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Aramis

"Cozinheiro" premiado é fritado no Lido I

Não é só a Fucucu que tem uma programação discutível, pela falta de critérios e, principalmente, melhor visão cultural do responsável pela escolha dos filmes marcados para os 4 cinemas comerciais explorados pela instituição - desprezando obras inéditas, insistindo em reprises e sem dar melhor atendimento às salas de exibição. A própria CIC, multinacional com três salas em Curitiba - Lido I / Lido II e Condor, como tem sua programação definida no Rio de Janeiro, impossibilita que o simpático e competente Egom Prim, veterano representante da empresa no Paraná, possa, muitas vezes, realizar trabalhos promocionais que auxiliariam a carreira de filmes de arte, que, fugindo aos esquemas mercadológicos tipo "De Volta para o Futuro", exigem um tratamento com maior requinte. Por exemplo, na terça-feira à noite, ainda não se tinha confirmação da estréia hoje de um dos melhores filmes do ano, uma obra de arte que exigiria uma promoção especial - como pré-estréia para imprensa, divulgação cuidadosa, etc. - no Lido I: "O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante". Pior ainda, não se sabia, antecipadamente, se esta produção de primeira categoria, sensação no Festival de Veneza em 1989, onde foi apresentada hors concours - e o grande premiado no V FestRio (Fortaleza, novembro/1989) seria exibido em 5 sessões ou se entraria como "tapa buraco", ou seja, apenas nas sessões noturnas do Lido I - que à tarde manteria "Lua de Cristal", de Tizuka Yamazaki com Xuxa e Sérgio Malandro. xxx Premiado com o Tucano de Ouro como melhor ator e valendo o Tucano de Prata a Helen Mirren como melhor atriz, "The Cock, The Thief, his Wife and her Lover", foi recebido com aplausos em Fortaleza e para muitos mereceria ter levado todos os prêmios do Festival. Para quem acompanha o cinema contemporâneo, sabe que o inglês Peter Greenaway, 48 anos, é hoje um dos mais respeitados realizadores. Vindo da televisão britânica, artista plástico, após uma série de documentários e filmes experimentais, tem colecionado prêmios e surpreendido sempre crítica e público com filmes notáveis como "O Contrato da Morte" (The Draughstsman's Contract", 1982), "Azed and Two Noughts" (1986), "A Barriga do Arquiteto / The Belly of an Architect" (1987) e "Afogando em Números / Drowning by Numbers" (1988). Com exceção deste último, exibido por duas semanas no Cine Ritz, há alguns meses, seus filmes são inéditos em Curitiba, embora "A Barriga do Arquiteto" já tenha sido lançado em 35mm no Brasil. Existe também uma cópia em vídeo, lançada pela Globo Vídeo, totalmente desaconselhável para quem deseja conhecer o real Greenaway: é impossível na telinha passar toda a beleza, a dimensão estética e a profundidade de seus filmes, que tanto pelos roteiros absolutamente originais como, principalmente pelo belíssimo trabalho que integra a fotografia, direção de arte e música, resultam em obras especiais. A fotografia deste "O Cozinheiro...", de Sacha Vierny, o mestre das imagens favorito de Alain Resnais ("Hiroshima, meu Amor", "A Guerra Acabou", "O Ano Passado em Mariembad", etc.), uma das poucas influências admitidas por Greenaway. Um filme riquíssimo para interpretações diversas - e sobre o qual não nos cansamos de enaltecer desde que o vimos, em sua primeira exibição no Brasil, em Fortaleza - "The Cook, the Thief, His Wife and Her Lover", corre o risco de entrar hoje em exibição no Lido I, ter apenas algumas dezenas de espectadores e ser retirado de cartaz devido à forma com que está sendo lançado, acrescido da tradicional falta de interesse de nosso (dito) intelectualizado público por obras do melhor cinema. Aqui fica a dica e o alerta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
17/08/1990

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