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Aramis

Cantores

Em meados do ano passado, Sérgio Cabral incansável pesquisador, jornalista e produtor musical, nos falava com entusiasmo de um audacioso projeto, que só a ampla liberdade que André Mdani, presidente da WEA no Brasil, oferece a sua equipe, possibilitaria ser concretizado: fazer um elepê com um consagrado cantor lírico - Paulo Fortes (Paulo Gomes de Paiva Barata Ribeiro Fortes, Rio de Janeiro, 7/2/1927) interpretando... modinhas e serestas. Consagrado, no mundo operístico, com um curriculum de 35 anos de atuações no Brasil e Exterior, Paulo Fortes é um de nossos poucos baritonos que conseguiu sobreviver no difícil campo do dito << bel canto >>. Em compensação, a modinha, apesar de sua brasilidade, é um gênero pouco cultivado 0 e há anos que Paulo Tapajós, o maior modinheiro deste País (e o maior conhecedor do gênero) vem sendo << namorado >> para voltar a gravar, mas - tem resistido a um retorno fonográfico - ficando o consola de ouvi-lo em seus antigos discos da Sinter, que a Polygram já reeditou por 2 vezes. A seresta tem poucos cantores - entre os quais Silvio Caldas, 72 anos - completados dia 23 de maio último (há mais de 5 anos sem gravar um novo elepê, apesar de suas constantes aparições na televisão), de forma que a produção de Sérgio Cabral com Paulo Fortes cantando << Ternas e Eternas Serestas >> (WEA, maio/80), não deixa de ser um evento da maior importância neste ano, em termos de MPB. Mas conta o próprio Sérgio que a aproximação de Fortes com a seresta vem de muito tempo: aos 11 anos vencia um concurso de cantores infantis no Teatro Recreio, cantando justamente uma seresta. Ao lado de sua imensa carreira no mundo lírico - um repertório de 86 papéis, canta em 7 idiomas, já gravou em vários países do mundo e cantou ao lado de Maria Callas, Mário Del Mônaco etc. - Paulo sempre acompanhou a música brasileira especialmente a seresta. << Fazer música atonal, qualquer um faz, desde que saiba música >>, diz. Difícil é fazer << Deusa da Minha Terra >>. Por isso ao gravar este clássico no lp << Ternas e Eternas Serestas >>. Paulo homenageou com suas interpretações cantores como Orlando Silva (sua grande admiração). Silvio Caldas e até, em alguns momentos, Vicente Celestino - que foi para o popular depois de ter tentato o lírico. Enfim, a idéia de Sérgio Cabral foi possível de se materializar: transmitir um perfeito clima de seresta, com um repertório que vai de Chiquinha Gonzaga a Chico Buarque de Holanda. O maestro Luiz Roberto, outros seresteiro, acentuou todas as possibilidades de lirismo e de emoção das músicas, para o que contou com músicos identificados como o gênero: os violões, executados pelo próprio Luiz Roberto e Dino, o mago das sete cordas. No cavaquinho, Walmar, já habituado com este tipo de musica através de sua participação no conjunto de Altamiro Carrilho. Na flauta o mestre Copinha. No bandolim, Deo Raim, o discípulo e intérprete de Jacob do Bandolim e no saxofone e clarinete, Abel Ferreira - em seu último trabalho (falceria há poucos meses do lp ser lançado). O resultado é um disco belíssimo, brasileirísmo, onde Paulo Fortes canta << Até Pensei >>, acompanhado apenas pelo violão de Luiz Roberto, com uma suavidade ternura que não se imaginaria num cantor acostumado aos altos dó-de-peito. Está certo o bom e competente amigo Cabral ao afirmar: com este disco, o Brasil ganhou um excelente cantor de música popular.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
1
15/06/1980

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