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"Canja de Viola", o bom exemplo de Paquito na cultura popular

Dentro da paquidérmica e onerosa FUCUCU, um exemplo de profissional que discretamente, sem maior apoio, vem realizando um trabalho realmente significativo em termos de cultura comunitária é Paquito (Francisco) Modesto, 45 anos, nascido no Algarve mas curitibano de adoção e paixão há quatro décadas. Quando da sempre lembrada administração Roberto Requião, Paquito encontrou da parte do digno e competente presidente da Fundação Cultural de Curitiba, advogado Carlos Francisco Marés de Souza, apoio para desenvolver um projeto que agora começa a ser olhado com os olhos gananciosos da politicagem que cerca a atual gestão: "Canja de Viola". xxx Iniciado modestamente no antigo pavilhão comunitário da Avenida Visconde de Guarapuava, passado depois para o Centro Comunitário de São Braz e, finalmente, com apoio do próprio então prefeito Roberto Requião, implantado no teatro Universitário, a canja de viola tem sido o mais democrático e aberto espaço para violeiros da cidade - solos, duplas, trios e mesmo grupos maiores. Todos os domingos, a partir das 15 horas, gente do povo que faz sua música [espontânea] encontra-se no asfixiante espaço do TUC, na galeria Júlio Moreira, para ali mostrar canções simples, [expontâneas] - que independente de apreciações estéticas são significativas como comunicação popular. Hoje, quando o chamado canto country - ou brega-rural - ganhou intensa significação e exploração comercial, o trabalho que, solitariamente, Paquito vem coordenando desde 1986 deve ser registrado com justos elogios ao seu idealizador. Para comemorar o 6º [ano] do projeto - e coincidindo com o Dia do Trabalho - neste 1º dia de maio, na Ópera de Arame, a partir das 15 horas, haverá uma super-apresentação da Canja de Viola, com mais de trinta duplas e que teria uma atração maior: Tonico e Tinoco. Infelizmente, as negociações não se concretizaram e a dupla não virá. A dupla Teleu e Sanvita - e uma homenagem justa a "Nha" Gabriela - acompanhada pelo filho Ivam Graciano, acontecerão em substituição. Mesmo com o aproveitamento que politiqueiros pretendam fazer desta edição especial de Canja de Viola, o importante é que se há uma única pessoa que merece aplausos é o bom e estimado Paquito, que desde o início dos anos 60 tem sido uma presença sempre atuante em nossa vida cultural. Amigo de Paulo Leminski quando ele recém havia deixado o convento dos irmão beneditinos, dividia com Lelio Sotto Maior Jr. - o melhor pensador e ensaísta de cinema do Paraná - colaborações no pioneiro suplemento "Vanguarda", que entre 1964/65 editamos no "Diário da Tarde", tendo participado de vários grupos de teatro da salutar época em que a vida artística curitibana reunia jovens idealistas e talentosos. Paquito desceu aos infernos em perigosas viagens mas, vigorosamente, retornou a superfície. Identificado aos artistas anônimos, amadores que fazem música com todo entusiasmo, encontrou no Canja de Viola uma forma de valorizar cantores, compositores e instrumentistas que, uma vez por semana, nas tardes de domingo, tem seus momentos de glória. Entre as duplas que saíram do Canja de Viola para trilhar caminhos profissionais está Teleu e Savita, hoje radicados em São Paulo - e preparando um primeiro LP - lembrados por Paquito para serem convidados especiais de amanhã a tarde. Na galeria Júlio Moreira, o Teatro Universitário, graças a Paquito, foge do elitismo boçal, pretensioso e que em nome de um movimento "Cultural" desperdiça milhões de cruzeiros (afinal, a FUCUCU custa hoje cerca de US$ 500 mil por mês aos contribuintes curitibanos). Sem gastanças, honestamente voltado as coisas do povo, Canja de Viola é uma resistência que nascida na administração Requião, felizmente não foi compurscada pela atual presidência da paquidérmica Fundação Cultural. LEGENDA FOTO Paquito Modesto, idealizador e coordenador do projeto Canja de Viola, implantado já [a] 6 anos na administração Roberto Requião para valorizar os artistas do povo. (Foto Guto Andrade).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
30/04/1992

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