Login do usuário

Aramis

A bela Ana Maria vem ajudar os "Gatinhos"

Ana Maria Magalhães, uma das principais atrizes de "Os 7 Gatinhos", chega amanhã a Curitiba: vem para badalar esta produção baseada em argumento de Nelson Rodrigues, que, no melhor estilo americano, está tendo lançamento nacional, em mais de 50 cinemas. Inicialmente, a Embrafilmes, distribuidora e financiadora do filme, pensou em enviar a atriz Sônia Dias, mas, dentro do remanejamento promocional para acompanhar a fita nas principais praças, acabou sendo definido o nome de Ana Maria, para, junto com Cuca, a jovem simpática integrante da equipe de divulgação da empresa estatal, passar o fim de semana por aqui. Ao contrário de "Bye Bye Brasil", de Cacá Diegues - até agora o melhor filme nacional de temporada, que teve sua promoção só reforçada após a estréia no Rivoli (onde faturou mais de Cr$ 400 mil), "Os 7 Gatinhos" vem merecendo maior atenção: mesmo antes de ficar concluído, já se falava a respeito da audácia de algumas [seqüências] e, no recente Festival de Cinema de Gramado, o filme de Neville D'Almeida (que também dirigiu "A Dama do Lotação", de uma crônica de Nelson Rodrigues, e que faturou milhões), ganhou uma publicidade extra, ao irritar o secretário de Turismo do Rio Grande do Sul, que, aos berros de protesto, abandonou a sala do festival onde a fita era exibida. xxx Ari Fontoura, o ator paranaense mais bem sucedido na área nacional, interpreta o "Dr. Portela", personagem importante na história, enquanto Claudio Correa e Castro, que entre 1962/69 residiu em Curitiba, implantando o Teatro de Comédia do Paraná, é o "Dr. Bordalo". Outros bons atores também estão no elenco - como Lima Duarte, Maurício do Valle, Sady Cabral e Antônio Fagundes, além de, no time feminino, afora a bela Ana Maria Magalhães, Regina Casé, Cristina Aché (esposa do cineasta Joaquim Pedro de Andrade) e Sônia Dias representarem um atrativo a mais para o público (masculino) a este filme, que tem cenografia de Marcos Flaksman, responsável pelos cenários de "Rasga Coração" de Oduvaldo Viana Filho, o que o levou a permanecer algumas semanas entre nós, no ano passado. Aliás, Flaksman está estreando como diretor em "A Serpente", primeira peça escrita por Nelson Rodrigues desde 1974 (quando fez "O Anti-Nelson Rodrigues"), em cartaz há mais de um mês no Teatro do BNH, e cujo texto acaba de sair pela Editora Nova Fronteira. Ana Maria Magalhães teve em "O Diabo Mora no Sangue", roteiro e produção de José Benio, rodado na Ilha do Bananal, em 1968, a sua primeira chance no cinema. Dirigido por Cecil Thiré, aquele filme foi um dos mais bem sucedidos em tentar focalizar a descoberta do sexo num casal de irmãos, vivendo longe da civilização. Benio, 51 anos, mineiro, há mais de 20 radicado em Goiânia - onde foi assessor de relações públicas do ex-governador Mauro Borges e hoje é da assessoria do prefeito Índio do Brasil, que está desenvolvendo um promissor trabalho administrativo na capital de Goiás. Só que após algumas outras produções, Benio deixou o cinema e hoje, afora o trabalho na Prefeitura, e dono-cozinheiro do restaurante que serve a comida mais típica (e deliciosa) do Centro-Oeste do Brasil. Voltando a Ana Maria Magalhães, para orientar a pauta dos colegas que a forem entrevistar. Em sua filmografia constam outros importantes - ou ao menos polêmicos - filmes: "Azyllo Muito Louco", transposição livre que Nelson Pereira dos Santos fez de um texto de Machado de Assis; "Como Era Gostoso o Meu Francês" - do mesmo diretor, e onde aparecia despida, já que interpretava uma índia; "Quando o Carnaval Chegar", de Cacá Diegues; "Uirá, Um Índio em Busca de Deus", baseado no texto de Darcy Ribeiro, "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia" e "Sagarana". Fez ainda "Anchieta, José do Brasil", a superprodução dirigida por Paulo Cesar Sarraceni, que mais dores de cabeça deu a Roberto Farias, quando presidente da Embrafilmes. xxx Nelson Rodrigues está em evidência novamente com a estréia de "A Serpente", relançamento de seus livros e a produção de 5 filmes baseados em seus textos, além da estréia nacional de "Os 7 Gatinhos". Mas só há 17 anos é que teve um primeiro texto teatral adaptado ao cinema: "O Boca de Ouro", de Nelson Pereira dos Santos, com Jece Valadão, Odete Lara, Daniel Filho e Geórgia Quental (atriz que passou longas temporadas em Curitiba e tem em José Cury, um dos editores da revista "Panorama", um de seus mais íntimos amigos). Em 1964, J.P. de Carvalho realizou "Bonitinha mas Ordinária" e, no mesmo ano, J.B. Tanko filmava "Asfalto Selvagem". Em 1965: "O Beijo", direção de Flávio Tambellini e "A Falecida", de Leon Hirzmann (com Fernanda Montenegro, numa de suas poucas atuações no cinema). Em 1966, J.B. Tanko voltou a Rodrigues, filmando "Engraçadinha Depois do Trinta". Só em 73 houve o grande sucesso de público de um filme baseado na obra do dramaturgo e jornalista: "Toda Nudez Será Castigada" de Arnaldo Jabor, produção do ator Paulo Porto, que, 3 anos depois, tentaram repetir (sem sucesso) a fórmula com "O Casamento", último filme de Adriana Prieto, falecida em [conseqüência] de acidente automobilístico, poucos dias após as filmagens terem sido concluídas. "A Dama da Lotação", filmado em 1978, com Sônia Braga - no auge do sucesso (Gabriela", na TV; "Dona Flor e Seus Dois Maridos", no cinema), discutível em termos estéticos-críticos, foi um êxito de bilheteria, que a Embrafilmes espera repetir agora com "Os 7 Gatinhos", cujo texto, ao estrear, há 22 anos, mereceu de Paulo Mendes Campos, em longo comentário a observação: "Encontro em "Os 7 Gatinhos" um vasto capinzal onde pastar a minha fome da verdade humana, de certa verdade humana que me circunda, perturba e confrange: caio de quatro e pasto. A comida pode não ser saborosa mas é necessária e me alimenta. O que não quero é morrer de inanição por simples respeito humano, por amor ao convencionalismo". Que, passadas duas décadas, Neville D'Almeida tenha conseguir fazer do teatro de Nelson Rodrigues algo mais do que um simples relato da vida de um grupo de pessoas, como todos, envolvido em conflitos, dúvidas amores & (principalmente desamores).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
6
17/04/1980

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br