Login do usuário

Aramis

A causa dos rebeldes (vinte anos depois)

Há 20 anos, o impacto da morte violenta de James Dean (1931-1955) e o mito que transformaram, via uma exploração sensacionalista, suas posições aparentemente contestatórias, fizeram de "Juventude Transviada" num filme polêmico. Produzido no mesmo ano em que Richard Brooks realizava "Sementes da Violência" (Blackboard Jungle), com a demolidora música "Rock Around The Clock" com Bill Haley and his Comets. "Rebel Without A Cause" resistindo hoje a uma revisão, permanece mais um filme de tese de educação (de pais e filhos) do que uma análise da violência jovem. Se em 1955 o comportamento de um grupo de adolescentes inquietos poderia chocar, hoje, para uma garotada cada vez mais livre em busca de "novas emoções", a briga de facas, a corrida de automóveis roubados no despenhadeiro ou a vingança pelo companheiro morto, pode parecer até "caretice". Buzz (Corey Allen), Moose (Nick Adams), Cookie (Jack Simmons), Goon (Dennis Hopper), Chick (Jack Grinnage) e Crunch (Frank Mazzola) a fechada turma a qual o solitário Jim Stark (James Dean) tenta uma aproximação, que se transforma em violência, não podem mais impressionar aos jovens de uma nova época - embora apenas 20 anos tenham passados - mas tempo desta nova geração ter atingido a maioridade, podendo hoje portanto rever este filme que, em 1957, ao estrear no antigo cine Palácio, exigiu uma superfiscalização do Juizado de Menores, impedindo as mais criativas artimanhas dos "menores" tentanto entrar na sala de projeção. Como cinema, "Rebel Without A Cause" resiste à revisão: Nicholas Ray, com apoio do fotografo Ernesto Haller, conta com uma linguagem enxuta, com muitos angulos inclinados, à melhor maneira de Orson Welles, a inquietação de um grupo de jovem solitários, numa tentativa de comunicação com os pais - e embora o manequeísmo das posições no roteiro de Stewart Stern, muito de importante sobra ao final. [Admiráveis] as interpretações de Dean, Natalie Wood (Judy), Jim Backus (pai de Jim) e Edward Platte (comissário Ray). A trilha sonora de Leonard Rosenman tem ao menos dois temas clássicos - a briga no Planetarium e o encontro amoroso na mansão abandonada. Resistindo em muitos de seus aspectos a revisões, "Juventude Transviada" teve um (quarto) relançamento em Curitiba quase clandestino: estreou quinta-feira, em substituição a "Abdicação de um Rainha", retirado de cartaz no terceiro dia de exibição, e hoje encerra sua carreira (cine Glória, 4 sessões), embora João Aracheski houvesse prometido mantê-lo em cartaz por uma semana. Sexta-feira, na segunda sessão à noite, o filme começou cinco minutos antes da hora, fazendo com que todos perdessem a bela sequencia de apresentação dos créditos. O que deve ter irritado dois jovens, entusiasmados pela contestação da tela aproveitando um momento de descuido da portaria, a apanharem um extintor de incêndio e transformarem o hall de entrada do cinema num mar de espuma.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
26/10/1975

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br