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Aramis

Dino redescobriu a linguagem proibida

O objetivo inicial de Dino Preti em "A Linguagem Proibida" era o de analisar a gíria como uma das manifestações da cultura popular, num dado momento histórico, a partir de um levantamento significativo do material lingüistico em revistas e jornais humorísticos de cunho popular. No entanto, a descoberta do "Dicionário Moderno" (1903), de Bock, deu uma outra dimensão ao seu trabalho. Com efeito, o exame do "Dicionário" assegurou a Dino Preti que não se tratava de uma simples coleta de termos obscenos, mas da representação de vários processos formais (entre eles o vocabulário gírio) para expressar o conteúdo cômico-fesceniano de uma época. O resultado é um dos livros mais interessantes para quem se interessa por lingüistica e comunicação - "A Linguagem Proibida" (T. A. Queiroz, editor, 196 páginas, edição ilustrada) incluído como volume 6 da Biblioteca de Letras e Ciências Humanas que o professor Alfredo Bosi, da Universidade de São Paulo, vem orientando para o editor Queiroz. O estudo da linguagem erótica, diz Dino Preti, "Situa-se no campo dos tabus lingüisticos morais e abrange áreas sobre as quais, quase sempre e por motivos óbvios, se tem preferido calar, como, por exemplo, dos vocábulos obscenos e dos palavrões e blasfêmias da gíria e do discurso malicioso". O pernambucano Mário Souto Maior, incansável pesquisador de cultura popular e diretor do Centro de Estudos Folclóricos do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, em Recife, teve seu interessantíssimo "Dicionário de Palavrões e Termos Afins" proibido durante anos pela Censura, até que conseguiu a liberação desta básica obra referencial. Dino Preti, encontrando um raro exemplar do "Dicionário Moderno", publicado em 1903 por um anônimo Bock, se entusiasmou pelo trabalho que, para a época, representava um corajoso estudo não só da gíria, mas do conteúdo cômico de chamada imprensa fescentiana, ou sejam os tablóides de caráter erótico e obsceno (para a época) que surgiram no final do século XIX e princípios deste século no Rio de janeiro. Correspondiam, guardadas as proporções, ao que "Pasquim" e, agora, "O Planeta Diário" fazem em nossos dias, mas possivelmente até com mais verve. O autor do "Dicionário Moderno", que se escondia com o pseudônimo de Bock (uma marca de cerveja famosa na época) era o alagoano José Ângelo Vieira de Brito (J. Brito), redator de um dos principais tablóides humorísticos da época. "O Coió", periódico cômico-erótico, surgido no Rio de Janeiro, em 1901. Assim, ao lado do aspecto lingüistico oferecido por Dino Preti, este livro representa uma contribuição para se conhecer uma imprensa alternativa que existia há mais de 80 anos passados - provando de que os chamados "nanicos", que proliferavam nos últimos anos, não eram tão originais assim. O volume inclui uma documentação iconográfica visando a complementar a idéia que se pretendeu construir do contexto social e jornalístico em que surgiu o "Dicionário Moderno", reproduzido integralmente nesta edição. Uma obra de marcante interesse para as áreas de Lingüistica, Letras, Sociologia, História e Jornalismo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
27
10/02/1985

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