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Aramis

Cobrinha, o canto do velho paulista

Mesmo tendo congelado temporariamente seus projetos para este segundo trimestre, o produtor Leon Barg, de Curitiba, está lançando mais um pacote de preciosidades musicais - como sempre, destinadas a terem repercussão nacional. Um destes discos - "Mágoas de Carreiro", terá lançamento festivo, em Piracicaba, dentro de alguns dias, já que será uma oportunidade de se prestar uma homenagem a um dos últimos grandes cantores rurais paulistas, Cobrinha (Victorio Ângelo Cobra, Piracicaba, 25/08/1908), que está em plena forma - apesar dele, há poucos dias, ter quebrado o braço esquerdo - razão pela qual solicitou a Barg que adiasse a festa de lançamento do disco em que foram incluídas 12 faixas gravadas entre 1939/42, nos quais faz dupla com Mariano (da Silva, 1907-1970), e, posteriormente, Capitão (José Toledo, 1905-1970). Com esta edição, Leon Barg - que como incansável garimpeiro de jóias esquecidas da MPB, vem desenvolvendo há dois anos um admirável trabalho (e que por isto merece nossa constante divulgação), volta-se ao riquíssimo cancioneiro de raízes rurais, que teve em Cornélio Pires (Tietê, 1884 - São Paulo, 1958) o seu primeiro grande produtor, a partir de 1929, quando, num pioneirismo do chamado disco independente, contratou na RCA a gravação de uma série de 78rpm com artistas caipiras, até então desprezados pelos meios de comunicação. Os resultados foram comercialmente tão atraentes que a própria RCA - e depois outras gravadoras - voltaram-se ao filão, desenvolvendo-se então a música rural até hoje, embora sem a pureza original, ponto de vendas de que sustentam várias fábricas (Continental, Copacabana, etc.). O Interior paulista deu grandes nomes a este gênero musical: de Botucatu, surgiram Raul Torres (1906-1970); Serrinha e Angelino de Oliveira (o famoso autor de "Tristezas do Jeca"); de Itapetininga, Teddy Vieira (1922-1965), o autor de "Menino da Porteira"; de Cordianópolis, João Pacífico; do Tietê, além de Cornélio Pires, Marcelo Tupinambá (1892-1953); de Indiatuba, Nabor Pires Camargo; de Salto, Gaó (Odemar Amaral Gurgel); de Cabreúva, Erotides de Campos (1896-1945), o autor da valsa "Ave Maria" (1924, letra de Jonas Neves). Mas foi em Piracicaba, que houve a maior concentração de talentos da música rural - e alguns nomes lembrados pelo pesquisador Abel Cardoso Júnior, apontam Mandi (Manoel Rodrigues Lourenço) e Sorocabinha (Olegário José de Godoy), Avelina, Zico Dias e Ferrinho, Caçula, Anísio de Godoy, Olênio de Arruda Veiga, Osório de Souza, Sebastião Roque, Nhô Serra, Pedro Chiquito, Moacir Figueira, Pedro Alexandrino e tantos outros. Assim, para homenagear toda esta geração, Leon Barg escolheu Cobrinha, reunindo seus trabalhos em duo com Mariano e Capitão, dois dos cantores com os quais formou duplas entre os anos 30/50. Cobrinha, quando viveu em São Paulo, na juventude (foi marceneiro da Mappin), já compunha e cantava na Rádio Educadora, ainda nos tempos do rádio de galena, com fones de ouvidos nos aparelhos receptivos. Desta época nasceu sua amizade com Zequinha de Abreu, Américo Jacomino (Canhoto), Paraguassu, o humorista Plínio Ferraz, entre outros nomes da história da cultura popular paulista. Retornando a Piracicaba, durante 26 anos foi prático da escola de agronomia Luiz de Queiroz - mas sem deixar o lado artístico, trabalhando na Rádio difusora de Piracicaba, da qual foi um dos fundadores, e apresentando-se também na Tupi e na Nacional, do Rio. Em 1939, com Mariano, faria seu primeiro disco com a canção "Piracicaba" (Newton de Almeida Mello), que se tornaria uma espécie de hino oficial daquela cidade. Seguiram-se outros sucessos, dos quais 12 estão reunidos neste elepê histórico, que o pernambucano-curitibano Leon Barg, apresenta numa revelação para milhares de apaixonados por MPB que embora conhecessem de nome, nunca o haviam ouvido, já que não chegou a gravar elepês e seus registros em 78rpm só existem em coleções preciosas como a do proprietário da "Revivendo". LEGENDA FOTO - Cobrinha, hoje com 81 anos, cantador de Piracicaba, num disco produzido por Leon Barg.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/04/1990

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