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Clube Paranaense, a terceira (esquecida) rádio do Brasil

No primeiro programa da série "O Rádio no Brasil", produzido há dois anos pela BBC de Londres e agora editado em uma caixa de cinco elepês, o pesquisador Luís Carlos Saroldi, autor do livro "Rádio Nacional, o Brasil em Sintonia", e principal pesquisador destes programas, esclarece um ponto importante: em 6 de abril de 1919 - portanto, três anos antes da primeira apresentação pública da rádio, feita em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro - os irmãos Moreira Pinto, de Recife, faziam as primeiras experiências da Rádio Clube de Pernambuco. Só que estas transmissões eram feitas mais como uma associação de radiotelefonia, cabendo, assim, o pioneirismo na transmissão pelas chamadas ondas hertezianas - assim denominadas em homenagem ao seu descobridor, Rudolph Hertz - as que aconteceram no Rio de Janeiro - na Rádio Sociedade, fundada por Roquete Pinto (1884-1954). Lamentável, entretanto, que ao citar a Rádio Pelotense do Rio Grande do Sul, inaugurada em 2 de junho de 1925, como a terceira emissora do país, não tenha sido feita nenhuma referência a Rádio Clube Paranaense, quando, em 27 de junho da época, fez-se na mansão do ervateiro Francisco Fido Fontana, a transmissão que seria seguida da criação da Rádio Clube Paranaense. Participaram daquele momento histórico - ocorrido às 11 horas da manhã - um grupo de cidadões apaixonados pela novidade: João Alfredo Silva (alagoano de nascimento, mas há anos já aqui radicado), seu irmão Oscar Joseph de Plácido e Silva, Olavo Bório, Ludovico Joubert, Euclides Requião, Bertoldo Hauer, Gabriel Leão da Veiga e Alberico Xavier Miranda, conforme pesquisas feitas pelo produtor Paulo de Avelar, para um programa comemorativo aos 34 anos da PRB-2, apresentado no dia 27/06/1958. xxx Naquela manhã foi elaborada uma ata de fundação da Rádio Clube Paranaense (o nome teria sido proposto por Lívio Moreira) e a sociedade teve como presidente o ervateiro Francisco Fido Fontana, Lívio Moreira como diretor técnico e João Alfredo Silva como secretário-tesoureiro. Na mesma ocasião era marcada uma nova reunião, para o dia 15 de julho, para discussão dos estatutos, de cuja redação Lívio Moreira ficou encarregado. Um dos primeiros radioamadores de rádio no Brasil, um dos fundadores da LABRAE, pode-se atribuir ao interesse de Lívio Moreira pelas transmissões, o fato de na então provinciana Curitiba terem se reunido pessoas de expressão social e econômica na criação de um "Clube", sem fins lucrativos, para emissões radiofônicas. Uma das possíveis explicações para a ausência de maiores citações da Rádio Clube Paranaense nas (poucas) pesquisas nacionais elaboradas até hoje, talvez seja o fato de que nascendo como uma modesta associação, sua primeiras transmissões feitas da residência de Francisco Fido Fontana - a chamada "Mansão das Rosas" (hoje na Avenida João Gualberto, de fronte ao Colégio Estadual do Paraná), atingirem pouquíssimas pessoas que possuíam aparelhos de recepção - embora, na época, os chamados "galenas" fossem fabricados artesanalmente. Ainda em 1924, as transmissões viriam a sofrer uma interrupção e só em 4 de julho de 1925, a "Gazeta do Povo" anunciava o retorno de emissões, já então apresentando uma orquestra com participação de músicos como Antônio Mililo, A. Mascheville e E. Lopes, na tarde de 10 julho executando um programa com peças semi-eruditas. Entretanto, não era fácil fazer rádio e em 1926 houve nova interrupção - que durou cinco anos. Só em 1931, se voltou a falar na Rádio Clube, já então tendo novos sócios (Flávio Luz, Oscar Peixoto), nova sede (Loja Teosófica Paranaense, Rua XV de Novembro, 517) e então sob a presidência de João Alfredo Silva. Dois anos depois, a Rádio se instalaria no chamado Belvedere, do Alto do São Francisco, com ajuda do governo do Estado, que financiou a compra e montagem de um transmissor com potência de mil Watts. Em 16 de dezembro de 1935, com um novo nome - P.R.A.N. - inaugurava-se uma nova fase, já como emissora comercial, tendo na área de contratação de anúncios, o Sr. Carlos Prado de Mendonça. Antes, porém, a emissora já vinha trazendo inovações: ali o jornalista e poeta Lucídio Corrêa Júnior (16/03/1901-28/10/1940) criou dois programas de grande sucesso - "Conversa de Passarinho" e "Tio Jango" e sua esposa, Ema Riva Corrêa - professora aposentada, forte e vigorosa em seus 85 anos - foi uma das primeiras mulheres a se apresentar como radioatriz. Pioneirismo que também se deve a Corrêa Júnior, na radiofonização de "A Ceia dos Cardeais", de Júlio Diniz, que teria a participação de dois outros jovens poetas, Heitor Stockler e Octávio de Sá Barreto. xxx Em 27 de junho de 1939, em assembléia geral, o controle acionário da Rádio Clube Paranaense passou para Epaminondas Santos, assumindo a vice-presidência o Sr. Eurípedes Garcez do Nascimento, o vice o Sr. Pedro Demeterco e as funções de diretor-tesoureiro o Sr. Eolo César de Oliveira. Inicia-se, assim, uma nova etapa do rádio. Em 1946, Tobias de Macedo Júnior conseguiria a concessão da Rádio Marumby e dois anos depois era inaugurada a Guairacá, "a voz nativa da Terra dos Pinheirais", do então governador Moyses Lupion. Uma história ampla e que está a espera de ser, minuciosamente, pesquisada e preservada para que o Paraná não continue ausente quando se fala nas radiocomunicações em nosso País. LEGENDA FOTO - Corrêa Júnior, poeta e jornalista, foi um dos pioneiros do rádio no Paraná, ali produzindo o programa "Conversa de Passarinho", que em 1934, motivou o caracaturista Brito a produzir esta ilustração.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/07/1990

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