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Aramis

Depois de "Pelle, o Conquistador", chega "O Urso"

O primeiro dos dez melhores, com certeza, chegou e já foi: infelizmente, mais uma vez, o público curitibano provou que longe de ser aquela platéia refinada e de bom gosto, exigentíssima (sic), é, ao contrário, acomodada e que perde assim o melhor do cinema. Preferindo o vídeo do que a versão 35mm, deixa de ver "Pelle, o Conquistador", do dinamarquês Belle August - Palma de Ouro (Cannes-88), Oscar de melhor filme estrangeiro (1989) - que ficou apenas uma semana no Cine Bristol. Em nossa coluna de quarta-feira ("Tablóide", página 3) falamos sobre a importância deste filme, com uma fotografia das mais belas dos últimos anos do cinema - e que, naturalmente, se perde na versão em vídeo. Um filme humano, profundo, para múltiplas e diferentes interpretações, "Pelle" mereceria ser visto por um público maior. Em substituição, desde ontem, outro dos filmes que poderão emplacar muitas pontuações quando da escolha dos melhores 90: "O Urso", de Jean-Jacques Annaud ("A Guerra do Fogo", "O Nome da Rosa"), que há mais de um ano vem sendo aplaudido internacionalmente. Com apenas 10 minutos de diálogos entre os seus mínimos personagens humanos, apenas três, interpretados por Jack Wallace, Tcheky Karyo e André Lacombe - este é um filme sobre animais, especificamente sobre uma ursa e seu filhote. Longe, entretanto, de ser um documentário em longa-metragem na linha do "Maravilhas da Natureza" com que Walt Disney encantava platéias nos anos 50 ou apenas um manifesto ecológico, trata-se de uma produção originalíssima, na qual Arnaud se empenhou por muitos anos, desenvolvendo-a, inclusive, durante a realização de "O Nome da Rosa", filme que o consagrou internacionalmente. Em outro texto, falamos mais especificamente a respeito deste filme destinado a platéias de todas as idades e que, sinceramente, esperamos, não fique apenas uma semana em cartaz - mas, isto sim, permaneça por mais de duas em cartaz. Afinal, "O Urso" ainda não saiu em vídeo e assim os comodistas terão que ir até o Cine Bristol para assistí-lo. Os Filmes da Pandora - Em novembro do ano passado, quando a Fucucu alardeou aos quatro ventos o "ineditismo" do restolho da XIII Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ao custo de Ncz$ 250.000, 00 pela exibição de 19 filmes (dos quais 7 curtas) se realizou no Cine Ritz, lamentamos que justamente muitos dos melhores filmes levados à capital paulista não tivessem sido "selecionados" (por quem?) para a extensão curitibana paga tão generosamente pelos cofres públicos - via Banestado. O mais estranho é que dos filmes que vieram a Curitiba, a maioria era de produções que já haviam sido previamente negociados com uma nova distribuidora, a Pandora Filmes, do curta-metragista André Sturn, e que, assim, chegariam normalmente ao circuito exibidor. Agora, confirma-se aquilo que aqui dissemos: em segunda semana no Cine Ritz, "A Pequena Vera", do russo Vasili Pitschul, foi uma das produções mais badaladas do restolho da mostra, já que vinha precedida do fato de ter sido uma obra polêmica na URSS, ao abordar conflitos de jovens (temática, aliás que se tornou comum, prova disso foram inúmeros outros filmes russos levados ao FestRio). Nascida do desenvolvimento do Centro de Atividades Cinematográficas Alex Viany, a Pandora Filmes pretende trabalhar com filmes de arte, que normalmente não encontram distribuição no Brasil e, assim, já tem programadas obras-primas como "Vozes Distantes" (Distant Voices, Still Lives), Inglaterra, 87, de Terence Davies (prêmio da crítica internacional em Cannes-88; melhor filme em língua inglesa, 89; visto no FestRio 88, quando aqui o comentamos); "O Estado de Coisas", de Wim Wenders e "Sugarbaby" de Percy Adlon (ambos disponíveis em vídeo, há meses) e "The Angelic Conversation", de Derek Jarman. Mas há os filmes que vieram para restolho da mostra, em Curitiba, e que já tem sua distribuição comercial assim assegurada - "O Filósofo", de Rudolf Thorme; "Eu Sou o Senhor do Castelo", de Regis Wargnier, "Cidade Zero", de Karen Chakhnazarov; "Não Amarás", de Krzystof Kieslowski e "A Pequena Vera", agora em exibição. Espera-se que André Sturn exija da Fucucu, que terá, ao que consta, exclusividade no lançamento de seus filmes, melhor tratamento promocional: "Pequena Vera" foi lançado sem o envio de uma única foto. Outras Opções - Com a desculpa de que se realiza no Solar do Barão um curso de música de verão, o Groff programou desde ontem reprises de filmes com temas ligados à música: começou com a ópera filmada "A Flauta Mágica" (Die Zauberfloete), da obra de Mozart, realizada em 1975. Hoje, outra ópera na tela, "Otelo", na ótica de Franco Zeffireli, de 1986, com Plácido Domingo e Teresa Stratas. Amanhã "Dom Giovanni", a belíssima transposição da ópera de Mozart que o inglês Joseph Losey fez em 1979 com Ruggero Raimondi e Kiri Te Kanawa - hoje uma soprano admiradíssima e cultuada mesmo por circuitos obrigatoriamente não líricos. Domingo um belo documentário sobre o pianista Arthur Rubinstein - "O Amor e a Vida"; segunda-feira, "O Maestro" (Drygent), que o polonês Andrzej Wadja fez em 1979, com o inglês Sir John Gielgud numa interpretação notável. "Sinfonia da Primavera" será exibido na terça-feira e "Aria" de vários diretores, encerra a semana. Os demais programas continuam inalteráveis: rendas satisfatórias garantem a continuidade dos filmes em exibição (ver relação na página central do ALMANAQUE). No Palace-Itália, tão logo o excelente "A Insustentável Leveza do Ser", de Phillip Kaufman, deixar de ser exibido, será substituído por outro filme de ótimo nível: "Bagda Café", de Percy Adlom. LEGENDA FOTO - Na esteira de questões ecológicas, um belíssimo filme para ser visto por adultos e crianças.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
12/01/1990

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