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Aramis

Bristol, memórias de um cinema

Mais uma vez o cine Bristol será inaugurado. Já houve muitas inaugurações desta casa de espetáculos - que, com o desaparecimento de tantas outras, é hoje a mais antiga sala de exibição desta mui leal Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Já foi o Teatro Hauer, que teve como um de seus primeiros arrendatários o pioneiro Ludovico Egg - avô da cantora Stelinha Egg, que ali, como tantos milhares de curitibanos assistiram nostálgicas sessões de cinema. Os tempos mudaram e o pioneiro teatro - que funcionava também como atração gastronômica, com um restaurante servindo bons pratos e ótimo chopp entre as sessões do "cinematographo" ou dos espetáculos ao vivo - transformou-se em cinema. Mas não perdeu suas características de teatro. Nos anos 40/50, quando inexistindo o Guayra - as companhias de teatro, dança e música tinham que se dividir entre os antigos cine-teatros Palácio e Avenida, na elegante Cinelândia - na Avenida Luiz Xavier (que se chamou, em certa época, João Pessoa) - também optavam pelo Hauer - com uma tradição de público refinado, de bom gosto e que sabia aplaudir os espetáculos que lá eram levados. A memória do Hauer - depois de Marabá e hoje Bristol - perde-se no tempo em que chegavam as produções do cinema francês e alemão, com filmes de sucesso capazes de permanecer meses em cartaz. A máquina (mágica) das imagens aproxima-se agora da década de 50, quando o paulista Paulo Sá Pinto - hoje quase octogenário, mas ainda firme no comando de um circuito enorme de cinemas (em Curitiba, o Plaza, com promessas de abrir mais duas salas no antigo Santa Maria), fazia do Marabá uma sala para lançamento de filmes que, semanas a fio, atraíam público numeroso. Numa história do cinema paranaense - projeto iniciado há mais de duas décadas, mas que necessita (e como!) de tantos aprofundamentos - o cine Bristol, que hoje reabre suas portas após quase dois anos de paralisação para uma dispendiosa e demorada reforma - teria muitas datas e dados. Informações necessárias de serem checadas e conferidas - dos homens que passaram pela casa de espetáculos desde os tempos pioneiros do velho Egg, das lendas que falam de fantasmas que, em horas tardias, chegavam a povoar a imaginação dos funcionários de épocas passadas. Hoje, o Bristol reabre - com nova decoração, poltronas confortáveis - assim como há 25 anos sofreu uma grande reforma e, mais tarde, quando já estava nas mãos do grupo Zonari, mereceu outra. Aleixo Zonari, 46 anos, comandante-chefe da Vitória Cinematográfica, que há 20 anos possui o cinema (o imóvel pertence aos herdeiros da família Seiller), passou as últimas semanas na obra, cuidando de apressar sua conclusão - que demorou mais do previsto. Rodolfo Doubek, arquiteto de extrema competência e bom gosto, fez um belo projeto de reforma, preservando o que era possível de lembrar o velho prédio - mas, naturalmente, descaracterizado há anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
8
01/10/1987

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