"Doida Demais" fica só na expectativa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de junho de 1989
Claudinho Pereira, jornalista, tv-man, animador cultural, idealizador de inúmeros eventos culturais (atualmente prepara o I Encontro Nacional da Poesia) no Rio Grande do Sul, é também um humorista nato. Sempre ao lado de sua linda esposa, a Preta, são presenças animadas no Festival de Gramado. E foi Claudinho, com sua irreverência, que após a apresentação de "Doida Demais", encerrando a mostra competitiva, cunhou algumas adjetivações ao filme de Sérgio Rezende:
- "Que tal, você gostou de "Nove Semanas e Meia no Agreste" ou a "Totalmente Demais" no "Barreiras-Texas"? - perguntava.
A irreverência das citações tinha sua razão: "Nove Semanas e Meia de Amor", "Totalmente Selvagem" ou "Paris-Texas" jamais serão admitidas, ao menos publicamente, por Rezende, como influências em seu filme. Mas para os críticos mais irônicos - e mesmo para a platéia mais (in)formada - os filmes de Alan Lyne ("9 ½ Weeks"), Jonathan Demme ("Something Wild") e Wim Wenders ("Paris-Texas") podem ser lembradas como referencial a "Doida Demais" - originalmente "Eu sem Juízo, Ela Doida Demais" - que teve o título reduzido "porque era muito longa e criaria dificuldades para sua comercialização". De uma idéia original do próprio Rezende, trabalhada como argumento com ajuda de Carlos Gregório (ator no filme) e Jorge Duran (que fez o roteiro final), o filme decepcionou aos que admiram o talento de Sérgio Rezende, que desde o seu primeiro longa ("O Sonho não Acabou") vem numa carreira crescente: o corajoso documentário "Até a Última Gota" e "O Homem da Capa Preta", que levou vários Kikitos em 1986.
Uma trama sobre o envolvimento de uma bela falsificadora de quadros, Letícia (Vera Fischer), que com seu ex-amante Noé (José Wilker) e Álvaro (Carlos Gregório), perito respeitado no mercado de artes, armam uma jogada para enganar um comendador (Ítalo Rossi), colecionador de artes plásticas.
O blefe é descoberto e Noé, homem de confiança do comendador, é encarregado de buscar Letícia - por quem nutre uma grande paixão. Nestas alturas, ela fugiu para o interior da Bahia, em companhia de um novo amante, o piloto Gabriel (Paulo Betti), que também vem de envolvimento criminoso na Serra Pelada. Se na primeira fase o filme ainda conserva certa verossimilhança, a partir da fuga de Gabriel e Letícia pelo Interior da Bahia, em Barreiras, o non-sense toma conta dos personagens - o que somado a um grande erotismo entre o casal de amantes fugitivos, faz com que a comparação brincalhona de Claudinho Pereira a "Nove Semanas e Meia de Amor" e "Totalmente Selvagem" tenha sua procedência. Produção requintada, com amplos recursos (um dos quatro projetos cinematográficos bancados pela Ciinvest / Multiplec, cujo presidente, Paulo César Ferreira, presente em Gramado, anunciava novas produções), "Doida Demais" talvez até funcione em termos de público - principalmente porque sua estréia no circuito comercial será antecedida de uma maciça campanha publicitária. Entretanto, na primeira visão, não trouxe o entusiasmo de quem esperava muito mais.
LEGENDA FOTO - Vera Fischer, provocativa e insinuante em "Doida Demais".
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