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Aramis

Desemprego, a ameaça que o homem constrói.

Esta passando despercebida a presença em Curitiba, desde domingo, de uma das maiores autoridades mundiais no campo de recursos humanos. Hoje pela manhã, quando fizer sua palestra no Centro de Treinamento do Magistério, dentro do XII Seminário Brasileiro de Tecnologia Educacional, o professor Aloisio Pimenta, diretor da divisão de pessoal do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington, estará fazendo algumas revelações das mais interessantes em torno do assunto em que é especialista há uma década. Embora formado em química orgânica e ex-reitor da Universidade Federal de Ninas Gerais da qual é ainda professor, embora licenciado, Aloisio Pimenta reside há 15 anos no Exterior, desde 1970 em Washington. Técnico de alto nível do BID, passou a ocupar a direção do departamento de pessoal, numa atuação que lhe permite auferir a questão em nível internacional já que hoje a instituição tem atuação em mais de 40 países. A propósito de um dos temas que mais motiva debates nos dias de hoje e que merecerá reportagem especial na revista "Visão" dentro de alguns dias o desemprego de profissionais de nível universitário, Aloisio Pimenta tem uma visão muito realista: no Brasil, o que ocorre é uma crise artificial. Ou seja, se existe desempregados com títulos universitários, especialmente da área de ciências sociais e humanas, ou das ciências médicas ou tecnológicas, é porque continua a existir o conceito de permanência nas grandes cidades estas sim, sufocadas em alguns quadros profissionais. Mas o fenômeno não é exclusivamente do Brasil: nos Estados Unidos, que conhece profundamente, Pimenta já esteve em algumas pequenas cidades, onde existem modernos hospitais mas sem médicos, que se agrupam ainda ao redor das megalópolis como Nova Iorque ou Los Angeles. Xxx Mineiro de São Sebastião dos Patos, 57 anos, com uma grande visão humanista e consciente da nova realidade na área das comunicações (videocassete, videodisco e, agora, o tele-texto), Aloisio Pimenta se preocupa também com a super especialização de alguns setores, como a medicina. Se de um lado a especialização traz um desenvolvimento técnico, possibilitando pesquisas e avanços no combate a muitas doenças, por outro torna a medicina cara e eletista. E o aspecto mais grave é o desaparecimento do clínico geral, o médico capaz de fazer um diagnóstico e um tratamento a uma pessoa que apresenta problemas de saúde mas que não necessita, obrigatoriamente, gastar o que tem e o que não tem na via crucis dos especialistas. Embora não se pretenda mais a imagem do "médico da roça", humanista, idealista e que honrava o juramento de Hipócrates, como os personagens criados pelo romancista inglês J. A . Cronin (1896-1941), também a especialização em demasia e o desaparecimento do médico da família, clinico confiável e que antes de pensar nos lucros se preocupava com os doentes, é um fato real. E este fenômeno vem acontecendo em muitas sociedades desenvolvidas ou em desenvolvimento criando aparentemente, a imagem de desemprego para profissionais de nível superior, quando, na verdade, o que ocorre é uma distribuição errada, com concentração exagerada de especialista em alguns centros e ausência total em outros. Xxx A lucidez de Pimenta em relação aos programas de desenvolvimento de recursos humanos na América Latina lhe permite fazer colocações exatas e inteligentes, lembrando que o lado técnico não invalida o lado humano. As novas tecnologias que eliminam o trabalho humano devem fazer com que os homens do poder repensem as fórmulas de aproveitar a energia de cada um, distribuindo melhor os horários e possibilitando maiores horas de lazer, que se revelarão como positivas para o engrandecimento cultural e pessoal de cada um. O desemprego é um monstro ameaçador. Só nos estados Unidos, com uma população de 50 milhões de pessoas ativas, há cerca de 7 milhões desempregados. O governo garante a cada um salário-ano ao redor de US$ 7,200, o que corresponde a uma renda mensal ao redor de Cr$ 36 mil (US$ 600). "Mas o que sai mais barato?", indaga Pimenta, "manter estes desempregados, a este custo, ou tentar lhe dar ocupação". Afinal, paralelamente à questão financeira já que o seguro-desemprego desembolsa milhões de dólares anualmente o desempregado é um frustrado em potencial, sujeito ao vício, ao desajuste familiar e psicologicamente propenso a criminalidade. Uma realidade terrível, características da sociedade capitalista e que tende a crescer frente as novas tecnologias que eliminam o trabalho humano. Frente a tais fatos e números que, com maior ou menor confiabilidade existem em todos os países é que os técnicos do nível de Aloisio Pimenta se preocupam. No momento em que o homem consegue criar máquinas que eliminam o seu trabalho, isso deve significar uma etapa para o bem-estar e progresso de todos - e não o desemprego de milhares de pessoas. Há 30 ou 20 anos passados, quando a tecnologia ainda não havia atingido sequer 50% do desenvolvimento deste nosso aterrador "mundo novo" (como profeticamente previa há 48 anos o escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963), não se imaginaria que ao construir uma máquina, o operário ou técnico estaria muitas vezes assinando o seu próprio pedido de inscrição na legião dos desempregados. Reflexões a este respeito tornam-se necessárias de serem feitas e a preocupação de executivos como Pimenta, uma das mais respeitadas cabeças do BID, de amplo transito em Washington não deve ser apenas de alguns. Deve motivar a todos, para que se encontrem soluções reais e a curto e médio prazo. Sob pena de conseqüências piores advirem. Xxx D ESDE sexta-feira uma amostragem da visão infantil em relação a estrada está em exposição no Grupo escolar Omar Sabbag. Os cartazes mais representativos do segundo concurso nacional promovido pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem foram levados aquele estabelecimento de ensino, onde, na semana passada, o engenheiro Milton Derviche, chefe do serviço de educação de trânsito do 9o Distrito Rodoviário Federal, expôs as finalidades da promoção. Cerca de 25 mil cartazes, vindos de todo o Estado, concorreram a seleção estadual. Uma comissão julgadora, formada por Dervich, Arnaldo Posselt - chefe da patrulha Rodoviária, sargento Amaro Martins Neto (Beptram), professoras Regina Célia Junkoski, Ruth Sass. Isabel Moreira Fortes e Martlena Bezerra Silva, da Prefeitura e Secretaria da Educação, apontaram os três primeiros trabalhos. Em primeiro lugar ficou o cartaz criado por Guilherme José Gomes, 10 anos, aluno da 4a série da Escola Professor Amalio Pinheiro, de Ponta Grossa: em segundo, Fuvio Natelio Faiber, 12 anos, aluno da 6a série do Instituto Santa Cruz, de Campo Mourão e em terceiro, Vera Lúcia Teotonio da Silva, 12 anos, do 6o ano do Colégio Estadual Olavo Bilac, de Ibiporã, Guilherme receberá uma bicicleta e seu trabalho, bem como os de Fuvio e Vera Lúcia concorrerão a finalíssima, no Rio de Janeiro, que dará prêmios de viagem aos seis primeiros classificados. Este ano, houve um prêmio especial oferecido pelo comércio de Ponta Grossa, ao melhor trabalho de criança daquela cidade. Foi escolhido o cartaz feito por Isabel Cristina Paiva Macieli, 10 anos, aluna da 3a série da Escola Municipal Zaira Catapreta Melo. Ela receberá também uma bicicleta. O nível dos trabalhos selecionados é considerado bom, dentro da temática da promoção: "A criança e a Estrada". Xxx IGNÁCIO DE LOYOLA, jornalista de larga quilometragem e hoje também um dos mais respeitados escritores brasileiros (seu "Zero", proibido alguns anos no Brasil, já tem edições em vários países), estará em Curitiba amanhã. Vem a convite Do Diretório Acadêmico Rocha Pombo do Paraná para o lançamento de "Segundo ato", volume que reúne os poemas e contos premiados no concurso promovido pelo DARPP. No ano passado foi Thiago de Mello que esteve na edição do "Primeiro Ato" e o sucesso animou os estudantes a contactarem com outro nome de expressão nacional. O autor de "Dentes ao Sol" aceitou o convite e sua presença será a oportunidade para uma troca de idéias com um homem que se dedica às letras com garra e consciência política, fazendo de cada novo livro uma visão correta de seu mundo e sua época. Ex-crítico de cinema da "Última Hora", editor das melhores revistas da Abril, com muitas viagens ao Exterior, Loyola já teve pelo menos dois de seus textos levados ao cinema: "Anuska, Manequim e Mulher", em 1968, marcou a estréia do talentoso Francisco Ramalho Júnior; "Bebel, Que a Cidade Comeu", uma dilacerante crônica da falsidade no mundo de uma "cover girl" foi o filme de estréia tanto de Maurício Copovilla como da hoje milionária atriz (e produtora inclusive) Rosana Ghessa. A programação de lançamentos de "Segundo Ato" terá também música a cargo dos grupos Alla Breve e Ecos, além de leitura dramatizada de poemas do livro, que reúne trabalhos de 20 jovens, com apenas quatro mulheres: Gleuza Maria Salomon, Josely Maria Baptista, Laura Jesus de Moura e Costa e Marlise de Cássia Bassfeld. O secretário Luís Roberto Soares, da Cultura, leitor dos textos de Loyola há muitos anos e que inclusive seu "Cães danados" e "cadeiras Proibidas' com obras favoritas, fez questão que a entrevista fosse coletiva do escritor fosse marcada para o seu gabinete. Às 15 horas de amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
10
27/11/1980

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