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Aramis

Brasilidade

Se alguém, em algum momento, argumentou que o choro não entusiasma o público, na noite de sexta-feira, quando o frio climático era mais intenso no Teatro do Paiol, houve (mais) uma prova ao contrário: os mais calorosos aplausos foram ouvidos ao longo de quase dois minutos após o flautista Copinha (Nicolino Coppia, 66 anos, 51 de vida instrumental) ter solado quatro dos mais belos choros de Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana, 1898-1973): "Cuidado Colega", "Naquele Tempo", "Segura Ele" e "Carinhoso". Ao ser apresentado por Paulinho da Viola, como um dos mais importantes instrumentistas brasileiros - que nos últimos 40 anos tem gravado, sempre com perfeição, todos os gêneros e estilos - Copinha, em princípio, mostrou uma certa timidez. Depois, animando-se, falou com emoção de Pixinguinha, que conheceu em 1936 - e com o qual chegou a trabalhar alguns meses. E, na flauta - secundado por Paulinho no cavaquinho e Cesar Faria (pai de Paulinho e integrante do Época de Ouro). No violão Copinha chorou nos registros de sua flauta, toda a saudade do grande Pixinguinha. De todos os (muitos) espetáculos da melhor emepebe que, desde 27/12/71, vem sendo realizados no Paiol, o de Paulinho da Viola e seu grupo (hoje, 21 horas, última apresentação) está entre os mais importantes. São duas horas de MPB. E basta. Não há necessidade de artifícios pirotécnicos, recursos audiovisuais, direção, roteiro, etc. Há apenas uma coisa: talento. Talento de Paulinho - em quem não se sabe se admira-se mais o compositor, o cantor ou o instrumentista, de seu pai Cesar, do flautista Copinha, do baixista Dininho (filho de Horondino Silva, o mestre "Dino Sete Cordas") do baterista Hércules e do percussionista Chaplim. Juntos, completam-se, Paulinho - tão simples e bom caráter quanto tão grande é a sua sensibilidade poética e inspiração melódica - mostra algumas de suas obras antalógicas, mas aproveita também para relembrar ao público mais velho e apresentar aos mais jovens, jóias esquecidas de mestres como "Pra Que Mentir" de Noel Rosa e Vadico, "Cansei" de Sinhô, "Pisei no Despacho" de Geraldo Pereira, "Velha Jaqueira" de Zé Ketti ou "Mente ao Meu Coração" de Alberto Ribeiro, com o qual abre o espetáculo. De "Amor a Natureza" e "Argumento" ao "Chôro Negro", com o qual, em duo com o seu pai, encerra a primeira parte do espetáculo, Paulinho mostra nesta minitemporada curitibana, porque é o compositor mais importante da nova geração, na legítima linha de Cartoça - Nelson do Cavaquinho, mas que é capaz também de fazer uma música contemporânea, (e não existe outra classificação para ela) da dimensão de "Sinal Fechado", vencedor do festival de MPB da Record há 7 anos passados e agora internacionalizada, com sua gravação por Ornella Vanoni (RCA, 1975). Ouvir Paulinho, Cesar, Copinha, Dininho, Hércules e Chaplim é quase uma forma de prece.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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12/09/1976

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