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Depois da poesia de Manoel, Joel descobre Sucksdorf

O cineasta Joel Pizzini Filho aproveitou bem os dias que passou em Curitiba na semana passada. Começou fazendo uma sessão especial de "O Inviável Anonimato do Caramujo-Flor ou A/C de Manoel de Barros", que lhe valeu três premiações no XXI Festival do Cinema Brasileiro de Brasília. A sessão foi para Sérgio Reis, diretor de marketing do Bamerindus, que confiando no talento de Pizzini, foi quem liberou os recursos que possibilitaram a produção do filme - que ainda não tinha visto. O curta agradou tanto Reis e seus assessores que a Umuarama Propaganda vai cuidar da produção de material para o lançamento deste curta-metragem, começando pelo cartaz que está sendo criado de um óleo de Humberto Espíndola, presidente da Fundação Cultural de Mato Grosso do Sul e o nome mais conhecido das artes plásticas daquele Estado. Mas não foi só com a Umuarama/Bamerindus que Pizzini fez bons contatos. Foi recebido pelo presidente do conselho da Volvo, Karlos Rischbieter, a quem entregou o detalhado projeto para o seu novo filme - "Ave Sucksdorf", média-metragem sobre o importantíssimo cineasta e ecologista sueco que vive no Brasil desde 1963 - há 20 anos em Mato Grosso - inicialmente por 12, no Pantanal, hoje morando com maior conforto em Cuiabá. Naturalmente caberá à alta direção da Volvo examinar o projeto de Pizzini, mas que já conta com o apoio do embaixador da Suécia no Brasil, Christer Kumlin que recentemente levou, em mãos, para Estocolmo, o roteiro para ser analisado por diretores da Rádio e TV Sueca/Svenska Filminstitutet (Instituto Estatal Sueco de Cinema), para o que poderá ser a primeira co-produção entre os dois países. O custo é razoável - ao redor de US$ 370 mil - e pela importância de Arne F. Sucksdorf (ver texto nesta mesma página), existem possibilidades do projeto ser desenvolvido. Para a Volvo se motivar por um novo projeto de cinema dependerá muito a carreira de "Jorge, um brasileiro", de Paulo Thiago, baseado no romance de Oswaldo França Júnior, que, finalmente, terá sua estréia nacional (2 de março, em Curitiba, cines Lido I e Itália) três anos após ter sido rodado. No elenco desta transposição a tela de uma verdadeira saga de caminhoneiros que enfrentam mil e uma diiculdades em estradas sem pavimentação no interior de Minas Gerais, estão dois nomes que devido a telenovela "Vale Tudo" se tornaram conhecidos nacionalmente: Glória Pires (Maria de Fátima) e Carlos Alberto Ricelli (César Ribeiro). Como o filme tem pretensões internacionais - para recuperar os US$ 1,5 milhões investidos - há no elenco um ator americano bastante famoso: Dean Stockwell. A Volvo cedeu os caminhões e ajudou também financeiramente na produção do filme - que poderá inclusive vir a ser apresentado em festivais internacionais. Se viabilizar a produção, a intenção de Joel Pizzini é iniciar as filmagens em agosto, com seqüências no Pantanal. Entretanto estão previstas entrevistas com personalidades internacionais com quem Arne Sucksdorf conviveu em sua vida - entre as quais Ingmar Bergman, em Estocolmo, e Stanley Kubrick ("Barry Lindon", "Nascido para Matar"), que reside em um castelo nos arredores de Londres há 20 anos e é anfitrião de Arne quando ele e sua esposa, Maria, viajam a Inglaterra. Também serão feitas filmagens nos Estados Unidos - o que deslocará a equipe, inicialmente já contando com os dois últimos fotógrafos - Dib Lufti (que foi aluno de Sucksdorf, quando ele chegou ao Brasil) e Chico Botelho. Apesar de sua (aparente) timidez e modéstia, Joel conseguiu importantes apoios - como da Câmara de Comércio Sueco-Brasileira, cujo presidente Carlos Augusto Calil manifestou interesse em editar, sob forma de livro ilustrado, toda a pesquisa que ele vem fazendo. O projeto prevê ainda a realização de uma exposição intinerante de fotografias - com trabalhos de Arne Sucksdorf, cenas do filme, cartazes e cenas dos principais documentários dirigidos pelo cineasta sueco. Mato-grossense de Dourados (13/12/1960), Joel veio a Curitiba em 1980 para estudar jornalismo na Universidade Federal do Paraná. Aqui desenvolveu sua paixão pelo cinema, "rato de cinemateca' que não perdia sessão na sala Arnaldo Fontana do Museu Guido Viaro. Formado, de volta a Campo Grande, assegurou a implantação da Fundação Cultural de Mato Grosso so Sul, que teve o advogado e pesquisador José Octávio Guizzo (que também morou em Curitiba, aqui se formando em direito em 1963) como primeiro presidente. Após algumas experiências na área de produção, Joel empenhou-se na realização de "Caramujo-Flor", livre criação a partir do universo lírico de Manoel de Barros - considerado um dos mais importantes poetas brasileiros, embora desconhecido do grande público pelas reduzidas edições de seus livros e a privacidade que mantém (Almanaque vai publicar, inclusive, uma rara entrevista de Manoel de Barros, concedida com exclusividade a Joel, acompanhado de alguns de seus peomas). O projeto de "O Inviável Anonimato do Caramujo-Flor ou A/C de Manoel de Barros" foi tão bem desenvolvido que Joel conseguiu a participação de um elenco all stars de mato-grossenses famosos - Ney Matogrosso, Almir Satter, Tetê Espíndola, entre outros - além de uma participação especial de Antonio Houaiss, que ao lado de Millôr Fernandes, se coloca entre os maiores admiradores do poeta mato-grossense e que por isto mesmo fez questão de participar do filme. Como a metragem de "Caramujo-Flor" ficou em 21 minutos, Joel terá que fazer uma redução para 13 minutos, de forma a que o seu filme possa ser exibido nacionalmente. Por enquanto, pouquíssimos viram o curta, só mostrado no Festival de Brasília e em sessões especiais. LEGENDA FOTO - Arne Sucksdorf e o cineasta Joel Pizzini: um documentário para mostra a importância deste documentarista sueco que desde 1962 vive no Brasil - há 20 anos em Mato Grosso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/02/1989

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