CINEMA
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de fevereiro de 1973
Ao mesmo tempo que se volta para o (imenso) mercado existente em nosso País para a música sertaneja, editando uma coleção de 12 álbuns com duplas e trios bastante populares no Interior, a Phonogram coloca também nas lojas mais um volume da Coleção Pesquisas da Musica Brasileira, que pelo título e selo (Fontana) pode ser confundido com música sertaneja: "Bumba Meu Boi" com o grupo Sotaque do Pindaré. De nossas festas folclóricas do Nordeste, o Bumba Meu Boi é uma das mais bonitas, encontrando em termos regionais, alguma semelhança com o Boi de Mamão, do folclore catarinense. Para o folclorista Américo Azevedo Neto (foto), esta gravação não dá senão "uma pálida idéia do que é essa festa". Pois há apenas o som. Não tem cor movimentos e as sugestões que o espetáculo ao vivo oferece. Mas apesar disto este Boi de João Câncio "sotaque" de Pindaré, permite "ouvir", documenta fonograficamente, uma das festas mais características do folclore do Maranhão. O "Boi" tem naquele Estado quatro "sotaques", ou seja estilos: Boi de Matraca ou da ilha, Boi de Zabumba, Boi de orquestra e Boi de Pindaré-Viana. Cara um difere pelo ritmo, por alguns instrumentos utilizados e pelas roupas, tendo em comum o enredo: a história do boi furtado ao "Amo" (dono da fazenda e do novilho), por pai Francisco (também chamado negro Chico) para atender a sua mulher Catirina que, grávida, "deseja" comer língua de Boi. Na pobreza da documentação folclórica brasileira, onde raramente nossas gravadoras voltam-se para os ricos temas, uma gravação como esta produzido por Roberto Menescal e realizada com honestidade não deixa de se constituir num monumento válido e oportuno, principalmente se considerarmos o restrito público que atingirá.
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