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Criar, nossa editora entre as 100 maiores

A inclusão de uma editora de Curitiba - Criar - entre as 100 maiores do Brasil, conforme levantamento realizado pelo jornal-revista "Leia Livros" (nº 92, junho/86, Cz$ 11,00) é extremamente estimulante considerando-se a pobreza do Paraná nesta área. Enquanto no Rio Grande do Sul existe hoje uma dezena de atuantes casas publicadoras de porte nacional e, em Santa Catarina, além da eficiente Editora da Universidade Federal, ter uma ação intensa, também há três casas publicadoras, no Paraná as tentativas editoriais têm sido frustradas. Rompendo este ciclo desanimador - que vem desde os nostálgicos tempos da saudosa Editora Guaíra, do advogado e jornalista Oscar Augusto De Plácido e Silva, nos anos 40/50 (quando chegou a ter uma presença nacional), o catarinense Roberto Gomes, professor e escritor, conseguiu, em poucos anos, e com uma inteligente política editorial, fazer com 29 títulos, a Criar ficar em 50º lugar no ranking das 100 maiores editoras brasileiras. No ano passado a Criar lançou 12 livros num total de 55 mil volumes impressos, com uma tiragem média de 5 mil por título e num percentual de 38% de primeiras edições sobre o total de títulos. xxx Embora o levantamento da "Leia Livros" tenha sido prejudicado pela antipática postura de algumas editoras - como a Saraiva, Pensamento, Cultrix e Revista dos Tribunais em não fornecerem informações - e se restringir apenas aos livros não didáticos, trata-se de um interessante estudo sobre uma das áreas que vem apresentando maior estabilidade e crescimento no Brasil. Com 466 títulos lançados em 1985 e um total de 2.766.069 exemplares, a Record, do Rio de Janeiro, se situou em primeiro lugar entre as 100 maiores editoras. Em segundo lugar, a tradicional Vozes, de Petrópolis, com 451 títulos (e 3.238.500 exemplares), seguida da Brasiliense (433 títulos), Irmãs Paulinas (419), Círculo do livro (33), Nova Fronteira (231), Melhoramentos (221), Ática (216), Atlas (213), Nobel (175), Global (169), Nova Cultural (ex-Abril Cultural, 143), Loyola (140), Nacional (130) e L&PM (de Porto Alegre, 107), nos 15 primeiros lugares. xxx A produção editorial brasileira, excetuando-se o ramo específico dos livros didáticos, atingiu no ano passado, segundo as informações levantadas pela "Leia Livros", 33.198.762 exemplares, contra 28.672.35 exemplares em 1984, com um crescimento de 15,8%. O número de títulos publicados passou de 6.015 em 1984 para 6.696 em 1985, o que representa um acréscimo de 9,7%. Estes dados representam grande parte da produção livreira do País nas grandes áreas de ficção, não-ficção e infantil. Eles indicam claramente um expressivo crescimento do setor, acompanhando o desempenho do restante da economia. Entretanto, um dado muito importante, que parece alertar contra qualquer visão cor-de-rosa da evolução do mercado editorial - como adverte José Corrêa, da própria "Leia Livros", em análise complementar da tabulação, é que a expressiva redução da tiragem média por título, que caiu de 6.925 em 1984 para 4.444, aparentemente devido ao crescimento da inflação em 1985 e os problemas de capital de giro que isso colocava. Ao lado do crescimento da tiragem média das principais editoras (com destaque para a Nova Cultura e Ática), este dado parece indicar uma importante mudança no mercado, numa tendência à segmentação do setor entre grandes empresas com uma alta tiragem e pequenas e médias editoras com tiragem bem mais reduzidas. O grau de oligopolização do setor é claramente quantificado se introduzirmos a Record entre as 10 maiores deste ano e somarmos sua tiragem à tiragem total. Verificamos que s 10 maiores editoras foram responsáveis pela publicação de 24.434.586 de exemplares, ou seja, 68% da tiragem total registrada - contra 66,5% em 1984. xxx Enquanto a Record foi a maior por lançamento - com 199 títulos em primeira edição (seguida da Brasiliense, 186; Paulinas, 184; Vozes, 149 e Círculo do Livro, 122), a Nova Cultural lidera o ranking por tiragem: 4.071.200 (28.469 por edição) - o que se explica pelo seu processo de massificar as vendas por 18 mil pontos de vendas (bancas de revistas, stands, etc.) no País - contra apenas 700 livrarias tradicionais que existem no Brasil (centenas de municípios não possuem livrarias). E a Nova Cultural (ex-Abril) edita basicamente best-sellers ou coleções - como os romances de Frederick Forsith e Sidney Sheldon; as séries "Os Economistas" (51 títulos), "Os Pensadores" (68 títulos) e coleções-breques tipo "Bianca", "Marc Bolan"e "Phoenix Force". xxx Outra revelação interessante do levantamento da "Leia Livros" diz respeito à renovação do catálogo das editoras. As primeiras edições correspondem a 47,6% do total dos títulos publicados em 1985, contra 44,85% em 1984, indicando uma tendência dos editores a correrem maiores riscos, aparentemente porque o mercado responde positivamente. Por outro lado, a tiragem média dos títulos publicados em primeira edição, de 3.429 exemplares, é compreensivelmente menor do que a tiragem média total de 4.444 exemplares por títulos. xxx No final dos anos 70, a Grafipar, com a agressiva linha de publicações erótico-pornográficas, chegou a se posicionar em 7º lugar entre as editoras brasileiras. Seu crescimento, entretanto, sofreu com a política econômica e a empresa entrou em concordata, desativando suas edições. Nos últimos meses, muito discretamente, o seu proprietário - editor e globetrotter (está agora em Nova Iorque, após ter acompanhado o trem da alegria de José Richa ao Oriente), Faruk El-Khatib vem tentando voltar ao mercado, com alguns títulos de revistas na mesma linha (que ele define de "erótico-educativas"). Faruk é também o diretor da Rádio Estadual do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
24/06/1986

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