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Aramis

Boas estréias e reprises interessantes

Apenas duas estréias mas, em compensação, ambas interessantíssimas.De princípio, uma prova de vitalidade do velho John Huston, 80 anos, que com seu "A Honra do Poderoso Prizzi" teve oito indicações ao Oscar e, paralelamente, fez um filme de grande aceitação popular. Mesmo (injustamente segundo alguns), tendo perdido o Oscar de melhor diretor para Sidney Pollack (outro indicado que também poderia ter vencido era Akira Kurosawa, por "Ram"), o fato é que "Prizzi's Honor" foi o grande favorito no Oscar-86 - e saiu da festa no Dorothy Chandeler Pavillion somente com um troféu: o de melhor atriz coadjuvante para Angelica Huston, filha de John e amante atual de Jack Nicholson, astro do filme e que também foi indicado ao Oscar de melhor ator. Premiações a parte, "A Honra do Poderoso Prizzi" é o grande lançamento da semana (cine Astor, 14, 16,30, 19,45 e 22 horas) e deverá alcançar sucesso de público - embora os curitibanos nem sempre saibam prestigiar os bons filmes. Uma prova foi o fracasso de "Cotton Club", que ficou apenas uma semana no Astor - e que agora deveria ser relançado no Cinema I (adiado, já que "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor, continua faturando bem naquela sala). FICÇÃO SIMBÓLICA A segunda boa estréia da semana é uma ficção científica com mensagem pacifista: "Inimigo Meu" (Enemy Mine), em exibição no Plaza - reformado internamente (durante o último mês, esta sala vinha apresentando pornofitas) e agora com maior conforto. A grande credencial de "Enemy Mine" é o seu diretor - o alemão Wolfgang Petersen, que há 3 anos com "O Barco" (Das Bott), teve indicações ao Oscar de diretor e roteirista. No ano passado, crianças e adultos encantaram-se com sua sensibilidade e ternura em "A História Sem Fim", um dos mais belos filmes de temática infantil já realizados na história do cinema. Agora, Petersen fez uma ficção científica onde as emoções elementares - de amor e ódio, fraternidade e honra - vêm a tona quando dois pilotos espaciais inimigos se encontram num distante sistema solar. Davidge (Dennis Quaid), um terráqueo, embrutecido pelas batalhas e Jeriba (Louis Gosset Jr. Oscar de melhor coadjuvante em "A Força do Destino/An Officer and a Gentleman", 84), um Drac do planeta Dracon - na verdade um ser complexo de aspecto estranho aos olhos humanos e orgulhoso terceiro de uma cultura ancestral, são inimigos que estão em guerra quando suas naves caem num planeta hostil, Fyrine IV, o qual é constantemente bombardeado por chuvas de meteoros e habitado por seres extremamente carnívoras. Assim, do ódio inato que sentem entre si, Davidge e Jeriba tem que se unir para sobreviverem. Mais do que uma aventura espacial - embora este lado não falte - "Inimigo Meu" tem o sentido mais profundo, da busca de entendimento entre os homens, lembrando, a primeira leitura da sinopse, um clássico do cinema pacifista, o belo "Inferno no Pacífico" que John Boorman realizou em 1968. Rodado em fins de 1984, com exteriores nas ilhas Canárias e interiores no Bavaria Stúdios em Munique - este filme tem muitos efeitos especiais, além de contar com a colaboração de um dos mais premiados técnicos em cenografia, Rolf Zehetbauer, que criou uma ambientação especial para uma história que se passa no ano 2085 - e que tem detalhes curiosos. Por exemplo, o balcão de uma lanchonete com assentos superconfortáveis e a edição da "Palyboy" de março de 2085 - sem dúvida uma previsão otimista para o império de Hugh Heffner, que, neste 1986, parece começar a desandar, haja vista a desativação de sua rede de clubes. Petersen, como tantos outros milhões de leitores da pioneira revista de sexo & amenidades, acredita que "Playboy" resistirá até o século XXI. Detalhes a parte - e a descrição da elaboração de um SF como este ocuparia todo o espaço disponível - "Enemy Mine", com fotografia de Tony Imi e música de Maurice Jarre, é um filme de visão obrigatória nesta semana. Censura: 10 anos. em cinco sessões, no Plaza. SIMONE NO CINEMA Ao, contrário de Jean Paul Sartre (1905-1980), que já teve grande parte de sua obra transposta ao cinema com resultados desiguais), os romances de sua companheira e colaboradora, Simone de Beauvoir (1908-1986) permaneceram praticamente inéditos na tela. A única tentativa de aproveitar suas histórias na linguagem cinematográfica foi feita há dois anos por Claude Chabrol, 56 anos, nome respeitado da nouvelle vague em "A Vida do Próximo", adaptando um romance ("O Sangue dos Outros") cuja ação é ambientada na França ocupada pelos nazistas, relatando um caso de amor e heroísmo sobre uma jovem obstinada, Helen (Jodie Foster), disposta a sacrificar tudo - inclusive a vida pelo homem que ama, Jean (Michael Ontkean). Com o romance de Simone de Beauvoir roteirizado por Brian Moore, o diretor Chabrol trabalhou com um elenco internacional. Jodie Foster, na época com 21 anos (longe, portanto da ninfeta que fez em "Táxi Driver", 1976, quando estreou no cinema) é a atriz principal ao lado do canadense Michael Ontkean (visto no lírico "Willie e Phil", de Paul Mazursky) e da francesa Stephane Audran. Mesmo sem alcançar a dimensão de outros filmes de Chabrol - nome respeitável da nouvelle vague - "A Vida do Próximo" é um filme interessante que, quando foi lançado há quase um ano, no Itália, passou desapercebido. Retornando agora, no Groff, tem várias motivações para ser visto. Inclusive pelo apelo de ser uma história de Simone de Beauvoir. O GODARD QUE PODE Já que "Je Vous Salue, Marie", continua apenas sendo visto (em péssimas cópias) através de vídeo-teipe, uma vez que uma minoria que não iria assistí-lo nas telas impediu (com apoio do presidente Sarney) que outra minoria o visse nos cinemas, a solução está em ver e rever o Godard liberado. José Augusto Iwersen, ex-cineclubista curitibano, hoje editor da revista "Premiére", promete uma grande retrospectiva do mais revolucionário cineasta da nouvelle vague, João Aracheski garante que ainda este mês lança "Prenome: Carmen", a contraditória visão que JLG fez do romance de Merimée no cine itália e para breve, o "O Detetive", seu penúltimo filme (atualmente ele prepara uma versão de "Rei Lear" com Lee Marvin e Woody Allen, roteiro de Norman Mailler) também deve chegar ao Brasil. O bom Chico Alves também entrou na dança godardiana e está reprisando no Luz o interessantíssimo "Salve-se Quem Puder: "A Vida" (Sauve Qui Peut La Vie), que realizado em 1979, marcou o retorno de Godard ao longa-metragem, após um auto-imposto "exílio" na área dos filmes publicitários e, especialmente, a militância política. Como em todos os filmes de Godard uma intensa voltagem criativa com roteiro fragmentado, imagens aparentemente desconexas e história confusa nos moldes tradicionais. Mas um filme que merece ser visto - pois Godard é um cineasta-jazz, ou seja, que oferece sempre uma nova chance de "leitura" e melhor compreensão (e análise) de seus trabalhos na proporção que se vê mais vezes os seus filmes. Co-produção Suíça-França, "Sauve Qui Peut" estreou em Paris em 15 de outubro de 1980, e, no Brasil, chegou há 3 anos. no elenco, um nome conhecido: a sardenta e simpática Isabelle Huppert, hoje uma das mais populares atrizes francesas. Ao seu lado, nomes deconhecidos ao público brasileiro: Jacques Dutronc, Nathalie Baye, Fred Persone, Anna Baldacini etc. Um filme, obviamente, de revisão obrigatória. OUTRAS OPÇÕES Para o público infantil, continuam muitas opções: do clássico "A Gata Borralheira" (Cinderella, 1950), dos estúdios Disney, ao up to date "A Espada Mágica" com os super-heróis da televisão He Man e She-Ra, numa realização que mobilizou cinco diretores ("Cinderella", há 36 anos, também teve uma grande equipe). "Os Trapalhões e o Rei do Futebol", do veterano Carlos Manga, somando a turma de Aragão também a beleza de Luiza Brunet e a presença de Pelé, continua a faturar bem, nas matinês do São João (à noite, está sendo reprisado "Espelho da Carne"). "Um Dia A Casa Cai", comédia de Richard Benjamin, com um elenco jovem, muitos efeitos especiais, continua no Astor, enquanto "A Hora do Espanto", bate recordes de bilheteria no Vitória (ver boxe a respeito, nesta página), em reprise, uma comédia fascinante aos olhares adolescentes e com uma das mais belas atrizes destes novos tempos: Kelly LeBrock - em "Mulher Nota 1.000", comédia de John Hugues que permaneceu muitas semanas no Condor, mas que ainda tem público. Tanto é que retornou no Lido I. Para os nostálgicos de todas as idades, "Casablanca", de Michael Curtiz está no itália, enquanto que o vigoroso "Crimes da Paixão", de Ken Russel, continua no Ritz. Nas sessões especiais, também há atrações: nesta manhã de domingo, última chance de rever "O Baile", de Ettore Scola (Groff, 10h30min). A noite (20h30min), na Cinemateca do Museu Guido Viaro, encerrando a mostra Heynowski & Scheumann, que trouxe vigorosos exemplos de documentários políticos, temos "Fênix", 1979, sobre os bastidores da guerra do Vietnã e "Exercícios", 1975, que mostra as tentativas de renovação cultural no Camboja (atual Kampuchea), após a ditadura de Pohn Phn.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
7
13/07/1986

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