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Aramis

Carmen e Libertad, sempre com público

Se não fosse o bom senso e a experiência de mais de 40 anos de comércio, Leon Barg não poderia dar continuidade ao projeto Revivendo, que se constitui em verdadeira utilidade pública em termos de preservação da memória musical brasileira. Afinal, o custo de produção de cada disco cresce a cada mês, pois se não há despesas de estúdio, existe uma soma de encargos que fazem um pesado investimento trazer hoje as vozes de ontem. Começa pela questão dos direitos autorais, pois embora as gravações seja retiradas das gravações de sua própria coleção, para sua prensagem há necessidade de licenciamento da gravadora original. Começa então um drama: algumas gravadoras jamais se interessariam em reeditar, por conta própria, este material, quando aparece um idealista como Barg, tentam explorar ao máximo. A Odeon, por exemplo, impôs condições tão leoninas, que vários projetos de discos com artistas que gravaram naquela multinacional entre os anos 20/40 tiveram que ser congelados, até que a diretoria da empresa entenda o sentido cultural da "Revivendo". Depois há custos de limpeza das gravadoras (Ayrton Pisco, único especialista, cobra em dólar por faixa), a prensagem, confecção de capas, impostos etc. Leon Barg comenta: - "Cada disco é um filho caro. Mas por isto mesmo é querido". xxx Assim como há discos que praticamente esgotam - é o caso do elepê de Carmen Miranda, cujos 80 anos de nascimento (9/2/1909, Marco de Canaveses, Portugal) não tiveram as comemorações merecidas - outros encalham. O próprio Leon tem consciência dos riscos em montar álbuns com cantores (as) totalmente desconhecidos e por isto mesmo procura equilibrar com ao menos um nome forte em cada disco. Se houvesse um patrocínio prévio poderia fazer projetos mais audaciosos - como, por exemplo, um elepê da única cantora paranaense que conseguiu projeção nacional, a curitibana Stelinha Egg, de quem, entretanto, vai lançar ao menos algumas gravações num álbum com outras intérpretes do folclore. xxx Com a sensibilidade de empresário - é proprietário da loja Sartori, discos e instrumentos musicais na Rua Barão do Rio Branco, 28/36 (não confundir com a "F. Sartori", na Rua Marechal Deodoro), Leon tem também recebido sugestões para reedições, procuradas pelo público. Assim está fazendo um álbum com o instrumentista Valdir Azevedo (1923-1980), o famoso autor de "Pedacinhos do Céu" e "Delicado", um dos mais exímios executantes de cavaquinho que o Brasil já teve. Um disco com sucessos de Roberto Carlos, numa gravação de orquestra de estúdio, originalmente lançada pela CBS, foi um fracasso, assim como a reedição de um belíssimo disco orquestral, com Percy Faith. Em compensação, a edição do primeiro volume de "Grandes Duetos" com Libertad Lamarque e Pedro Vargas, lançado há poucas semanas, está vendendo como pão quente. Anteriormente, também tiveram boa acolhida as reedições dos discos de Xavier Cugat e Trio Los Panchos. xxx Libertad Lamarque, cantora e atriz argentina, com carreira desenvolvida em vários países, foi um dos nomes famosos dos anos 50. Seus filmes eram sucesso de bilheteria e seus discos estavam nas paradas de sucesso. Há dois anos, em sua autobiografia (Javier Vergara editor, Buenos Aires, 370 páginas) falava de sua forma de escolher sempre músicas emotivas. Também Pedro Vargas, outro ator e cantor, de grande popularidade nos anos 40/50, dividiu com Libertad vários filmes, sucessos como "Rostos Esquecidos", rodado no México em 1955, mesmo ano em que Libertad faria "Musica de Siempre", um documentário histórico, reunindo Mejía e Amália Rodrigues, entre outros. Aposentados há anos (o último filme de Libertad foi "La Boca de Los Milagros", 1975), estas duas vozes podem ser ouvidas em 11 faixas desta reedição, com standards como "Mujer" (Agustin Lara), "O" (Mário Jesus) e "Quiereme Mucho" (Gonzalo Roig).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
07/04/1989

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