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Aramis

Dois alemães que mapearam a flora e fauna do Brasil

"Ressoam aqui, na mais alvoroçada celeuma, chiados e gorjeios sem fim dos mais diversos gêneros de aves, e, quanto mais observamos o raro espetáculo, tanto menos vontade sentimos de perturbar aquele cenário pacífico da natureza". (Spix e Martius, 1820) O botânico Carl Friedrich Philipp Von Martius (Erlanger, Baviera, 17/4/1794 - Munique, 13/12/1868) e o zoólogo Johann Baptista Von Spix (1781-1826) vieram para o Brasil, em 1817, a convite de D. João VI, para assistir ao casamento de uma de suas filhas, embora o interesse maior do monarca português fosse de que eles fizessem o primeiro levantamento científico das espécies da flora brasileira. Afinal, D. João nem podia ouvir o nome de outro notável botânico alemão, o barão Friedrich Heinrich Alexandre von Humboldt (Berlim, 1769-1859), que fez viagens por países da América Latina, catalogando mais de 60 mil espécies, mas que nunca passou da foz do Rio amazonas. É que Humboldt era francófilo e a corte de D. João havia sido expulsa de Portugal pelas tropas de Napoleão, de forma que jamais permitiu o seu ingresso no Brasil do início do século XIX. Martius, que aqui chegou com 23 anos (Spix era 13 anos mais velho), passou três anos percorrendo o país, chegando até o Alto Amazonas, reunindo material - catalogando mais de 20 mil espécies nativas - que lhe permitiriam escrever vários livros, o primeiro dos quais, "Viagem pelo Brasil", publicado na Alemanha em 1823 e editado no Brasil somente 115 anos depois. Juntos numa primeira fase da missão, acompanhava o pintor naturalista Theodoro Ender, que registrou em aquarelas e bicos de pena paisagens notáveis do desconhecido Brasil da época - destacando a flora e fauna. Martius, de volta à Alemanha, foi nomeado professor da Universidade de Munique (1826), e, seis anos depois, diretor do jardim botânico daquela cidade. Tendo sobrevivido a Spix por 40 anos - com quem publicou "Reise in Brasilien" (1823-1831), von Martius dedicou ao Brasil vasta e a proveitosa atividade científica. Sua maior realização foi a monumental "Flora Brasiliensis", que iniciou em 1840 e dirigiu até 1868. Depois de sua morte, foi continuada por outros colaboradores, sendo concluída somente em 1906. A obra em 15 volumes, com 20.773 páginas e 33.811 gravuras, classifica 850 famílias com mais de 6 mil espécies descritas. Fruto de viagens que fez a partir de sua chegada (15/7/1817), inicialmente por São Paulo, depois permanecendo vários meses na província de Minas Gerais e entrando sertão a dentro fazendo contato com índios antropófagos e subindo o Rio São Francisco chegou ao Interior de Goiás. Atravessou a Bahia, Pernambuco e transpondo a serra Dois Irmãos visitou as províncias do Piauí e Maranhão. Partindo de Belém do Pará subiu o Rio Amazonas, terminando sua viagem em Santarém, de onde embarcou e retornou à Europa. Interessados em música, Martius e Spix recolheram também "Canções Populares Brasileiras" - Lundus, modinhas, melodias indígenas etc. - registradas em sua linha melódica, mas que, quando publicadas na Europa ganharam roupagem nova, "mais adequada a realidade musical da Europa Central" como anotou a cantora e pesquisadora Anna Maria Kieffer, que há dois anos, pelo Estúdio Eldorado, gravou o excelente álbum documental "Viagem pelo Brasil", acompanhada por Gisela Nogueira (viola de arame), e Edelton Gloeben (guitarra), em produção de seu marido, o cineasta Rodolfo Nanni. LEGENDA FOTO - Von Martius, o grande naturalista alemão, que durante 3 anos viajou pelo Brasil e que deixou imensa obra sobre a natureza em nosso país.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
12/01/1992

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