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Berenice, a defesa dos curtas

A presença das cineastas Berenice Mendes e Lu Ranulfo no II Festival de Fortaleza do Cinema Brasileiro (2 a 9 de agosto) não se restringirá a inclusão do documentário "A Classe Roceira" na mostra de filmes em 16mm - um dos eventos paralelos desta promoção que pela segunda vez, movimenta o Nordeste. Berenice e Lu, como ativíssimas profissionais do cinema no Paraná, estarão também levando suas propostas, sugestões e críticas no Fórum sobre o Processo de Descentralização da Produção Cultural. Berenice, ex-presidente da Associação Brasileira de Documentaristas, seção do Paraná, é hoje uma liderança nacional na defesa do cinema brasileiro. Integrou o grupo de trabalho que, durante meses, trabalhou para a regulamentação na obrigatoriedade de exibição de curta metragem (em vigor desde o dia 1º de julho) e, com sua experiência de cineasta somada ao fato de ser advogada, da turma de 1981 da Universidade Federal do Paraná, se constituiu numa das pessoas que mais trabalhou para que os curtas voltassem a tela. Em 24 de abril último, a resolução do CONCINE a respeito teve finalmente aprovação e, teoricamente, desde 1º de julho, todos os cinemas do Brasil, em cidades com mais de 200 mil habitantes, devem exibir curtas nacionais, aprovados previamente por júris de seleção. A exibição obrigatória se aplica a todas as sessões em que são projetados um ou mais filmes estrangeiros de longa metragem. Com o percentual que caberá ao CONCINE, sobre os curta-metragens, será formado um fundo possibilitando a aquisição de cópias dos curtas, remunerando seus autores e pagando as despesas. No Paraná, infelizmente, até agora, somente os Cines Groff, Luz, Ritz, Lido I, Lido II e Condor estão exibindo curtas: simplesmente a EMBRAFILME não dispõe de cópias para atender a demanda. Embora existam mais de 300 curta-metragens em condições de cumprirem a lei - filmes que abordam os mais diferentes assuntos - os mesmos foram entregues a três distribuidoras, sediadas em São Paulo e Rio de Janeiro, não tem condições, ao menos no momento, em atender os outros Estados. A maioria dos títulos está com a Cinema Distribuição Independente, dirigida por Iza de Castro, também realizadora e presença ativa em todos os festivais, integrante, inclusive, do Coletivo de Mulheres. As distribuidoras Age D'Or, de Paulo Bastos Martins e a J. B. Line, possuem também alguns títulos. Antiga luta dos cineastas brasileiros, a exibição obrigatória dos curta-metragens (com duração máxima de 15 minutos) representa a válvula de escape de uma produção do maior significado cultural, mas também com possibilidades econômicas, já que é pelo curta que a maioria dos cineastas iniciam sua trajetória. Desvirtuada quando da primeira regulamentação, através da imposição de curtas de baixíssimo nível e que revoltavam os espectadores, agora os filmes para obterem certificado de exibição obrigatória terão que ser aprovados previamente por um júri designado pelo CONCINE, que trimestralmente, em diferentes capitais, examinará os inscritos. Com isto, somente chegarão aos cinemas os que preencham boas condições técnicas, abordagem de temas múltiplos mas de interesse e com uma dinâmica e criatividade que mostrem a competência de seus realizadores. Até agora, 90% dos curta-metragens permanecem inéditos, vistos, quando muito, em festivais de cinema, mostras ou promoções especiais. Em Fortaleza, serão, possivelmente, ampliados para 35mm, de forma a chegarem aos circuitos comerciais. Além de "A Classe Roceira", de Berenice Mendes, sobre os bóias-frias no Paraná, já levado ao Festival de Gramado em 1986 - estarão sendo vistos: "Evoluz", de José Rodrigues Neto (Ceará); "Bandido da 7ª Luz", de Paulo Maurício Caldas (Pernambuco); "Quem Matou Elias Zi", de Murilo Santos (Maranhão); "Tana's Take", de Almir Guilhermino (São Paulo); "Fibra", de Fernando Beléns (Bahia); "Brasiliários", de Sérgio Bazi e Zuleika Porto (Brasília); "Evocações... Nelson Ferreira", de Flávio Morais (Pernambuco); "Joilson Marcou", de Hilda Machado (São Paulo); "O Músico e o Cavalo", de Telmo Carvalho (Rio de Janeiro).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/08/1987

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