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Aramis

Criatividade marca o seu novo trabalho

Para quem esperava encontrar em "Remota Batucada", há cinco anos, um disco de uma roqueira apelando para o samba, quebrou solenemente a cara. Mesmo incluindo elementos de rock, as músicas que May ali apresentava traziam um setor de novidade e audácia - razão pela qual o álbum não emplacou nas paradas do sucesso e foi mesmo pouco divulgado nas FMs, insensíveis a projetos mais inteligentes. "Charites", que ganhou lançamento internacional antes do Estúdio Eldorado prensá-lo no Brasil, é outra audácia de May East, que, no fio da navalha, entre a absorção do high tech internacional com as raízes que a levaram a imaginar a estrutura deste álbum no agreste nordestino, representa uma fusão sonora na cabeça de quem é capaz de sensibilizar-se, de igual forma, ouvindo repentistas da Paraíba ou cantores da Ilha de Creta - e em cuja pesquisa inclui músicas das mais distantes tribos africanas, nações nômades dos desertos africanos ou toda a riqueza sonora do Japão e China. Para explicar melhor esta sua visão de um som global autêntico, sem regras de marketing das multinacionais pop, May East diz que em "Charites" (o nome de três divindades femininas da mitologia grega, expressões de beleza, da alegria de viver e da abundância), "o regional e o universal se encontram no instrumental utilizado a serviço da fusão da música modal com os ritmos básicos". Assim, as faixas "Joy in Arcadi" e "Olulu" contam com a participação do percussionista egípcio Hossam Ramey - a primeira partindo da base rítmica do lundu e a segunda do calipso. As duas também contaram com a participação do tecladista sul-africano Ally Van Der Ruyter, também presente em "Beyound Heracle's Pillars", um forró no modo frígio. Já "Uranus" e "Cronus", outra faixa do disco, é um frevo composto no modo lídio e conta com a participação da celista inglesa Emily Burridge. O modo eólio foi utilizado na composição "Rotações", um valsa-pé que conta com a participação do citarista brasileiro Alberto Marsicano - hoje, possivelmente, o único executante deste instrumento dificílimo e que, por anos, na MPB tradicional, teve um grande virtuose - Avena de Castro. O elepê é completado pelo xote "Pujança", parceria com Denise Testuki, que vive em Santos, e por "Homens Solares", esta em parceria com a tecladista Kayaba, radicada em Londres e que participou da gravação de várias faixas. No multinacional grupo que juntou em junho/julho do ano passado, no estúdio Lazzy Moon, para estas gravações, houve também a participação do produtor Jony Galvão no violão espanhol, dos tecladistas Franco Lauteri, Donald Yagi e da própria May East. A primeira audição, o som de May East neste "Charites" pode parecer o new age, que se desenvolveu a partir dos anos 80 na Califórnia e que já chegou em mais de 50 elepês no Brasil. May, entretanto, não admite tal identificação - já que sua proposta, mesmo utilizando uma tranqüila sonoridade, tem "raízes definidas", possuindo a consistência que falta a new age em sua maioria. Difícil definir, a música de May é para ouvir. Com calma, reflexão e muita paz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
15/08/1990

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