Login do usuário

Aramis

Beth em Montreaux e a resistente Alcione

A chegada do Carnaval neste ano em que se comemora o centenário da Lei Áurea faz com que a música negra, o samba especialmente, deva ganhar um espaço especial. Só que até agora, o melhor que surgiu foram gravações lançadas no final de 1987 - pois a produção 88 não começou ainda a chegar nas lojas - a não ser os discos das escolas de samba do Rio de Janeiro (pela BMG/Ariola) e de São Paulo (Continental). Beth Carvalho, que anualmente apresentava um disco produzido em estúdio, em 1987 deve ter tido problemas de tempo e repertório - pois a sua gravação ao vivo, feita a 4 de julho de 1987, quando esteve em Montreaux, embora seja vibrante, com seu repertório mais conhecido e que encantou os franceses, é por demais conhecido para satisfazer o seu público no Brasil. Para compensar, Alcione veio com força total em seu "Nosso Nome, Resistência" (BMG/Ariola), repertório de 13 músicas, estilos diversos, autores de escolas diferentes. Como acentuou Mauro Dias, Alcione passeia por baladões e batuques com igual intimidade. Sua voz grossa mas suave, que já havia valorizado até um samba de fácil agrado da dupla Sullivan / Massadas ("Nem Morta", 1985), retorna agora com dois outros sucessos certos ("Ou Ela ou Eu" e "Novo Endereço"), mas revisita também o clássico "Autonomia" (Cartola), com arranjo para cordas de Leonardo Bruno - numa feliz sugestão do paranaense Adelzon Alves. O baladão "Estranha Loucura", faz contraponto com "Raio de Luar", letra e música de Nei Lopes: duas maneiras distintas de tratar do tema amor, que também está presente em "Cada um na Sua", de Sérgio Mereti. Da dupla baiana Edil Pacheco / Paulinho Pinheiro, o esfusiante "Afreketê". Nei Lopes, em parceria com Zé Luiz é o autor da faixa que dá título ao disco - um samba-quase-enredo, quase exaltação falando em claras entrelinhas dos 100 anos da Lei Áurea. Para dar o som carnavalesco, um samba exaltação à "Imperatriz Leopoldinense", de Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro. Enquanto Alcione, já com uma década de estrada, apenas confirma um notável equilíbrio entre a raiz e o consumo, surge uma nova cantora, a gaúcha Maria Helena (da Silveira Montier), estreando em elepê RGE, que surpreende pela bonita voz e um repertório equilibradíssimo, incluindo sambas de Nelson Rufino ("Sonhos e Tropeços", "Avalanche"), Dona Ivone Lara / Délcio Carvalho ("Em Cada Canto uma Esperança"), além de gente nova fazendo bom samba - como Paulo, Jorge e Angela Santana ("Confissão", "Para quem Vier"), Serginho Beagá ("Minha Fuga") e Wilson Ney ("Paciência", com a participação do autor). Uma boa estréia que merece ser ouvida com toda atenção. LEGENDA FOTO - Beth: repertório antigo num disco ao vivo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
23
07/02/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br