia: um excelente [álbum]

Aproveitando a promoção que recebeu no início de junho, com sua vinda ao Brasil para os espetáculos de entrega do Prêmio Moliére de Teatro e Air France de Cinema, de 1973, nos Municipais da Guanabara e São Paulo, mais uma apresentação especial em Brasília, a Odeon lança um bom lp que Gilbert Becaud gravou no Teatro Olympia, a 24 e 25 de outubro do ano passado. Monstro sagrado da canção francesa, compositor e intérprete de sucesso mundial, figura que amedronta seus músicos, Becaud, aos 45 anos, uma carreira "em que o único fracasso já foi transformado em sucesso", Becaud é um dos vocalistas franceses e maior popularidade internacional. Cantor especialmente de teatros, "Olympia 1973" (Odeon/EMI SPLT 17008, maio/74), está entre os seus melhores álbuns. Para cada uma das canções que interpreta, Becaud costuma preparar o ambiente. Muita alegria, gestos amplos, sorrisos abertos ou recolhimento, moderação. Sempre olhando para o público, ele estabelece uma corrente favorável palco-platéia. Corteja o público como conjunto e solicita cada espectador, "faz com que toda pessoa, em sua cadeira, receba e corresponda ao seu apelo", como escreveu um jornalista brasileiro. Becaud, como outros monstros do panorama musical da França, teve o apoio de Edith Piaf, no começo da carreira. Ela o recomendou ao poeta Louis Amade. Foi com dois poemas dele, "Les Croix" e "Mes Mains", mais uma canção de Pierre Delanoe, "Quand tu Danses", compondo a música que Gilberto-François Silly, já com o nome de Gilbert Becaud, ganhou seu primeiro torneio de estreante. O ano era de 1953, o rapaz tinha 25 anos e entrava timidamente para se apresentar justo antes do intervalo que, nos espetáculos de music-hall, na França, antecedem o aparecimento da atração principal. Ex-aluno de Paderewski - o papa da música contemporânea, Gilbert estreou pela primeira vez, como cantor principal, no Olympia em 1954. E foi um sucesso marcante: quase 500 poltronas quebradas e o chão juncado de corações desenhados com batomcontendo inscrições chamando o novo ídolo de "amor", "deus", "rei". Uma canção, "Les Baladins", apesar de calma, havia desencadeado a confusão. Em 1961, Becaud fez uma tentativa diferente: de sua "Ópera d'Aran", "obra rica e ambiciosa", montada no Teatro dos Champs Elyseé. Mais de duas horas de ação, 24 papéis, 55 figurantes, 70 músicos, 130 minutos de partitura. O fracasso foi grande e maior o prejuízo. Mas três anos de pois, Becaud dava a volta por cima: "Et Maintenant", surgia num ano em que os Beatles dominavam as paradas (só nos EUA a música teve 176 gravações). E nove anos depois, voltou a insistir em sua "Ópera d'Aran", hoje um sucesso mundial. Rico, [tranqüilo], Becaud atinge a maturidade artística, como demonstra nas 14 faixas desta gravação ao vivo, onde acompanhado por duas dezenas de excelentes músicos, com orquestrações de Christian Gaubert, apresenta uma seleção de suas melhores composições: "L'Addition S'il Vous Plait, Quais M'sier", "Mon Pere A Moi", "L'Indien", "Tango", "Une Petite Fille entre 9 e 10 Ans", "Moi Quand Je Serai Gueri", "Dimanche A Orly", "Les Cocotiers", "Barbarella Revient" e "Un Peu D'Amour Et D'Amitie". Um bom disco de música francesa! Livros Um livro sobre quem faz livro Com o recente lançamento de Brochura brasileira: objeto sem projeto, de Ana Luisa Escorel, a Livraria José Olympio Editora, em convênio com o Instituto Nacional do Livro, publica um trabalho pouco comum na bibliografia nacional sobre arte tipográfica e problemas correlatos. Escrito e apresentado como trabalho de graduação na Escola Superior de Desenho Industrial em 1972, o ensaio de Ana Luisa Escorel caracteriza-se antes de tudo pela especialização restrita, pois a autora esclarece desde logo que se propõe analisar o aspecto gráfico da brochura produzido atualmente no Brasil, atendo-se à que se origina da reunião, por colagem à capa, dos cadernos costurados de 1/16 de folha. Não lhe interessam portanto outros tipos de livros produzidos entre nós, a exemplo do livro de bolso, do livro infantil e do livro didático, ficando sua análise limitada à brochura corrente no mercado editorial brasileiro. Nesse terreno é que Ana Luiza Escorel coloca a tônica de seu trabalho, primeiro focalizando o produto do ponto de vista industrial, do tratamento gráfico separado entre capa e diagramação, e depois o contexto em que se insere o livro. Estudando as relações entre o empresário do livro e os artistas gráficos, e entre ambos e o produto ao qual se dedicam profissionalmente, Ana Luiza Escorel procura chegar às raízes do comportamento dos responsáveis pelo mercado, valendo-se inclusive da entrevista com diagramadores, capistas, editores e designers para a realização dos seus objetivos, que são afinal os de levantar as causas de um determinado comportamento do produtor de livros em relação ao produto. Estudo polêmico, analítico, inteligente de um certo aspecto do livro no Brasil de hoje o trabalho de Ana Luisa Escorel interessa não só aos profissionais do ramo como, ainda, aos universitários de comunicação, biblioteconomia e desenho industrial, que nele encontrarão inúmeras sugestões para debate e, inclusive, exemplos práticos de crítica do ponto de vista da diagramação como técnicas e como arte.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
12
06/07/1974

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br