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Aramis

Bia, cores do mundo, na paisagem mexicana

Desde que fez sua primeira exposição na galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos - e lá se vão quase 20 anos - a curitibana Bia Wouk mostrou uma extrema sensibilidade nos seus trabalhos. Uma leveza de gaivota e a profundidade de poeta - que ela, também como escritora desde a adolescência, crescida entre os melhores livros da imensa biblioteca de seus pais, Miguel e Maria de Lourdes Wouk, sempre respirou e absorveu. De uma geração de artistas que sempre primaram por trabalhos extremamente bem executados - como seu maior amigo, Carlos Eduardo Zimmermann (que trocou os bisturis da medicina pelos pincéis, definitivamente), Rone Thadeo Dunke (num trabalho meio solitário, mas igualmente fantástico) e Isabel Becker - Bia Wouk tornou-se pintora de amplos caminhos. Um curso em Paris acabou se estendendo por uma permanência bem mais ampla e do encontro com um diplomata-escritor, João Almino, o companheiro com quem trilharia cidades diversas - do calor mexicano às bombas do Líbano, até ganharem, há dois anos, a merecida chance de permanecerem em Washington, onde João Almino serve na Embaixada do Brasil. xxx Ao longo destas andanças internacionais, Bia nunca parou de colocar em cores e formas a sua extraordinária sensibilidade. Dona de um estilo personalíssimo, tirando das diferentes técnicas o melhor que elas podem oferecer - mas encontrando especialmente no crayon a cores a ferramenta exata para dar vida a sua visão do mundo, os quadros de Bia ganharam as melhores paredes de galerias do Brasil (Rio, MAM; São Paulo, Paulo Figueiredo Galeria de Arte; Fundação Cultural, em Brasília; Acaiaca e do Exterior - Galeria Jean Pierre Levignes (Paris, 1982), Foro de Arte Contemporânea (Galeria de Arte Mexicana) - mais duas participações (1973/75) nas Bienais de São Paulo. Isso sem falar em dezenas de coletivas e outras individuais, criteriosamente selecionadas ao longo destes anos de intenso trabalho. xxx Uma amostragem do que Bia vem fazendo nos últimos meses foi exposta há 60 dias na Cidade do México - onde ela fez tão bons amigos nos anos em que ali residiu (chegando mesmo a criar ilustrações para a abertura de um filme que representou o México no I FestRio-84). Na Galeria de Arte Mexicana, Bia apresentou, em outubro último, 16 trabalhos fixos (11x85cm; 114x114), retratando cenas do quotidiano - em muitas delas tendo a si mesmo como modelo. Dedicada à memória do arquiteto Paulo Sérgio Augusto da Costa Pinto, falecido há mais de um ano, em Curitiba, a exposição ganhou um sofisticado catálogo, quase um minilivro de arte. Nele, dois textos inteligentes buscam definir a arte de Bia - misto de escritora, poeta, mãe, globetrotter e, sobretudo, mulher-artista de seu tempo na fixação do mundo que tão bem conhece. Horácio Costa em "Bia Wouk, o la visto em vilo", diz que nos 16 desenhos da mostra há uma vertente temática que redimensiona tudo que até o momento a artista havia desenvolvido: "estamos frente a uma fase distinta em su obra plastica que, sea en relación com la técnica utilizada, sea en relación a las ideas que estructuram, prolonga la anterior, pero añade, asimismo, una innovacion dramática en su contexto". Já Alberto Blanco, abre o afetuoso texto - "Bia tras Bia relato gotico entre luces neon" com um referencial poético de Murilo Mendes: Onde esconder meu rosto? O mundo dança em minha cabeça. Falando de uma artista plástica que ama a poesia - como ao cinema, a literatura, ao teatro - Blanco termina dedicando uma poema à artista curitibana, mas de sensibilidade universal. Bia, La única tierra Que te pertenece Es la que traes pegada A la suela de tus zapatos Imagina tu libertad LEGENDA FOTO - Bia Wouk: uma mostra de novos desenhos no México.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
18/01/1990

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