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Aramis

Depois do concerto

Ao perceber que o convite recebido para jantar após o seu concerto de segunda-feira, no Guaíra, poderia ajudar a badalar publicitariamente o endereço mas, inevitavelmente o cercaria de incomodativos "admiradores" - a tal ponto que iria acabar sendo solicitado a tocar gratuitamente, o pistonista Harry James preferiu recolher-se ao Hotel Mabu, logo após o término do espetáculo. Extremamente simpático e atencioso. James aprecia um bate-papo sobre música, desde que seja com pessoas realmente interessadas em seu trabalho, capazes de diferenciar o tipo de som que faz daquele produzido por Ray Conniff, por exemplo. O baterista Sonny Payne, 52 anos - mas aparentando pouco mais de 30, o grande destaque dos dois espetáculos que a banda apresentou em Curitiba (Curitibano, no domingo; Guaíra, segunda-feira), junto com o excelente tecladista Norman Parker, mostrou uma dezena de tapes em que atuou ao lado de artistas como Frank Sinatra e Count Bassie, numa reunião muito exclusiva, que se estendeu até madrugada. A extrema simpatia dos dois músicos foi ao ponto de, após a reunião, ambos insistirem em ajudar na limpeza dos cinzeiros da sala, explicando: "é o costume nosso, de músicos civilizados e que somos recebido sempre nas melhores casas em todo o mundo". Aliás, todos os integrantes da orquestra de Harry James deram um exemplo que deveria servir aos nossos "estrelas" musicais: após os shows, eles próprios cuidam de guardar os instrumentos, fechar as malas e auxiliar a equipe encarregada de transportar o material para outra cidade. Todos, sem exceção, acreditam que cada minuto deve ser respeitado e a cada uma das pessoas que integram o staff cabe um respeito máximo dentro de sua obrigação. Não há reclamações, cada um faz exatamente aquilo que lhe cabe, entendem a situação particular de cada local e ocasião. Esta é uma das razões pela qual Pee Wee Monte, 65 anos, dedica-se integralmente há 39 anos a administrar a orquestra de Harry James, que continua com excelente fôlego, mantendo sua banda tão harmoniosa como na década de 40. Só que sem procurar falsas "atualizações", mantendo-se fiel ao espírito das big-bandas da melhor fase da música orquestral americana. xxx Como havia ocorrido anteriormente com os concertos de Horace Silver, um dos melhores pianistas do mundo e do baterista Art Blakey & Jazz Messengers, o grande auditório do Guaíra estava com pouco mais de sua lotação. Entretanto, o espetáculo de segunda-feira foi com um grupo que tem viajado por todo o mundo, inclusive instrumentistas do maior prestígio e, nas grandes cidades (como ocorreu no Rio, onde farão concertos extras na próxima semana, tal o sucesso obtido) tem sempre tocado para platéias lotadas, Aqui, pelo visto, somente a badalação social é capaz de fazer com que o público compareça a espetáculos estilo Ray Connyff! Logo, ninguém poderá se queixar quando, no próximo ano, instrumentistas como George Shearing e mesmo Count Bassie e orquestra (se aceitarem a propostas de virem ao Brasil) passarem diretamente de São Paulo para Porto Alegre e Buenos Aires. E antes que alguém reclame o preço dos ingressos é bom lembrar: em média, qualquer concerto com uma orquestra tipo Harry James não custa menos de US$ 10 dólares, seja onde for. Logo ...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
25/10/1978

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