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Aramis

A catástrofe que cansa

O espectador atento que assistir "Pânico na Multidão" (cine Condor, hoje último dia em exibição) poderá lembrar, instantaneamente, "Terremoto", "Inferno na Torre" ou "O Destino do Poseidon", para citar apenas e exemplos daquilo que se convencionou chamar de "cinema catastrófico". Pois o esquema não muda em nada - alterando-se apenas os ambientes (até a presença do mesmo Charlton Heston, de "Terremoto", faz com que "Pânico na Multidão" torne-se ainda mais estandartizado). É perda de tempo e espaço demorar-se numa análise pormenorizada das motivações financeiras-psicológicas que garantem, hoje, tão grande sucesso a filmes que, propositadamente, fazem o espectador "sofrer" na poltrona. E o gênero começa a dar sinais evidentes de exaustão, em menos de seis anos: as rendas de "Pânico na Multidão", no cine Condor, se mostraram tão fracas nos primeiros dias que o executivo Egom Prim já marcou para amanhã a sua substituição - por um filme mais interessante ("O Inquilino", de Roman Polanski). Se "Terremoto" colocava uma série de personagens, com seus draminhas pessoais, frente a uma inesperada catástrofe, "Pânico na Multidão" repete a mesma e surrada fórmula - apenas modificando a causa-susto: ao invés do tremor da terra, as balas assassinas de um louco, num jogo decisivo do campeonato de futebol americano no coliseu Memorial de Los Angeles. A idéia de um assassino louco, atirando sobre as pessoas, foi desenvolvida de forma brilhante por Peter Bogdanovich, (ainda) no seu melhor filme - justamente o de estréia: "Projéteis de Morte" (Targets, 1968). Em preto-e-branco, um elenco modesto (exceto Boris Karloff, todos eram desconhecidos na época), Bogdanovich fez um thrilling excitante e crítico da violência de nossos dias. Larry Peerce, admirável ator de filmes humanos como "O Enigma de Uma Vida" ou "Quando Nem Um amante Resolve", com um orçamento generoso, elenco de nomes famosos (Charlton Heston, John Cassavetes, Martin Balsam etc.), perdeu-se totalmente nesta sua realização. O artificialismo está presente em todas as seqüências, o roteiro é de uma ingenuidade digna do pior telefilme e, aliás, a ação do grupo SWAT, comandado pelo sargento Buttons (John Cassavetes, numa interpretação indigna ao seu grande talento), parece ter sido incluída no filme apenas para dar suporte promocional a série de televisão. A idéia interessante, embora perigosa pela influência nefasta que possa trazer (um assassino num estádio com 90 mil espectadores), estimulando, neuróticos em potencial a concretizarem o que o filme sugere, foi desperdiçado pela falta de sensibilidade no desenvolvimento dos personagens, na linguagem empregada e mesmo no timing da ação. De todo elenco, a bela Gena Rowlands, é um dos únicos destaques. E a trilha sonora inclui, a certa altura, um arranjo de "Garota de Ipanema", na interpretação de uma banda marcial - o que deverá garantir, se a ACAP funcionar, alguns dólares a mais na conta do maestro Antônio Carlos Jobim e do poetinha Vinícius de Moraes. O que é bom e garante alguns Sheva's Regal a mais nos Antoninos da vida.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
15/04/1977

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