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Aramis

Biblioteca não cresce se houver blá-blá-blá

Uma das regras da burocracia oficial é que quando se deseja complicar algum projeto, fazendo-o cair no cipoal das dificuldades criadas pela incompetência e comodismo, a melhor fórmula é designar um grupo de trabalho ou comissão para tratar a respeito. E se houver necessidade de reforço burocrático, nada mais recomendável do que ampliar as insossas discussões para fóruns, seminários ou assembléias. Resultado: muito blá-blá-blá, horas perdidas em discussões quase sempre inúteis e aquilo que deveria ser feito acaba sendo postergado. E o administrador fica com montanhas de papéis para "justificar" o que deixou de fazer. A reflexão vem a propósito da preocupante informação de que a Secretaria da Cultura estaria sendo "estimulada" em promover um "amplo fórum de debates" para discutir o óbvio e ululante: se deve ou não construir os dois pavimentos que tanta falta fazem a Biblioteca Pública do Paraná. xxx Parece até brincadeira de quem não tem coisa mais séria para se preocupar, mas tudo começou com um infeliz documento encaminhado pelo engenheiro Martin Roeder, então superintendente da Empresa de Obras Públicas do Paraná, em boa hora desativada dentro da filosofia do governo Álvaro Dias em eliminar empresas onerosas e que, na verdade, pouco fazem. Consultado sobre a ampliação do edifício da Biblioteca Pública, o engenheiro Roeder encaminhou ofício ao secretário René Dotti, no qual colocou duas pérolas de burocracia: 1. "O edifício em questão, pertence às obras do Centenário do Estado do Paraná, e a ampliação pretendida poderá ocasionar a descaracterização do prédio em foco e do aspecto do seu envolvimento no contexto urbano". 2. "Após contatos verbais mantidos com a arquiteta Maria Luiza Piemartiri, da Coordenadoria do Patrimônio Cultural, entendemos necessário a consulta àquela Coordenadoria, visando uma análise e respectivo parecer quanto as implicações decorrentes do solicitado". xxx No dia 20 de maio, a arquiteta Maria Luiza Valenti Piermartiri, coordenadora do Patrimônio Histórico, em parecer oficial, incluiu como "pontos desfavoráveis à ampliação", que "o edifício da Biblioteca não é tombado mas pertence ao conjunto de obras que marcaram o Centenário do Paraná"; que "o edifício é marco referencial para as pessoas (5.000 aproximadamente), que diariamente se aproximam dos espaços da Biblioteca"; e, que "o edifício apresenta as características formais da época: composição fechada em possibilidade de alteração ou acréscimos". Professora no curso de arquitetura, italiana de nascimento mas há mais de 20 anos no Brasil, Maria Luiza, felizmente, teve bom senso em argüir também que: 1. "As relações iniciais do edifício com o entorno são alterados, uma vez que este perdeu a posição hierárquica inicial". 2. "Existe documento da previsão inicial da ampliação". 3. "Um dos autores do projeto ainda está vivo, Romeu Paulo da Costa". xxx Infelizmente, com estas duas colocações da parte do extinto EMOPAR e da Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria da Cultura, já se deu motivação para que o assunto começasse a ganhar aspectos de polêmica. Só que o próprio engenheiro Romeu Paulo da Costa - que foi não "um dos autores", mas o autor (único) do projeto, é totalmente favorável a ampliação do edifício, pois além do mesmo ter sido projetado para 5 andares, há muitos anos já se tornou pequeno para as atividades ali desenvolvidas. Como usuário da Biblioteca, o engenheiro Romeu Paulo da Costa - a exemplo de milhares de outros curitibanos, entende esta necessidade inadiável, e que se for realizada rapidamente, dará ao governador Álvaro Dias uma grande presença administrativa. Afinal, quando o governador Bento Munhoz da Rocha Neto idealizou o prédio da Biblioteca, teve a visão de determinar ao engenheiro Romeu Paulo da Costa, e especialmente, ao engenheiro Venevérito da Cunha, responsável pelo cálculo estrutural do prédio, que as fundações fossem feitas para suportar cinco pavimentos - conforme documento que o próprio Cunha encaminhou a EMOPAR, em 18 de janeiro de 1985, no qual declarou que "é possível a construção da ampliação desejada". Entre dezembro de 1954 a julho de 1987, a população de Curitiba quintuplicou e a Biblioteca não aumentou em nem um centímetro. Ao contrário, espaços destinados a salas de leituras e guarda de livros e periódicos foram "roubadas" com a discutível Sala Miguel Bakum, ali implantada contra os pareceres de bibliotecárias. Portanto, não há o que discutir em relação a necessidade da Biblioteca Pública do Paraná ganhar mais 3 mil metros com a ampliação. Em janeiro de 1985, a EMOPAR havia orçado a execução da ampliação em três mil metros num valor equivalente a 1.786,92 ORTN (na época, Cr$ 43.658,00). xxx Embora inaugurada dentro das obras do Centenário, em dezembro de 1954, a Biblioteca Pública não faz parte do conjunto arquitetônico que impeça sua ampliação - prevista aliás em documentos na época, que especificava a área total construída - 6.783 metros quadrados (1.996 metros quadrados no porão; 1.900 metros quadrados no primeiro pavimento; 97 metros quadrados no intermediário; 1.400 metros quadrados no segundo pavimento e mais 1.400 metros quadrados no terceiro pavimento. xxx As fundações existem. A necessidade de ampliação é inquestionável. Há muito que imensos espigões cercaram o prédio da Biblioteca não existindo, assim desculpas estéticas (de conjunto arquitetônico), que "desaconselhem" sua ampliação. Portanto, será desperdício de tempo e energia estimular qualquer blá-blá-blá a respeito. O que o secretário da Cultura tem que fazer é mostrar ao governador Álvaro Dias a importância da obra, apoiado por todos os segmentos possíveis ligados à área cultural. A não ser que não deseje que a obra aconteça nesta administração.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
16/07/1987

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