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Cinema brasileiro, a crise sem happy end a curto prazo

Não foi fácil para os cineastas presentes em Brasília conseguirem fazer o presidente em exercício da Embrafilme, o mineiro Moacyr de Oliveira (realizador do curta "Canta, Diamantina" e que tentou a produção de "O Grande Mentecapto", do romance de Fernando Sabino) comparecer a um encontro com a categoria. Por telefone, as tentativas foram inúteis e só após uma comissão e nomes representativos o terem procurado em sua residência é que o atual dirigente da estatal cinematográfica convenceu-se de que deveria dialogar com a classe - representada através de várias entidades numa reunião na Sala Alberto Nepomuceno, na tarde de terça-feira, dia 1º. Críticas à Embrafilme e à Fundação do Cinema Brasileiro - que está sendo presidida interinamente pelo ex-assistente de montagem Homero Carvalho, gaúcho que residia em Curitiba (e que nem compareceu ao Festival) - não faltaram. Durante três horas, a reunião presidida pelo realizador gaúcho Henrique de Freitas Lima, 29 anos, representante dos profissionais de cinema no Concine, analisaram a trágica situação em que se encontra hoje o cinema brasileiro: desemprego, paralisação das produções, indefinição dos critérios de financiamentos da Embrafilme - que, demagogicamente, no final da última administração, assinou contratos para 17 novas produções, 17 desenvolvimentos de produção e 40 projetos de elaboração de roteiros. A administração anterior e o desmonte trazido pelo governo fizeram com que a produção cinematográfica praticamente paralisasse. Em todos os pontos há insatisfação e revolta em relação à empresa - enquanto pelo menos 15 filmes estão paralisados - o que reduzirá a produção de 1989 a menos de 20 títulos quando, no passado, atingíamos uma centena de filmes. Não há esperança a curto e médio prazo. O ministro José Aparecido, da Cultura, em reunião com representantes de 10 entidades cinematográficas, já declarou (em 4 de outrubro) que o cinema não é um caso isolado e portanto não poderá ter tratamento especial. Ou seja, os investimentos na área cinematográfica continuarão reduzidíssimos - ou mesmo inexistentes. Os realizadores, apoiados em números sólidos, fazem cobranças. Por exemplo, as distribuidoras estrangeiras devem mais de Cz$ 1.200 milhões em imposto de renda sobre a remessa de lucros para o Exterior, a partir de 1983, que constituem fonte de receita para a Embrafilme - e que possibilitariam a realização de mais de 10 longas-metragens na opinião de Henrique de Freitas Lima. Moacyr de Oliveira, mineiramente, procurou justificar a atuação da empresa em relação a cobrança deste imposto, a situação foi retardada pela falta de uma assessoria jurídica, agora "resolvida" com a contratação de "um experiente profissional". Também a lei Sarney pouco vem adiantando em termos de captação de recursos para produção de filmes. A informatização dos 600 principais cinemas lançadores do Brasil - para maior controle de receitas - é outra reivindicação dos cineastas. Abertura de novas fontes de receitas, maior agressividade nas vendas no mercado interno e uma política de marketing cinematográfico - enfim, questões fundamentais para evitar a total falência do cinema brasileiro foram levantadas no Fórum, um dos momentos importantes do Festival de Brasília. Assunção Hernandez, esposa do cineasta João Baptista de Andrade, que já realizou mais de 11 filmes, atualmente empenhada na pré-produção de "Vlado" (longa sobre o jornalista Vladmir Herzog, início de filmagens em janeiro), definiu com objetividade a questão, numa intervenção brilhante e aplaudida: - "Não queremos mendigar nada, nem favores! Queremos dignidade no tratamento, como realizadores que somos de obras culturais e que fortalecem um Estado. Em suma, queremos respeito ao nosso trabalho".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/11/1988

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