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Do "Satyrycon" felliniano às histórias de David Byrne

Do "Satyrycon" felliniano às histórias de David Byrne O ano começou com força total no mercado de vídeo. Dezenas de lançamentos - de mediocridades plenamente dispensáveis a filmes de qualidade - fazendo ampliarem-se as opções nas locadoras, para um público cada vez maior. Vamos a rápidos registros de alguns lançamentos recentes. SATYRICON DE FELLINI Um mergulho na Roma dos cesares neste filme um pouco estranho dentro da obra do mais genial cineasta italiano - e entre os cinco melhores gênios do cinema contemporâneo. Na época em que o filme foi lançado (1969) houve muito escândalo - aliás como, em 1959, já havia cercado "A Doce Vida". Hoje, as intrigas palaceanas, o homossexualismo de alguns personagens e a sensualidade das cortesãs (interpretações das magníficas Magali Noel, Tany Lupert, Donyale Luna, Capucine - todas ao esplendor de suas belezas) hoje parecem até ingênuos. Para os fãs de Fellini um vídeo indispensável. WARNER VÍDEO. AMARGO REGRESSO Tendo valido a Jon Voight a Palma de Ouro de melhor ator em Cannes, há 12 anos, "Coming Home" teve várias indicações ao Oscar. Um filme explosivo na época, tocando o dedo na (então recém-encerrada) guerra do Vietnã, esta produção de Jane Fonda, dirigida por Hal Ashby emocionou meio mundo. A fotografia, do mestre Haskel Wexler, talvez perca um pouco na redução para a telinha mas assim mesmo vale a pena conferir. WARNER VÍDEO. GENTE DIFERENTE Eis um exemplo de filme que perde muitíssimo ao ser visto no vídeo. A fotografia de Chris Manges ("Os Gritos do Silêncio", "A Missão"; diretor em "A World Apart", sobre o apartheid na África do Sul, até hoje inédito no Brasil, era um dos pontos altos deste drama sobre uma jornalista (Jill Clayburg) que com sua filha adolescente vai procurar perguntar nos everglades da Louisiana. As nuanças de cores e iluminação, que na projeção em 35mm, ganhavam muito, devem estar prejudicadas na cópia em vídeo - mas como o filme só ficou duas semanas no Palace Itália, "Shining People" do diretor russo (radicado nos EUA) Andrei Konchalovski sempre é uma opção - principalmente porque em 35mm não retornará mais. AMERICA VÍDEO. HOMEBOY A trilha sonora com música do guitarrista pop Eric Clapton foi lançada em elepê da EMI-Odeon há alguns meses mas até agora ninguém se animou a exibir "Homeboy" no Brasil. Assim a Lock Vídeo, astutamente, comprou seus direitos para colocá-lo em vídeo, já que o nome principal do elenco é de Mickey Rourke, hoje um cult-astro após "Nove Semanas e Meia de Amor". O tema é bem americano - o box e a amizade entre um grupo de jovens - e o filme (que custou US$ 7 milhões, financiado em parte por Rourke) teve boas críticas na Europa mas fracassou nos EUA. Rourke aproveitou a produção para lançar a sua amante da época, Debraud Fauer (que havia feito uma ponta em "Viver e Morrer em Los Angeles", de William Frisdkim) no papel central. No elenco de suporte, um ótimo coadjuvante - Christopher Walkin. A conferir, por quem disponha de tempo. LOCK VÍDEO. A ARMADILHA DE VÊNUS Excitante, sensual, sucesso de público (permaneceu mais de um mês em cartaz quando ainda fazia boa bilheteria). "Die Venusfalle" é um filme que muita gente curte. Robert van Nokere, já conhecido por "Uma Mulher em Fogo", veio ao Rio, no V FestRio 88, trazendo a tiracolo a belíssima Sonja Kirchberger, atriz deste filme sobre as indecisões amorosas de Max (Horst Gunther), um médico de 30 anos, envolvido com diferentes mulheres. Boa linguagem, inteligente e excitante, um programa ideal para estimular jogos sexuais após a projeção. LOOK VÍDEO. A SEGUNDA VITÓRIA A II Guerra Mundial continua a motivar produções mais (ou menos) bem acabadas. É o caso desta história ambientada no inverno de 1945, quando a guerra se aproximava do final. Produção inglesa, com Anthony Andrews, Max von Sydow, Helmut Griem, Mario Adorf, Wolfgang Reichman e outros artistas de vários países, tem direção de Gerald Thomas, veterano realizador do cinema inglês (começou como assistente de Laurence Olivier em "Hamlet"). O roteiro é de Morris West, o escritor australiano que ficou famoso como "O Advogado do Diabo" e virou uma mini-usina de best-sellers dos anos 60. LOOK VÍDEO. HISTÓRIAS VERDADEIRAS Exibido há quatro anos no encerramento do III FestRio, "True Stories" foi prejudicado em sua distribuição comercial no Brasil. Realizado por David "Talking Heads" Byrne, é, entretanto, um dos mais inquietos e criativos filmes do moderno cinema americano, ambientado numa cidade (meio imaginária) do Texas, com histórias absurdas, toques de Kafka, mas com muito bom humor. O filme também deve perder na redução para o vídeo, pois na tela ampla já a seqüência inicial - uma figura solitária contra o horizonte pleno e o deserto - tinha um sentido filosófico. As histórias são autônomas mas se interligam de forma inteligente e na trilha sonora - naturalmente com os Talking Heads e várias composições de Byrne - foi usado até como tema incidental a "Festa para um rei negro" do carnavalesco Zuzuca. Um excelente lançamento. WARNER VÍDEO. VÍDEOS INFANTIS Um dos gêneros mais procurados nas locadoras, não só nos feriados mas durante todo o ano, é o de vídeos infantis. Por isto, mensalmente novos títulos chegam nas locadoras. A Look lançou "Ursinhos Carinhosos no País das Maravilhas", de Raymond Jafelice, desenho de longa-metragem, com canções de John Sebastian e Natalie Cole (filha do grande Nat King Cole) que, em versão 35mm, foi desperdiçado pela Columbia no distante (e pouquísismo frequentado) Cine Guarany, no Bairro do Portão. Agora, em vídeo, deve atingir um público mais amplo. A Warner, que dispõe de um excelente acervo de desenhos animados, traz novas seleções de personagens simpáticos e comunicativos - populares dos anos 40/50, mas devidamente reciclados - em "Corta Essa Ceguinho" (Porky Pig's Screwball Conedies) e "As Aventuras Fedorentas de Pepe Le Pew" (Pepe Le Pew's Skunt Tales).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
22/02/1990

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