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Denise processa governo por quebra de contrato

O mais premiado publicitário do Paraná - e hoje um dos grandes nomes da criação no Brasil - Jamil Snege não consta do processo de Denise. Embora toda a concepção da mensagem de fim-de-ano para o governo Álvaro Dias - prêmio Colunistas, setor projetos comunitários - tenha sido por ele desenvolvido, o questionamento da atriz é em relação a veiculação do mesmo - e não a sua criação, que, ela própria admite, foi admirável. Jaime Brustolim, cineasta, dono da produtora que realizou a peça, foi citado na ação cautelar na condição de contratante (todas as despesas para a realização do comercial saíram através de sua firma), e portanto também não é, diretamente, responsável por sua veiculação. Quanto ao governo do Estado - através da Secretaria da Comunicação Social, foi quem pagou tanto a criação da peça como as despesas de mídia de veiculação. E, portanto, tem a responsabilidade maior. xxx Há bons argumentos em favor do Estado. A veiculação nacional a que se refere Denise teria ocorrido apenas uma vez, na primeira semana de 1988, no horário nobre da Rede Globo, "para ser vista pelos paranaenses que se encontrarem em todo o país", como diz o publicitário Jamil Snege. A repetição do comercial, depois de extinto o prazo legal, deveu-se justamente a sua premiação no concurso Profissionais - e foi graciosa, feita apenas para mostrar mais esta conquista da publicidade paranaense. Aparentemente, não houve intenção de exploração, com fins políticos ou comerciais, do trabalho de Denise. Assim, estranham quem conhece a atriz - hoje o maior nome da mímica no Brasil - a sua decisão de recorrer à Justiça, para exigir uma indenização que se julga merecedora. Em compensação, Denise tem razões para estar magoada com o Paraná. Após fazer a estréia mundial de "Denise Stocklos Encontra Hamlet em Irati", ocorrida há três meses, no Mamma's Theatre, em Nova Iorque - conforme amplamente aqui registramos - pretendia deste espetáculo, a primeira apresentação deste espetáculo. Para tanto, pediu a um de seus amigos de maior confiança, o ator e executivo Christo Dikoff, para encaminhar propostas de patrocínio a Secretaria da Comunicação Social e dez grandes empresas do Paraná. A proposta ao Governo era de 9 mil ORTs, para cobrir totalmente despesas de produção, promoção e apresentação do espetáculo não só em Curitiba, mas em mais cinco cidades do Paraná - inclusive Irati, onde ela nasceu há 39 anos. As empresas privadas, Denise tentava encontrar ao menos uma disposta a patrocinar a promoção em Curitiba. Custo: 2 mil ORTs. Não houve qualquer resposta. Nem a Secretaria da Comunicação Social, nem os empresários contactuados se dignaram a lhe dar qualquer satisfação. Naturalmente, isto a magoou profundamente. Diante da inexistência de patrocínio - mas como já estava com as datas de 25 a 27 de março reservadas no auditório Salvador de Ferrante, Denise decidiu fazer uma temporada de "Mary Stuart" - monopólio que teve estréia mundial em Nova Iorque, no ano passado, com aplausos da crítica (ao contrário do que aconteceu com "Denise Stocklos Unearths Hamlet in Irati") e que, somente havia tido uma única apresentação no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, ainda em 1987. No dia da estréia de "Mary Stuart", 80 pessoas no auditório, Denise teve uma queda de pressão. Seu irmão, o médico João Stocklos, recomendou que suspendesse a apresentação. No dia seguinte, Denise fez duas encenações de Mary Stuart: em inglês, às 17 horas, para 135 espectadores pagantes e, às 21 horas, em português, para 195 espectadores-pagantes (houve mais outros 100, com convites). No dia 27, um domingo, ainda por orientação médica, decidiu cancelar o vesperal mas a noite, 281 espectadores pagaram Cz$ 400,00 para assistir a sua belíssima criação em torno do drama de "Mary Stuart". Em declarações públicas - inclusive entrevistas a jornais - Denise deixou claro, na ocasião, sua insatisfação com a temporada. Estava irritada pela falta de apoio que impediu primeiro a estréia de "Ir-a-Ti". Em segundo lugar, pelo público reduzido que compareceu ao Guaíra para aplaudir um momento de criação que, em Nova Iorque, lotou o (pequeno) Mamma's, em Greenwich Village, durante duas semanas. A decisão de Denise em recorrer a Justiça contra a veiculação da mensagem publicitária por ela interpretada traz prejuízos a todas as partes. Ao governo do Estado, não convém alimentar uma briga - de natural repercussão nacional - justamente com uma paranaense que, exclusivamente graças ao seu talento e criatividade, é hoje nome internacional. Tanto é que será a única brasileira a ter espaço no próximo New York International Arts, que a partir do dia 12 de junho, cobrirá os mais variados setores da arte contemporânea. Para Denise, também não é conveniente uma briga com o governo Álvaro Dias, capaz de lhe fechar, em definitivo, as portas de qualquer auxílio ou patrocínio em futuras produções. Para a classe artística paranaense, uma perigosa questão: se um profissional paranaense, contratado para um trabalho oficial, cria dificuldades, enchem-se de razões as agências que, costumeiramente, preferem buscar nomes nacionais (de outros Estados) para fazer os comerciais das campanhas oficiais. Com isto, deixando de lado os nossos artistas. xxx Portanto, eis uma questão em que por pior que seja o acordo a ser feito, será (muito) melhor do que a mais difundida demanda. Interesse em propagar nacionalmente o affair não falta por parte da grande imprensa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
05/05/1988

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