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Aramis

Cinema

Na revista-programa de "Quem tem medo de Virgínia Woolf?", montado no Teatro Cacilda Becker, em 1965, uma citação de Friedrichs Wilhelm Nietzsche (1844-1900), auxiliava a compreensão do maravilhoso texto de Edward Albee: "durante o inverno, para se proteger do frio, os porcos espinhos são obrigados a se aproximarem, ferindo-se bastante e sangrando. Na dor eles encontram o delicado equilíbrio em que um possa aquecer o outro, sem que os espinhos os firam por demais". A guerra surda de Martha e George, numa longa noite sem fim, em sua casa no campus da Universidade de Nova Inglaterra, teve o impacto teatral (no Brasil magistralmente vivido por Cacilda Becker (1921-1969) e Walmor Chagas) levado com rara sensibilidade ao cinema por Mike Nichols, que em 1966, após já ter dirigido o admirável texto de Albee na Broadway, realizou um dos mais densos filmes dos anos 60. E por sua criação de Martha, Elizabeth Taylor (foto) mereceu o segundo Oscar de melhor atriz, que 5 anos antes já havia recebido, mas então por uma discutível interpretação em "Butterfield 8" de Delbert Mann. No ano de 1966 as relações entre Liz Taylor e Richard Burton ainda não eram tensas e o romance iniciado nos sets de "Cleopatra", em Roma, 3 anos antes, na tumultuada produção que quase levou a 20th Century Fox a falência e balançou a filmografia (respeitável) de Joseph L. Mankiewicz, ainda estava em seus dias de vinhos e de rosas. "Who's Afraid of Virginia Woolf?" foi um triunfo artístico na carreira do mais badalado casal cinematográfico dos últimos 12 anos e, para os apreciadores de bom cinema, um dos raros momentos em que o teatro filmado alcançou uma dignidade que só tem paralelo nos melhores momentos da obra (direção) de Sir Laurence Oliver ("Henrique V", 1945: "Hamlet", 1948 e "Ricardo III", 1956). 1973 nove anos depois, uma série de fracassos pessoais e artísticos (inclusive a pretensiosa adaptação de "Doctor Faustus", 1968, de Goethe-Christopher Marlowe), Liz e Dick foram notícia em primeiras páginas dos principais jornais do mundo, principalmente entre maio-outubro meses em que a crise conjugal deixou o limite de seus apartamentos (em Nova Iorque, Londres, Paris e Roma) e voltou não como "gossipes" das antigas colunas de fofocas mor da Hollywood dourada dos anos 50 (Elsa Maxwell, Hedda Hopper ou Louelea Parsons) mas, sim, como matéria jornalística de primeira qualidade. Tanta promoção não poderia deixar de ser capitalizada, principalmente por quem vive da publicidade e oferece a vida em imagens coloridas de ilusão - numa série interminável de filmes em duplas. Assim, um diretor convocado as pressas (Waris Hussein), filmou em estúdios da Baviera (Munich) e exteriores em Roma um argumento de John Hopkins, que reduz a seriedade com que Albee colocou o problema conjugal a uma dose homeopática (e colorida) uma tese realmente séria: um casal em crise, como uma grande paixão reduzida ao inferno da convivência do dia a dia. Infelizmente em "Os Divorciados do Século" (Cine Condor) tudo soa artificial e de encomenda - tão artificial quanto o comercial título dado a "Divorce His, Divorce Hers". Tudo muito diferente do que aconteceu em "Virgínia Woolf", sete anos atrás. Mas mesmo as coisas mais sérias - e dramáticas - podem faturar na Usina dos Sonhos, não é Liz-Dick?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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12
05/01/1974

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