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Aramis

Campo Mourão assume a cultura nativista

Afinal, o Paraná assume o Nativismo. Com uma colonização gaúcha em tantos municípios do Oeste/Sudoeste - e mesmo na região Norte - até agora a forte música que se faz no Cone Sul não havia ainda tido maiores reflexos nos pálidos eventos musicais do Interior. Finalmente, com "Ventania", o grupo Cigarra, de Clevelândia, venceu os festivais de música de Pato Branco (no final de 1985), e o Fercapo, em Cascavel, em julho último. Agora, José Ernesto Tavares, 43 anos, gaúcho de Carazinho há 7 anos morando em Campo Mourão - onde é o secretário de Turismo - organiza o Cante Terra, primeira mostra de música nativista a ocorrer no Paraná - nos melhores moldes dos grandes eventos gaúchos - que hoje já ultrapassam a mais de 40, em edições que se multiplicaram a partir de 1974, quando o Grupo de Tradições Gaúchas "Sinuelo do Pago" promoveu em Uruguaiana, a primeira Califórnia da Canção Nativista. xxx Foi um CGT de Campo Mourão - o Índio Bandeira, fundado há 10 anos e que tem Lírio Mangione como patrão e o promotor Borges Santori na comissão executiva, que se uniu a Tavares para levantar quase Cz$ 500 mil e possibilitar a realização de um festival que ultrapasse a timidez regional, oferecendo ajuda de Cz$ 5 mil a cada concorrente classificado, prêmios no valor de Cz$ 60 mil (Cz$ 30 mil para melhor música), hospedagem, alimentação e transporte - inclusive dois ônibus para trazer concorrentes do Rio Grande do Sul. Em termos de shows, o Cante Terra - de 26 a 29 de setembro - também não deixa por menos: o gaiteiro Renatinho Borghetti, aos 22 anos o maior nome da música instrumental do sul, mais o grande Luiz Gonzaga, 74 anos - o último dos grandes ídolos populares da época de ouro da MPB e mais um terceiro a ser contratado, que poderá ser tanto o cantor missioneiro Cenair Maicá (dono de uma obra notável, mas pouco conhecido ainda no Paraná) ou algum novo artista do rio Grande do Sul. A exemplo do Fercapo, também o Cante Terra será gravado ao vivo, com um elepê produzido por Ayrton dos Anjos, da Continental em lançamento nacional. Para promover o evento, José Ernesto Tavares trará a Curitiba, dentro de algumas semanas três grupos que fazem a boa música Nativa na região - Cigarra (vencedor do Fercapo), Minuano e o Oiga-Tchê. Entre muita comida típica, bom vinho e alegria - em ambiente a ser especialmente preparado - Tavares, em nome do prefeito José Pochapski, de Campo Mourão, quer mostrar as características que devem fazer do Cante Terra o grande evento artístico deste segundo semestre. xxx Para fazer um festival nativista com todos os acertos possíveis, Tavares está tendo uma especial assessoria: Edson Otto, cantor, advogado, pesquisador e diretor técnico do Instituto de Tradição e Folclore do Rio Grande do Sul, conterrâneo de José Ernesto (ambos nasceram em Carazinho, onde se realiza um dos melhores festivais do R.S., a Seara da Canção Nativa). Animador cultural do maior calibre, Edson está, aliás, organizando um grande evento cultural: o I Acorde Brasileiro - Seminário Nacional em Defesa da Música Regional Brasileira, programado entre 30 de outubro a 2 de novembro, na praia de Tramandaí, R.S. Mais de 100 convidados - entre pesquisadores, compositores, instrumentistas, cantores, animadores culturais, estarão, durante 4 dias, analisando aspectos ligados ao colonialismo cultural, valorização dos regionalismos, pesquisa, organização da classe musical, direitos autorais, divulgação da MPB etc. A promoção tem um caráter tão abrangente que Edson Otto conseguiu mobilizar apoios múltiplos - do governo do Rio Grande do Sul até quatro ministérios (Cultura, Educação, Trabalho e Comunicações). xxx O interesse pelo Nativismo não fica apenas aí. Um compositor e cantor das noites curitibanas, Ademir Pedroso, 38 anos, paranaense de Irati, vai concorrer este ano na Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana. Ademir esteve em julho nos Estados Unidos, acompanhando alguns rodeios e festivais country e voltou com vontade de promover algo semelhante no Paraná, com uma linha artística que inexiste nos pálidos rodeios que são realizados em Ponta Grossa e São Luiz do Purunã. Para tanto, Ademir já foi ver os nossos rodeios - de Petrolina, em Pernambuco - a Vacaria, no Rio Grande do Sul, reunindo experiência para um projeto no qual sonha em ter até o apoio da embaixada americana (sic). xxx Já para os bons compositores da terra, que naturalmente não podem se motivar por festivais como o promovido pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, programado neste mês e que oferece prêmios tão ridículos que não chegam nem a Cz$ 6 mil no total - uma compensação: o Musicanto, em Santa Rosa, em sua quarta edição, estará aberto a participantes nacionais, com prêmios excelentes: um Ford Escort, zero quilômetro, ao primeiro classificado; Cz$ 40 mil ao segundo; Cz$ 25 mil ao terceiro - mais ajuda de custos e quase uma dezena de outras premiações. As inscrições para o Musicanto, podem ser feitas em Curitiba, através de Armando Heynz, representante da Continental.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
10/08/1986

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