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Aramis

Cinema para ler

A bibliografia de cinema em português tem crescido, conforme aqui registramos na semana passada, em vários setores: biografias, ensaios e mesmo roteiros de filmes. Este último, pela sua própria especificidade, é ainda o que menos entusiasma os editores, pois só os que realmente se interessam por cinema - inclusive com sonhos profissionais de se tornarem roteiristas ou diretores - é que buscam volumes que tenham a transcrição de toda a parte escrita de um filme. Claro que há certos autores que garantem, em si, um público específico, como Frederico Fellini, que teve os roteiros de seus principais filmes aqui lançados, há mais de 10 anos, pela Civilização Brasileira - que foi entre os anos 50/60 a principal casa publicadora do Brasil. Este ano, a Bertrand surpreendeu trazendo o roteiro de "Adeus, Meninos", de Louis Malle, Palma de Ouro em Cannes-88 e que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Um belo volume, mostrando em detalhes a construção do texto do filme de Malle, cineasta do primeiro time. O sucesso que o filme "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz - grande premiado no Festival de Cinema de Gramado-88, fez no segundo semestre do ano passado - e principalmente do fato de que Gervitz deu um tratamento próprio ao livro autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, torna mais interessante conhecer o script, trabalhado durante mais de um ano, com vários tratamentos. Assim a Brasiliense que já lançou mais de 60 edições do best-seller de Paiva - realmente, um dos livros mais emotivos (e positivos) publicados nos últimos anos - bancou a edição do roteiro do filme, preparado pelo próprio Gervitz, 32 anos, a promissora presença do cinema brasileiro, que após ter co-dirigido com Sérgio Toledo (outra grata revelação em "Vera", 1986) seu "Braços Cruzados, Máquinas Paradas", 1979, mostrou toda a garra ao levar à tela a história do adolescente que, num acidente, torna-se paraplégico - e a partir do seu imobilismo passa a (re)ver os valores do mundo. Entre outros prêmios obtidos em Gramado (especial do júri, júri popular, fotografia, figurino, som e menção honrosa pela música) esteve o de melhor roteiro. Realmente, o trabalho de Gervitz foi perfeito. Mas não foi fácil, conforme conta: "passei dois anos intermitentes escrevendo o roteiro de "Feliz Ano Velho". Em um trabalho contínuo levaria a metade. Foi um processo muito intenso, tanto emocionalmente quanto a nível de aprendizagem cinematográfica. Fiz o que chamo de uma adaptação livre do livro de Marcelo, abandonando a fidelidade a sua estória e partindo para um trabalho de caráter ficcional onde não existem as amarras do que é "verdadeiro" ou do que é "mentira". Para quem gostou do filme - que deve ser reprisado, em breve (e que está também em disposição em vídeo), a leitura de "Feliz Ano Velho - roteiro do filme" é recomendável. Mostra como se pode fazer um best-seller um ótimo filme. Coisa que nem sempre acontece.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
03/02/1989

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