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Aramis

Como encenar uma ópera com recursos próprios

Quanto custa a montagem de um espetáculo como "Tosca"? Muitos milhões, por certo. Um orçamento amplo, pois em qualquer teatro do mundo a montagem de óperas é sempre elevada. E sempre que se faz uma produção como esta vem a questão de se há justificativa para um investimento elevado num espetáculo que, a rigor, tem temporadas curtas (até domingo, em diferentes horários). Entretanto, assim como aconteceu com as outras produções que movimentaram o Teatro Guaíra neste ano - as peças "Otelo", de Shakespeare; "Galileu", de Brecht e "Noite da Taverna" de Alvarez de Azevedo, na adaptação de Oswaldo Mendes (em cartaz no auditório Salvador de Ferrante); os ballets "Maria Bueno" e "Flics" e também a ópera anterior, "Dom Giovanni", de Mozart, as produções foram realizadas com recursos próprios. Ou seja, dinheiro que a tesouraria do Guaíra arrecadou no aluguel dos seu auditórios para espetáculos comercialmente bem sucedidos, trazidos por vários empresários, e que, aplicados convenientemente resultaram em saldos favoráveis. Uma administração que está provando a possibilidade de se fazer grandes produções sem necessidade de subvenção oficial. Um exemplo que vale os maiores elogios ao advogado Constantino Viaro, 52 anos, repetindo na superintendência da Fundação Teatro Guaíra, as excelentes performances executivas que teve em cargos importantes na Prefeitura de Curitiba e também como presidente do Clube Curitibano - que, sob sua administração, teve um grande destaque em setores culturais e esportivos - sem esquecer a área social. Viaro também está provando aquilo que defendemos há meses neste espaço: a ociosidade da direção de programação e arte. Ao contrário, podendo trabalhar com maior liberdade, sem idéias tolhidas, mesmo com isto tendo que se dedicar mais horas ao teatro, Viaro comprovou neste anos que a ausência da figura do diretor de programação e arte não prejudicou, em absoluto, o projeto cultural que havia programado. Com a direção administrativa confiada ao experiente Joel de Oliveira, 54 anos, 35 de vida artística e um dos funcionários mais antigos da Fundação, Viaro soube administrar de forma dinâmica e equilibrada, sem protecionismos a grupos (como acontecia anteriormente) e, fazendo as finanças equilibrarem-se (nunca é demais lembrar que ao assumir, há dois anos, a FTG estava no vermelho, com problemas seríssimos) realizar um programa cultural importante. Se os espetáculos apresentados foram melhor ou pior sucedidos é uma outra questão. Sua função tem sido a de estimulador e administrador, deixando a criação a cargo dos profissionais contratados para montarem peças, ballets e óperas que fizeram com que a FTG tivesse uma programação ativíssima - e que se encerra agora com as temporadas da peça "Noite na Taverna", dirigida por Adhemar Guerra - com um elenco de artistas do Paraná, e a superprodução de "Tosca". O diretor administrativo Joel de Oliveira acredita que só nesta temporada será possível recuperar mais de 50% do investimento feito na produção de "Tosca". Existe um público fiel ao gênero operístico, especialmente de autores italianos, que, em ocasiões anteriores, em apresentações de outras óperas em Curitiba lotou o grande auditório do Guaíra. Com ingressos reduzidos considerando a grandiosidade do espetáculo (NCz$ 20,00 a NCz$ 40,00), a produção de "Tosca", considerada uma das mais importantes obras do teatro lírico, atingirá, sem dúvida, uma grande faixa da população. Apreciadores do belcanto, de outras cidades, também estão vindo a Curitiba nesta semana para assistir a ópera de Puccini, inclusive em excursões culturais organizadas ou mesmo programas especiais, como o oferecido pelo Bourbon Hotel. Dois elencos diferentes se revezam na apresentação de "Tosca", oferecendo aos estusiastas do gênero a oportunidade de comparar as suas interpretações. E não é pequeno o número de curitibanos apaixonados por óperas que já reservaram ingressos para assistirem duas - e em alguns casos - até três vezes o mesmo espetáculo. Se "Don Giovanni", de Mozart, montado no primeiro semestre, teve problemas de produção e mereceu críticas cruéis (mas também encontrou defensores entusiastas), a produção de "Tosca" foi desenvolvida com maior tranquilidade. O Régisseur Marcelo Marchioro, 37 anos e o diretor musical, maestro Alceo Bocchino, 70 anos, tiveram um entrosamento perfeito para realizarem uma produção que envolve, no total, cerca de 300 pessoas, entre elenco, músicos, coral, equipe técnica etc. Em alguns momentos, mais de 100 pessoas estão no palco do grande auditório - numa dimensão humana só comparável a de "Paraná - Terra de Todas as Gentes", de Paulo Vítola e Adherbal Fortes, que inaugurou o teatro há 14 anos passados. Independente das apreciações críticas em torno desta montagem - cuja estréia ocorreu ontem à noite - o importante é o esforço, seriedade e dignidade com que a produção foi realizada. Um espetáculo caro, sem dúvida, mas que se constitui numa proposta do governo do Paraná, em, administrando bem os recursos próprios do Teatro, incluir Curitiba entre as cidades que comportam hoje espetáculos da dimensão desta ópera de Rossini. LEGENDA FOTO 1 - Deborah: Tosca londrinense. LEGENDA FOTO 2 - Marcelo: ópera desde a infância.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/10/1989

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