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Corrêa Júnior, o pioneiro do radioteatro no Brasil

As comemorações dos 80 anos de Emiliano Perneta (03/01/1866-19/01/1921) embora só venham a acontecer dentro de um ano já justificaram algumas primeiras preocupações do Centro de Letras do Paraná para que a obra do autor de "Pena de Talião" seja devidamente revalorizada. O centenário de nascimento de Dario Vellozo (Rio de Janeiro, 26/11/69 - Curitiba, 28/09/1937) há 20 anos passados fez com que o Instituto Neo Pitagórico, por ele fundado há 60 anos, providenciasse a reedição de toda sua obra - que, em 1987, quando do cinquentenário de sua morte, também mereceu algumas reavaliações. Agora, entre as efemérides deste ano, está o cinquentenário de morte do poeta jornalista, homem de teatro e pioneiro do rádio paranaense (Lucidio) Corrêa Júnior (Curitiba, 16/03/1900) - 28/10/1940) - que não pode - nem deve - passar desapercebido. Embora até agora nenhuma instituição cultural - ou mesmo as Secretarias de Cultura - tanto do Estado como a Municipal - sequer se tivessem apercebido desta efeméride, a primeira homenagem já foi feita: na semana passada, sua viúva, dona Ema Riva Corrêa, gravou um depoimento para o projeto Memória Histórica do Paraná - que graças ao patrocínio do Bamerindus vem registrando imagens e vozes de todos aqueles que ajudaram, de alguma forma, a fazer o Paraná em seus diferentes aspectos. Embora a entrevista partisse, a princípio - e por vontade própria Sra. Ema Riva Araújo - em torno da vida e obra do poeta Corrêa Júnior, morto ainda jovem, de um problema cardíaco - a professora Riva também tinha muito a contar sobre a sua vida. Professora por quatro décadas - por 28 anos diretora da Escola Conselheiro Araújo, dona Ema foi atriz em sua juventude - quando conheceu Corrêa Júnior e, posteriormente, foi a primeira radioatriz a trabalhar na Rádio Clube Paranaense, quando a pioneira emissora - a terceira do Brasil - tinha seus estúdios no belvedere no Alto de São Francisco. Pesonalidade fascinante, atuando no jornalismo boêmio e literário que se fazia na Curitiba dos anos 20 e 30 - quando uma geração de jovens intelectuais sacudia as estruturas tradicionais de acomodada inteligentzia provinciana - Corrêa Júnior foi também um dos atores de destaque em muitas montagens do Centro de Cultura Teatral, companhia fundada por Buzetti Mori e que, por anos, se constituía na grande rival da Sociedade Paranaense Renascença, de Salvador de Ferrante (1892-1935), mas com quem, finalmente, haveria uma reconciliação e fusão dos dois grupos. Infelizmente, logo depois Salvador de Ferrante viria a falecer, a exemplo de Corrêa Júnior, também jovem. Foi na montagem de "O Grande Amor", do italiano Maria Nicodemi, direção de Buzetti Mori, que tanto Corrêa Júnior como Ema Riva se conheceram. Amor à primeira vista, namoro controlado pelos pais da jovem e o casamento realizado em 24 de maio de 1930. Embora atuante na imprensa paranaense e já com livros publicados a partir de 1929, quando dedicou "Enxu e Mandaçaias" a sua noiva e musa inspiradora - Corrêa Júnior sonhava em fazer carreira nos palcos cariocas. Tendo conhecido Procópio Ferreira numa de suas vindas a Curitiba no antigo Teatro Guayra, foi convidado pelo então grande nome do teatro e por um ano integrou a sua companhia. Mas o espírito de curitibano, acostumado a cidade (então) pequena, dos amigos intelectuais e, principalmente, saudades da noiva Ema que havia deixado, o fizeram retornar e aqui permanecer. Jornalista atuante em jornais da época - como "Diário da Tarde", Corrêa Júnior, sempre antenado com o novo, sentiu que um novo veículo - o rádio, trazido em setembro de 1927 a Curitiba, pelos pioneiros fundadores da Rádio Clube Paranaense - poderia oferecer novo espaços para sua criatividade. Assim, ali viria a fazer as primeiras experiências de radioteatro, com uma apresentação de "A Ceia dos Cardeais" de Julio Diniz, na qual, mostrando incrível versatilidade, interpretou três diferentes personagens. Em dois programas regulares, que manteve por vários anos - "Conversa de Passarinho" e "Tio Jango" também usava elementos de radioamador e trazia novidades a época, inclusive efeitos de sonoplastia. - "Acompanhando o Corrêa, foi que comecei a fazer rádio" -, lembra dona Ema Riva, salientando que enquanto "Conversa de Passarinho" se dirigia ao público adulto, numa linha política, o "Tio Jango" era um programa destinado as crianças, em outro pioneirismo que também se pode creditar a PRB-2. Recorda dona Ema: - "Como todos se conheciam em Curitiba o programa do Tio Jango era muito bem aceito pelas crianças, os pais que tinham problemas com a rebeldia dos filhos pediam, que no programa, o Corrêa puxasse as orelhas dos pirralhos. E muita gente que depois ficou famosa, na infância, levava admoestações no ar". Os programas eram produzidos e apresentados por Corrêa Júnior, com uma pequena equipe da qual, naturalmente fazia parte sua esposa. Ele também buscava patrocinadores e o velho Calluf, dono do Louvre por anos fez questão de ter exclusividade no patrocínio do "Conversa de Passarinho". LEGENDA FOTO - Corrêa Júnior (a direita) com Procópio, cuja companhia integrou por um ano no Rio de Janeiro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/02/1990
ema riva faz hoje 104 nos de vida

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