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Aramis

Criar, o bom exemplo da honesta editoração

É lamentável que ao lado dos nomes escolhidos pessoalmente pelo secretário René Dotti para compor o grupo de trabalho que estuda a implantação da Fundação Estadual do Livro não tenha sido sequer lembrado do professor e escritor Roberto Gomes, 42 anos, catarinense de São Francisco do Sul, desde 1964 radicado em Curitiba - e o mais organizado e dedicado de todos que, até hoje, aqui tentaram implantar uma indústria editorial. Possivelmente, Gomes talvez nem aceitasse o convite. Descrente do oficialismo cultural ( na administração anterior, descartou sugestões em torno de seu nome para integrar o Conselho Estadual da Cultura, para não se comprometer com os descalabros ocorridos no período), Gomes nunca buscou cargos ou favores oficiais. Modesto, simples, com 8 livros publicados (que já atingiram 26 edições e 140 mil exemplares vendidos), incluindo o "Crítica da Razão Tupiniquim", Gomes é um autor com uma boa imagem nacional. Profissionalmente, vem tentando fazer de sua Criar uma casa publicadora de prestígio e com 42 títulos e 6 anos no mercado, já atingiu a 49º posição entre os 100 maiores editoras do país, conforme o ranking que a insuspeita "Leia Livros" realiza anualmente e que estará divulgando na edição que circula na próxima semana (ano passado sua posição foi a de 50º lugar). Considerando que há no Brasil mais de 3 mil editoras registradas - 20% das quais atuantes - a posição da Criar, com seus livros infantis, ensaios, romances, buscando prestigiar os autores paranaenses, é de destaque. xxx Roberto Gomes é o exemplo do editor sério e honesto, buscando o seu espaço num segmento da indústria cultural que só tem crescido no Brasil nos últimos anos, haja visto as tiragens impressionantes (para a realidade brasileira) que as edições vêm atingindo, mesmo de autores até há pouco considerados difíceis e pouco comerciais. Gomes tem idéias firmes e precisas sobre a questão editorial. De princípio, diz: - "Editar livros é para profissionais. Amadorismo é perigoso e arriscado!" Acostumado a ser procurado por dezenas de poetas (e como há poetas nesta terra), ficcionistas e mesmo autores de outros gêneros, Gomes tem pacificamente, atendido a todos, mas, em termos de publicação tem que ser, necessariamente, rigoroso, já que saber editar qualidade, autores que atinjam o público exige muita visão e feeling. Em termos de poesia, por exemplo, só edita Helena Kollody, a poeta maior do Paraná, e que durante toda a sua vida custeou seus próprios livros. Gomes foi o primeiro editor a procurar a professora Helena Kollody, que ficou surpresa em saber que pela primeira vez ela não teria que pagar para ver impressas suas (maravilhosas) poesias. Resultado: o lançamento de Kollody pela Criar teve repercussão nacional e desde o primeiro trimestre seguinte a saída do livro, tem seus direitos autorais devidamente colocados à sua disposição. Só que em sua generosidade eslava a dona Helena não recebe em dinheiro: prefere adquirir livros para, por sua conta, distribuí-los à bibliotecas de todo o Paraná e mesmo em outros estados. Comenta, em sua voz calma e musical: - "A poesia sempre foi algo tão especial em minha vida, que não consigo vê-la se transformar em dinheiro, direitos autorais." xxx Editoras registradas no Paraná há muitas. Atuantes, é outra questão. O livreiro Aramis Chaim, dono de uma das mais prestigiosas livrarias universitárias da cidade, decidiu, por exemplo, ingressar no ramo editorial lançando o Atlas Físico do Paraná (86 páginas, Cz$ 250,00) dos professores Cecília Maria Westphalen e Jaime Cardoso (cuja primeira edição saiu pela Secretaria da Cultura, na administração Luis Roberto Soares) e que agora teve supervisão técnica de Roberto Gomes, que aliás sempre empresta seu know-how na área para quem o procura profissionalmente. O simpático representante da poderosa Editora Record no Paraná, Virgilio Avanci, 52 anos, 17 no mercado de livros, recebia tantos originais que, encaminhados aquela casa publicadora, voltavam com cartas de recusa, que ele decidiu criar uma editora "para abrigar autores de talento, mas que são desconhecidos". O primeiro editado é o jornalista Luis Augusto Moraes, 32 anos, autor de "História Mulher", que lançado há dez dias inaugurou a editora Gralha Azul. Lidia Hopk, outra estreante, será a segunda autora a ser publicada, com um romance (com toques de realidade) que ainda não tem título definido. Depois virão dois livros infantis, numa programação modesta e equilibrada, pois Virgilio, experiente e seguro conhecedor do mercado, não quer "dar o passo maior que a perna". Tanto é que continua a representar a Record - hoje a maior editora do país - e a distribuir territorialmente outras de bom cacife - como a Moderna, Global, Rocco, entre outras. xxx A história editorial no Paraná está a espera de uma pesquisa, pois inexiste qualquer estudo a respeito. Só a experiência da Guaíra, fundada pelo advogado, jornalista e editor Joseph Oscar de Plácido e Silva nos anos 40, é riquíssima. Chegou a ser uma das casas mais importantes do país, lançando autores internacionais (John dos Passos, Rômulo Gallegos), e grandes escritores brasileiros, muitos dos quais, mais tarde, se integrariam à redação da revista Guaíra, outro capítulo ainda sem memória de nossa imprensa. Recuando-se no passado, há o florescimento editorial do início do século, sobre o qual a professora Cassiana Licia Carollo foi uma das poucas a se debruçar historicamente, ao empreender pesquisas para sua tese de doutorado sobre simbolismo. Newton Carneiro chegou a publicar um belo volume, ilustrado, sobre a liderança que a indústria gráfica teve no país há quase cem anos, especialmente pelo know-how que a imigração alemã trouxe ao estado - e que deixou, inclusive boas heranças, haja visto o bom material que ainda se produz (por exemplo, a "Gráfica", de Oswaldo Mirand Jr., conceito internacional, é totalmente aqui realizada, para surpresa de muitos).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
17/05/1987

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