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Coelho, um doce reconhecimento ao grande designer de Curitiba

Manoel Coelho recebeu seu presente de Páscoa com antecipação de várias semanas: as duas mais importantes publicações sobre desenho industrial e arquitetura lhe dedicaram generosos espaços em suas últimas edições. Para um profissional da arquitetura e designer, professor da Universidade Federal do Paraná, e há 15 meses tendo uma exaustiva e delicada experiência executiva - como secretário de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura de Curitiba - este espontâneo reconhecimento nacional teve o sabor do melhor chocolate suíço - que ele tanto aprecia. "Design & Interiores" - a revista brasileira de desenho industrial, comunicação visual e arquitetura de interiores, em seu número 17, dedicou cinco páginas a cores aos 21 anos de arquitetura e comunicação de Manoel Coelho - "a maioridade do design curitibano". Em reportagem de Ethel Leon, a reportagem traz a história e carreira profissional de Coelho, 49 anos, catarinense de Florianópolis, mas curitibano de adoção. Em duas décadas de atividades do Manoel Coelho Arquiteto - comemorados com uma exposição retrospectiva apresentada no ano passado no Solar dos Leões e que estará sendo levada ao Rio e São Paulo neste ano - desenvolveu inúmeros trabalhos. Ethel Leon destaca que "no currículo não especializado de Coelho estão quinze edifícios residenciais e 28 comerciais, 38 casas, oito centros esportivos, dezesseis prédios ligados a ensino e mais de 100,000 m² de paisagismo em diferentes cidades. Isso sem falar na enorme quantidade de logotipos, marcas, projetos de sinalização e identidades corporativas. xxx Detalhando as várias etapas de sua carreira - seu início como estudante de arquitetura (depois de uma passagem pelo curso de desenho da Embap, antecedido de um ano no curso de meteorologia do Instituto Politécnico), com passagens por uma firma de construção antes de chegar no edifício Arthur Hauer, na Praça Osório, onde dois jovens arquitetos - Domingos Bongstabs e Jaime Lerner - começavam a deslanchar uma brilhante carreira. Lembrando aquela fase, Ethel Leon relata: "Naquela época, principalmente para os estudantes de engenharia, arquiteto era bicha ou comunista", conta Coelho, sempre rindo. - "Desde o começo de minha carreira acreditei muito na organização, na persistência e no trabalho organizado..." Impressionou a jornalista de "Design & Interiores", a sua organização. "Ao contrário de tantos colegas que se embaraçam por não encontrar a documentação de um projeto, Coelho tem um cuidado extremo com seu arquivo, onde um estudioso, no futuro, pode consultar e aprender muito sobre a arquitetura e o design gráfico feitos no Paraná durante várias décadas". xxx Em 1965 e 1967, Coelho participou das Bienais de São Paulo, que na época incluíam a arquitetura como categoria de premiação e realizavam concursos internacionais de escolas (tirou o segundo e o terceiro lugar, respectivamente). Em 1968, já formado, foi trabalhar no Ippuc, na época presidido por Jaime Lerner, e cujos atributos eram pôr em prática o plano diretor da cidade, executado pelo urbanista Jorge Wilhelm. Desta fase, Coelho recorda: - "Foi então que percebi como me sentia melhor trabalhando para muita gente. Não era uma casa onde iam morar quatro pessoas. Era mexer no sistema viário, era pensar nos problemas de 150.000 pessoas - a população de Curitiba na época". Coelho se orgulha de ser um arquiteto que não trabalha para especuladores. "A qualidade da própria obra não se separa de seu sentido social" - afirma. "Me lembro sempre de um professor de arquitetura que dizia: fazer um campo de concentração não é projeto de arquitetura. A idéia de liberdade rege minha vida. Hoje, volto a um cargo público sem medo, livre para sair na hora em que não achar bom estar lá". xxx Pela própria natureza da revista "Design & Interiores", editada em São Paulo, há três anos, a reportagem de Ethel Leon destaca este lado da atividade de Manoel Coelho, que desde 1975 já estava envolvido com a implantação dos cursos de desenho industrial e comunicação visual da Universidade Federal do Paraná. - "Tentei de tudo para levar o curso para a área tecnológica e não para artes plásticas, como acabou acontecendo. Era muito importante para que o curso ficasse junto da arquitetura, onde havia já dois laboratórios, um ateliê, laboratório fotográfico. Não consegui nada disso e larguei o curso dois anos depois, me mantendo apenas na arquitetura". Coelho não se define como arquiteto ou programador visual: - "Acho essa briga meio estéril. Os primeiros designers foram arquitetos de formação. E eu próprio devo à comunicação visual a capacidade de síntese, de organização que hoje transborda em todas as minhas atividades". Apesar de ocupadíssimo há um ano com os pepinos de cada dia na Secretaria do Desenvolvimento Urbano, Coelho foi quem criou (graciosamente) o logotipo desta terceira administração de Jaime Lerner. Confessa um sonho: - "Gostaria de deixar coisas que durassem. Tenho um sonho antigo que poderia se resumir no seguinte: respeito ao espaço da cidade. A cidade não é um posto, por onde qualquer um passa e pinta ou cola uma coisinha. Mandei retirar os outdoors irregulares e quero acabar com o abuso dos carros nas calçadas". xxx Enquanto "Designer & Interiores" dedicou cinco páginas ao perfil profissional de Manoel Coelho, a "Projeto" - revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial e construção, em seu número 129, dedicado a uma ampla análise da arquitetura dos anos 80 e as tendências da nova década, inclui entre os melhores projetos, o Parque Municipal que Manoel Coelho projetou entre 1987/88 para Uruçanga, em Santa Catarina - uma das cidades onde seu escritório executou vários e importantes trabalhos. Coelho foi também um dos melhores dos 14 arquitetos convocados pela direção da revista para uma mesa redonda em que foram comentados os anos 80 com as vistas voltadas para o fim do milênio: conceitos, tendências, nomes, obras que marcaram ou marcarão o panorama arquitetônico brasileiro. Para Coelho, o que houve de mais marcante no Brasil, nesta década, foi o fato da produção de arquitetura ter rompido, definitivamente, os limites do Eixo Rio-São Paulo não só em volume mas em qualidade. - "O trabalho produzido em outras cidades de várias regiões do país, embasado em conceitos vigorosos e característicos regionais, nos aponta, quem sabe, os caminhos de uma arquitetura brasileira". LEGENDA FOTO - Manoel Coelho: um destaque merecido.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
01/04/1990

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