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Aramis

Carlos, o que viu "rei" Caetano nu

2,30 horas da madrugada de 25 de novembro de 1986. A sala Glauber Rocha - na verdade o teatro-auditório do Hotel Nacional, Rio de Janeiro - está superlotada. Artistas, jornalistas, tietes, convidados, assistem a primeira exibição pública de "O Cinema Falado", de Caetano Veloso. Astutamente, o produtor-empresário Guilherme Araújo havia mantido no mais completo segredo o longa-metragem dirigido pelo compositor. Assim, o impacto era grande: a linguagem fragmentada, os longos monólogos, o tom propositalmente amadorístico e confessional do filme - uma espécie de "Araçá Azul" filmado (comparando-se ao seu mais hermético disco, fracasso em 1973, agora sendo relançado pela Polygram), fazia com que o público visse, incomodado, o filme. Entretanto, mesmo os que não estavam gostando ficavam em silêncio. Foi, quando se ouviu um grito de protesto: - "Este filme é uma besteira! Vanguarda superada!" Vaias, aplausos! Outro grito se solidariza: - "Eu já fazia este tipo de vanguarda há 10 anos". A confusão estava iniciada. Entre aplausos e vaias, ameaças e quase brigas pessoais, a sessão terminou acaloradamente. No final, todos queriam identificar os que levantaram o protesto. Os que tiveram a ousadia de dizer que o rei estava nu. E eles se identificaram à saída, cercados de jornalistas: Arthur Omar, documentarista, autor, entre outros filmes, dos polêmicos "Tristes Trópicos" e "O Som", e Carlos Frederico, três longas ("João sem Medo", 1968; "A Possuída dos Mil Demônios", 1970; e "Lerfá Mu!", 1979) e mais 9 curta-metragens. A polêmica se instaurava em torno do filme de Caetano. Arthur e Carlos Frederico levantavam questões - não pessoais, em relação a Caetano, e o direito dele fazer seu filme, mas contra a supervalorização de "O Cinema Falado", que furando a fila de lançamentos de filmes nacionais que aguardavam lançamento comercial na EMBRAFILME, estrearia nos melhores cinemas dentro de duas semanas. Enquanto trabalhos de vanguarda, também criativos, como "Tristes Trópicos", ou "A Possuída de Mil Demônios" nunca foram vistos fora do circuito alternativo. Carlos Frederico fez mais: distribuiu um manifesto a respeito que "O Estado do Paraná" publicaria semanas depois, quando "O Cinema Falado" foi exibido no Cine Luz. Casado com a atriz Isabella - ex-musa e mulher de Paulo César Sarraceni (atualmente em Paris, montando seu novo longa "Natal - O Homem de um Braço Só"), intérprete do primeiro filme crítico do golpe de 1º de Abril ("O Desafio", 1965, de Sarraceni), Carlos Frederico valoriza o belo sensual tipo de sua companheira em "O Mundo a Seus Pés". Voltando a filmar após sete anos (seu último trabalho havia sido em "Lerfá Mu!", 1979), Isabella é a locutora do telejornal que da título a este filme de 25 minutos. Com seu tipo sexy, alta, morena, Isabella marcou filmes como "O Bravo Guerreiro", de Gustavo Dahl, "Lucia MacCartney", de David Neves e "A Lira do Delírio", de Walter Lima Jr. Atualmente, ela faz duas peças do repertório do Teatro da Montanha, na cidade de Visconde de Mauá, Rio de Janeiro - "Quinze Anos Depois", de Braulio Tavares e "Amar se Aprende Amando", da poesia de Drummond - ambas dirigidas por Carlos Frederico. Este, um espetáculo que o casal pensa, atualmente, em levar a algumas capitais, a partir de Curitiba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
8
24/09/1987

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