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Aramis

A comunicação em questão

Vai de longe a época em que livros sobre comunicação representavam encalhe. A Sumus Editorial ao criar a coleção "Novas Buscas em Comunicação" provou a vitalidade desta especificação, chegando aos 40 títulos, enquanto outras casas - como a Brasiliense - também acreditam no interesse de profissionais (jornalistas, publicitários etc.), estudantes ou estudiosos em melhor entender a chamada mídia - por obras teóricas a respeito. José Marques de Melo, 47 anos, um dos mais férteis autores do gênero, passou seis meses na Espanha e o resultado é um novo título em sua bibliografia: "Espanha: Sociedade e Comunicação de Massa - Resgate do Perfil Construído pela Imprensa". Nas 128 páginas, Marques de Melo faz uma análise da Espanha após a morte de Franco, observando questões de economia, sindicais, serviços públicos, religião e de integração européia na primeira parte. Na segunda, mostra como interagem universidade e veículos de comunicação de massa face aos novos acontecimentos. Jornais e revistas são reproduzidos ao longo do livro, oferecendo ao leitor um elemento a mais para as suas próprias conclusões: a dimensão da importância atribuída pela imprensa aos problemas espanhóis. Já Emílio Prado, radialista, jornalista e professor da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, em "Estrutura da Informação Radiofônica" mostra a importância deste veículo, ainda o sistema de distribuição de mensagens mais abrangente, ágil, e barato com que conta a sociedade atual, salientando que o jornalista que escolhe esse meio de comunicação para atuar deve fazer uma mudança radical em sua mentalidade informativa, baseada em dois aspectos: a estrutura da informação radiofônica tem muito pouco a ver com a mídia impressa e a notícia tem que ser trabalhada de uma forma adequada ao meio em que será divulgada. Em "Imagem das Mãos - O Vídeo Popular no Brasil", Luís Fernando Santoro faz um estudo do que é o chamado vídeo popular, como tem sido utilizado entre nós e quais as suas perspectivas de desenvolvimento. A produção de vídeo por grupos e instituições ligados a sindicatos, associações de moradores, instituições religiosas etc. visam informar, animar, conscientizar e mobilizar, de forma que se possa aplicar este novo meio de comunicação para ajudar os povos da América Latina a "emergir do subdesenvolvimento ao desenvolvimento, da subcultura à cultura, da subvida à vida" como diz o autor. Assim, analisa as potencialidades do vídeo popular e das experiências feitas especialmente no Chile, Peru, Equador, Bolívia, países em que a produção do vídeo populartem sido mais significativa. Conclui com uma análise da produção, em que reflete sua experiência de professor universitário e sua atividade prática e sua militância. Uma outra visão da comunicação por imagens é feita por Maria Thereza Fraga Rocco em "Linguagem Autoritária - Televisão e Persuasão", incluída na coleção "Comunicação e Informática" da Brasiliense. Partindo da transcrição de sete comerciais e seis programas de Silvio Santos, a autora estuda a coerência de intenção e sentido das mensagens verbais na televisão, destruindo a noção de que se trata de uma fala espontânea e inocente. Outra análise importante da televisão brasileira é a que os franceses Michele e Armand Matterlart fazem em "O Carnaval das Imagens" (tradução de Suzana Calasans, 208 páginas, Brasiliense). Ao tratar da ficção televisiva, os Matterlart lançam um olhar de "estrangeiros" sobre a sociedade, revelando pontos que nos passam despercebidos. Primeiro mostrando como o produto televisivo brasileiro se insere dentro do mercado internacional. As surpresas que as Networks americanas e televisões européias - sem falar de países de terceiro mundo - demonstraram diante das telenovelas brasileiras, revela a importância deste novo produto industrializado no mercado mundial. Registrando a aceitação de "Escrava Isaura" em Cuba (e na China) e "Brilhante" na França, Michele e Armand Matterlart indagam: como um país de terceiro mundo consegue uma produção internacionalizada capaz de competir com séries como "Dallas"? Outros assuntos - como o momopólio da televisão, Estado ou mercado - são repensados à luz da própria experiência brasileira, o que recoloca em pauta as correntes teorias de comuicação e o posicionamento social das forças políticas. xxx Independente da agilidade do rádio, da ascensão do vídeo ou do poderio da televisão, o fato é que a imprensa escrita ainda é a que permanece. Jornal é, afinal, um produto que diariamente se testa, se produz, se consome. Não nasce apenas das notícias que o cotidiano gera ou dos artigos e editoriais que dia-a-dia impõe que sejam incorporados ao que se imprime: o profissionalismo requer um aprendizado, um saber fazer que presume uma etapa anterior à elaboração do jornal. Já se vê que a aprendizagem proporcionada pelas faculdades de jornalismo tem que passar pela experiência que imite o ambiente das redações, o convívio com as fontes de notícias. Justamente neste sentido de formação e refletindo diferentes experiências brasileiras, surge o Jornal-Laboratório", de Dirceu Fernandes Lopes (Summus, 192 páginas). Lopes inicia o livro levantando as questões teóricas fundamentais: a articulação teoria-prática no ensino do jornalismo, a política editorial e o processo de decisão - o que enfocar, como levantar o material, como registrá-lo em linguagem escrita. Dirceu estuda, com detalhes, três casos clássicos; um em Brasília - o Campus, editado pela Universidade de Brasília; o Marco, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e o Rudge Ramos Jornal, do Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo do Campo, SP. Ficamos sabendo, pelo texto e pelas reproduções de muitas páginas destes jornais-laboratórios, em que consistem estas experiências e seus reflexos na formação dos futuros jornalistas, nas comunidades próximas (público, divulgação, repercussão etc.)
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/01/1990

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