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Deboche de Caldas poderá ser sucesso também no Sul

Pelo menos durante três décadas - entre os anos 30 a 50 - raro era o Carnaval que não tinha duas centenas de marchas e sambas disputando a simpatia dos foliões. Folheando-se o referencial "O Carnaval Carioca através da Música", de Edigar de Alencar (Livraria Francisco Alves Editora / MEC, 638 páginas, já em quarta edição), observa-se que nas letras das marchas e sambas se contava a própria evolução do comportamento das populações urbanas, ao menos nos reflexos na então capital federal. Para 1988, conseguimos - após muita pesquisa - identificar apenas nove composições carnavalescas, especialmente feitas para esta ocasião, excluindo-se, naturalmente, os sambas-de-enredo, estes gravados em elepês pela RCA (álbum duplo com as escolas do grupo 1A e álbum simples com as do grupo 2A) e Continental (Escolas do grupo 1A, de São Paulo). A Sigla lançou apenas uma antologia de sucessos consagrados, em novo volume da série "Samba, Suor e Cerveja" e se outras produções fonográficas foram feitas, nem chegaram às lojas. Em algumas capitais - como Porto Alegre e no Nordeste - há, naturalmente, produções específicas. O Carnaval baiano é um caso especial - este ano com o marketing do samba-reggae, encampado pela Continental, que lançou a maioria de quase 40 discos com grupos e cantores baianos, influenciados pelos ritmos do Caribe - tema que vem ocupando espaços nobres da imprensa nacional. Mas é o fenômeno regional - embora com irradiações para outros Estados. Em Pernambuco, o frevo - por seu ritmo e beleza coreográfica - tem toda uma estrutura própria e as gravações da antiga Rozemblite / Mocambo, com clássicos dos mestres Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, 84 anos) e maestro Nelson Ferreira (1902-1976) - ao lado de dezenas de outros autores mais jovens, ocupam toda uma análise a parte (aliás, também pela Sigla, saiu o elepê com as vencedoras da última Frevança, mas é impossível encontrar no Sul esta gravação destinada basicamente ao mercado nordestino). Aparecendo no Carnaval de 1985 com o "Fricote", que inaugurou um novo gênero (sic) - "Deboche", Luiz Caldas, 24 anos, hoje maior estrela do Carnaval - reggae de Salvador, será também campeão de execução nos outros Estados com "Haja Amor", que já havia emplacado no ano passado, mas que só agora se torna realmente popular. Apesar da letra de oito versos, há beleza poética e, sobretudo, o balanço que conquista os foliões. "Eu queria ser uma abelha Pra pousar na tua flor Haja amor, haja amor". Do alto de sua vivência de mais de 50 carnavais, o pistonista Osval Siqueira Dias, paranaense de Tibagi, 68 anos, desde 1946 músico profissional e que está comandando uma orquestra de 16 figuras nos bailes do Círculo Militar, aposta que "Haja Amor" será, entre todas as músicas novas, a de maior popularidade neste Carnaval. Explica: - "O refrão é fácil e tem um apelo romântico". "Na colmeia dos teus sonhos Quero ser teu cantador Haja amor, haja amor!". Osval também aposta que "Sassaricando" (Luiz Antônio, Zé Mário e Oldemar Magalhães), lançado no Carnaval de 1952, estará entre as mais solicitadas nos bailes. A razão é óbvia: o marketing da telenovela que vem sendo apresentada pela Globo. A pobreza de marchas inéditas para este Carnaval é tão grande que até a maior editora, Irmãos Vitalle, em seu álbum, incluiu "Sinfonia dos Tamancos" como lançamento. Acontece que esta marcha de Roberto Martins (Rio de Janeiro, 29/01/1909) foi sucesso no Carnaval de 1944, na voz de Gilberto Alves (Rio de Janeiro, 15/04/1915). De qualquer forma é positivo este engano: talvez assim, os responsáveis pelos conjuntos e orquestras que animam os bailes deste País façam com que a bela marcha seja executada. O problema é que raros serão os que saberão sua letra: "Plac, plac, plac, plac, plac O meu leiteiro Já tem dinheiro nos bancos Plac, plac, plac, plac Ele inventou A sinfonia dos tamancos De madrugada Ele acorda a freguesia Com os tamancos Tocando a sinfonia É Vasco até morrer Só bebe alvaralhão E ainda é sócio De um varejo de carvão". Qual seria o folião jovem que entenderia o que seja "beber alvaralhão" ou ser sócio de um "varejo de carvão". São as coisas do Carnaval do passado, com suas marchinhas que o tempo levou. xxx Assim como a regravação que Gal Costa fez de "Pegando Fogo", de José Maria de Abreu (1911-1966) e Francisco Mattoso, lançada há meio século, estourou no Carnaval de 1982, e, anteriormente, "Festa no Interior" (Fausto Nilo / Noel Silva), também aconteceu no Carnaval, muitas músicas que saíram há meses, sem pretensões maiores, podem acontecer devido a pobreza de novas canções. LEGENDA FOTO 1 - Caldas: "Haja Amor" estoura no Sul. LEGENDA FOTO 2 - Osval: sucesso será o "deboche" baiano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/02/1988

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