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Aramis

Carlinhos, presença amiga de boa música

Carlinhos Vergueiro é uma das pessoas mais estimadas dentro da música brasileira. Prova disto é a força que os melhores compositores sempre deram na carreira deste paulista, 36 anos, 15 de carreira musical e por seu talento, simpatia e, sobretudo, aquela capacidade de fazer amigos, conquistou uma platéia significativa em Curitiba - aqui retornando no próximo dia 17 (Teatro do Paiol e bar Habbeas Corpus). De uma família musical - o pai, Carlos Vergueiro, ator, produtor musical e diretor da Rádio Eldorado, de São Paulo, por mais de 30 anos; o avô era pianista, assim como o irmão, o jazzista Guilherme (que permaneceu longos anos na Europa, gravando inclusive na Dinamarca), Carlinhos faz uma música que flue generosa e brasileiríssima. Desde que começou a estudar piano com o avô, o pianista Guilherme Fontainha, revelou sempre um lado de criador expontâneo. Foi também aluno de Osvaldo Lacerda (composição musical) e Tumiko Kavanani (teoria musical). Com 16 anos já fazia suas primeiras músicas e em 1972 foi finalista do Festival Universitário da TV Tupi, com "Só o tempo dirá", que gravaria no ano seguinte (compacto simples, Chantecler). Faria ainda mais um compacto e um elepê ("Brecha", Continental), antes de, em fevereiro de 1975, ser o vencedor do festival Abertura com "Como Um Ladrão", que incluiria em seu segundo LP. Carlinhos nunca chegou a ganhar discos de ouro ou ter um consumo imediato. Entretanto sua obra musical - desenvolvida com parceiros dos mais ilustres - a começar por Toquinho e Vinícius (com os quais fez um clássico da separação, "Por que será?") e passando por vários outros, mas tendo em J. Petrolino (pseudônimo musical do produtor Aluizio Falcão) o letrista mais constante: tem coerência e equilíbrio que não se encontra com facilidade em nossa música. Sua temporada em Curitiba, dentro de duas semanas, coincide com o lançamento de seu novo elepe ("15 anos de carreira"), marcando o surgimento do selo Idéia Livre, de Aluizio Falcão, distribuição da Polygram. Conforme aqui noticiamos, em primeira mão nacional, há alguns meses, quando de sua penúltima passagem por Curitiba, o grande destaque é o inédito blue "Modo de Ser", criado por Carlinhos após a leitura de um texto de Antônio Cândido (um dos mais respeitados críticos e ensaista da literatura, seu ex-sogro). Este trecho de ensaio, comenta a expectativa sempre romântica dos brasileiros em face da arte. Como diz o produtor Aluizio Falcão, "há melhor tema para uma canção?" Carlinhos soube aproveitá-lo, com a originalidade e a inteligência de sempre, num bom exemplo de que a boa prosa também pode ser musicada. As outras onze faixas são releituras de onze músicas desenvolvidas ao longo de 15 anos de atuação regular - todas em dueto com amigos muito queridos: "Como um ladrão" com Paulinho da Viola; "Zona Tropical", com Caetano Veloso; "Noturno Paulistano", com Djavan; "O Ilusionista", com Ney Matogrosso; "Dia Seguinte", com Martinho da Vila, - estas em parceria com Petrolino; "Brecha", com Chico Buarque; "Por que Será" com Toquinho; "Torresmo à Milanesa", uma das últimas parcerias de Adoniram Barbosa (1910-1982) - com a participação de Marçal; "Refér", parceria com Cacaso (Antonio Carlos de Brito, 1944-1987) com Edu Lobo; "Desatino", parceria com Novelli - com Luiz Melodia e "Samba Menor", parceria com Novelli e João Nogueira (e sua participação). Como se vê, um elenco all star reunido pela amizade e admiração que Carlinhos sempre mereceu - somado também aos excelentes instrumentistas, arranjos divididos entre o mano Guilherme, Alberto Arantes, Nelson Ângelo, Cláudio Guimarães, Ruy Quaresma e Rafael Rebelo. Resultado: um dos melhores discos do ano - excelente aperitivo para se aplaudir pessoalmente ao bom Carlinhos nesta sua nova temporada curitibana. LEGENDA FOTO - Carlinhos Vergueiro: temporada curitibana a partir do dia 17; em disco, num elenco all star e até musicando ensaio de Antônio Cândido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/12/1988

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