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Bonilha, o homem das pesquisas eleitorais

Desde ontem à noite, quando começaram a ser computadas as primeiras urnas, a expectativa tomou conta não apenas de milhares de pessoas, ligadas diretamente ao pleito - candidatos, líderes políticos, gente do governo e da oposição - mas também alguns técnicos numa área nova que se firma cada vez mais: os pesquisadores eleitorais. Pela segunda vez, um professor universitário e sociólogo, Rogério Bonilha, 40 anos, desenvolveu em termos locais um trabalho de acompanhamento eleitoral, realizando mais de 20 mil entrevistas, que possibilitaram ao PMDB dispor de amplas e fartas informações. O último relatório foi entregue na noite de sexta-feira, 14, contendo as informações finais coletadas por uma equipe que mobilizou, nos últimos quatro meses, aproximadamente 150 pessoas. xxx Sinônimo até hoje de grandes empresas - como o Ibope e o Gallup - a pesquisa eleitoral tornou-se uma nova opção para Rogério Bonilha desenvolver um setor até então modesto de sua agência de propaganda - a Bonix (Rua Benjamin Constant, 270), que acabou se transformando em "Instituto Bonilha de Pesquisas" por acaso. Há algumas semanas, quando o jornalista Clóvis Rossis, da "Folha de São Paulo", veio a Curitiba e escreveu uma reportagem sobre as eleições, citou, pela primeira vez, o nome de "Instituto Bonilha". Rogério, pessoa modesta e tímida, "que jamais pensaria em personalizar uma firma com o seu nome", acabou oficializando a designação - e hoje a nova entidade já é conhecida. xxx Formado em Ciências Sociais pela Universidade Católica do Paraná há 15 anos, professor de Sociologia na Universidade Federal do Paraná, Rogério Bonilha começou a desenvolver pesquisas há mais de dez anos, inicialmente dentro do âmbito universitário, com exercícios didáticos de seus alunos. Mais tarde, fundando com o irmão Paulo Geraldo, 32 anos, uma agência de publicidade que atende pequenos clientes (Macabi, Pague Menos Calçados etc.) transferiu sua experiência para realizar pesquisas de mercado, com resultados satisfatórios. A partir de 1982 passou a dedicar-se também a pesquisa política. Em 1983 coordenou localmente a implantação da pesquisa sobre desempenho dos novos governadores para a "Folha de São Paulo". A partir de 1984 fez várias pesquisas vinculadas a administração José Richa, sendo a mais importante "A Informação Política na Administração Pública Estadual", realizada junto a secretaria de Estado e assessores de comunicação social. Este trabalho foi analisado pelo staff de comunicação do governador Franco Montoro, de São Paulo, sendo considerado pioneiro no gênero. Nas eleições de 1985 para a Prefeitura de Curitiba, os prognósticos feitos através de suas pesquisas se confirmaram, com uma precisão superior ao dos institutos de opinião mais conhecidos. Isto motivou uma credibilidade muito grande nas técnicas empregadas e nas inovações que introduziu na pesquisa eleitoral. Tanto é que até a Aliança Democrática Municipalista, de Mato Grosso, o contratou para desenvolver pesquisas, o que levou sua equipe aos mais distantes municípios daquele Estado. xxx As pesquisas semanais, desenvolvidas em todo o Estado, gerando mais de um milhão de respostas, com dados processados num CPD que conta com três computadores, permitiram uma versatilidade que mesmo os grandes institutos não tem. Estas informações possibilitaram aos comandos de comunicação do PMDB rever as estratégias de seus candidatos, em especial nos programas de televisão. As pesquisas políticas mostraram, por exemplo, que a campanha de Alencar Furtado não foi coerente. "As aspirações dos eleitores eram outras". A própria música do "Homem com H" agradava como música, mas era considerada agressiva como peça de propaganda. As caricaturas de Álvaro e do Richa eram consideradas engraçadas, mas tinham efeito adverso sobre o comportamento de escolha do eleitor. "O eleitorado quer ouvir propostas bem fundamentadas, pois considera a política um assunto sério". Outra constatação: os fatores "simpatia" e "belo sorriso" foram marcantes para Álvaro Dias. Já o tom áspero e agressivo da Frente das Oposições não teve repercussão, repetindo-se, aliás, aquilo que já havia sido detectado no ano passado: os eleitores não aceitam mais campanhas grosseiras, os ataques pessoais, o baixo nível. Outra constatação de Rogério Bonilha: Jaime Lerner poderia ter tido uma melhor imagem na televisão, já em sua campanha a Prefeitura, no ano passado, se não perdesse a sua condição "meio mítica, meio mágica" - e se transformado apenas num político na caça de votos. O mesmo se observa em relação ao senador Afonso Camargo, "que de uma espécie de herói da Nova República, estrategista e amigo de Tancredo Neves, de repente ficou com uma imagem despida". Cuidadoso em seus comentários, sem pretender revelar dados que ainda considera confidenciais, Bonilha vê, entretanto, em sua dupla condição de sociólogo e homem de comunicação, que a televisão ainda apresenta surpresas na criação (e reprodução) das imagens dos candidatos. xxx Negando qualquer comprometimento ideológico com o governo - "trabalhei para o PMDB, porque o partido contratou os trabalhos profissionais de minha empresa", Rogério também se preocupa em desmistificar outra falsa impressão: a do custo absurdo das pesquisas. - Para poder entrar num mercado tradicionalmente dominado por empresas consagradas, tive, naturalmente, que fazer um trabalho a preços competitivos. Entretanto, para ter uma boa equipe, investi nos pesquisadores contratados por bons salários neste trabalho temporário". Bonilha garante dispor, em seus arquivos, de fichas comprobatórias de todas as entrevistas realizadas - "as quais, entretanto, são confidenciais: posso mostrar a quem duvidar de sua existência, mas elas não podem ser divulgadas individualmente". Sua equipe foi periodicamente checada e desenvolvido um esquema de rodízio, para evitar comprometimentos mesmo com os simples eleitores entrevistados. - Assim, buscamos ter a máxima segurança nas informações levantadas, com lisura e responsabilidade. xxx A credibilidade é a meta que Rogério Bonilha busca para sua empresa. Confiante no crescimento do mercado - desde as da área oficial e política até a iniciativa privada, já tem vários projetos em andamento. Sem abandonar o magistério e a publicidade, pensa desenvolver cada vez mais o trabalho neste campo e que dispõe de pouquíssimas firmas especializadas no Brasil e, ao que saiba, nenhuma outra no Paraná. Poeta em sua juventude - em 1961, entusiasmado com o concretismo publicava, "Praesedium"; em 1964, editava o anarquista "Viva A Guerra", e em 1971, junto com três outros amigos-poetas - Manoel Carlos Karam, César Ramos e Raimundo Correa, lançava a antologia "264 Quilos", Rogério Bonilha diz que apesar do envolvimento em trabalhos técnicos ("nos últimos anos só publiquei relatórios"), o poeta (e o cinemaníaco) não morreram. - "Ao contrário, de vez em quando ainda faço poesias e já tenho material para um novo livro". xxx Rogério Bonilha não escondia, neste final de semana, seu nervosismo. Mesmo confiante que as urnas confirmarão as previsões feitas em suas pesquisas para os cargos majoritários, admitia, entretanto, uma incógnita: a escolha dos deputados estaduais e federais. "Nisto a indecisão foi enorme e até 48 horas antes das eleições, mais de 30% do eleitorado não tinha definido seus candidatos".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
16/11/1986

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